Brasil Econômico

Hoje em dia a pirataria digital é um grande problema para as empresas. Um caso emblemático e recente de pirataria envolvendo a  sétima temporada de Game Of Thrones pode ser utilizada para exemplificar. A produção norte-americana teve o quarto episódio da temporada vazado antes da exibição original, e diversos outros vinculados gratuitamente na rede minutos após a transmissão em canais pagos. A HBO, empresa responsável pela série, estimou o seu prejuízo em milhões.

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Por esse ser um problema bastante recorrente, em 2014 a União Europeia teria contratado a agência de pesquisas holandesa Ecorys para analisar como a pirataria afeta as vendas de produtos protegidos por leis de direitos autorais. O estudo, que teria custado cerca de 360 mil euros (pouco mais de 1 milhão de reais), terminou em maio de 2015. O resultado, por algum motivo, nunca foi publicado. Até sexta-feira (22), quando a ciberativista e parlamentar europeia, Julia Rede, divulgar o documento em seu blog pessoal. 


Capa do estudo, entitulado:
Reprodução/ Julia Reda
Capa do estudo, entitulado: "Estimando as taxas de deslocamento de produtos protegidos por direitos autorais".



O relatório de 300 páginas analisou o comportamento das pessoas para determinar se elas comprariam ou não o conteúdo pirateado. Um exemplo dado pela pesquisa seria o seguinte: uma pessoa que pirateou um pacote de 500 livros e que pagaria facilmente 100 euros por apenas um deles, mas não pagaria 50 euros por todo o pacote. A conclusão tomada pelo estudo é de que boa parte do conteúdo não seria adquirido pelo usuário se a venda ilegal ou copia não autorizada não fosse uma opção. Dessa forma, obras menores, com menos divulgação, não teriam suas vendas afetadas pelos produtos pirateados. O problema, afeta basicamente os blockbusters que possuem mais visibilidade. 

“Em geral, os resultados não mostram estatísticas robustas de quedas nas vendas por conta de violações de direitos autorais. Uma exceção são as quedas em blockbusters recentes. Os resultados mostram um deslocamento [de lucro] de até 40% nesses casos. Os dados também mostram que, para cada 10 blockbusters recentes assistidos ilegalmente, quatro filmes menores são assistidos legalmente”, diz o estudo  logo em seu sumário. 

Outro ponto constatado pela pesquisa foi a relação entre o preço dos produtos e as cópias ilegais. Segundo o relatório:

  • Pelo preço atual dos produtos: a compra de produto pirateado é provável;
  • Por um preço inferior: a cópia ilegal se torna improvável. A compra dos produtos pode aumentar se os preços diminuirem ligeiramente;
  • O consumidor não está disposto a pagar nada pelo produto:  nesses casos o usuário não tem interesse no produto e o pirateia apenas por costume.

A forma de consumo dos produtos também afeta bastante a disposição do usuário em pagar por ele. A pesquisa revelou, por exemplo, que 44% dos entrevistados preferem usar métodos de streaming legais, como o Spotify, para consumir músicas contra apenas 24%, que optam por meios ilegais. A mesma coisa se repete com os filmes, onde serviços como o Netflix são mais bem aceitos. 

O relatório mostra (em %) a preferência de consumo dos entrevistados. Nota-se a preferência dos usuários pelos serviços de streaming legais
Reprodução
O relatório mostra (em %) a preferência de consumo dos entrevistados. Nota-se a preferência dos usuários pelos serviços de streaming legais















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Em geral, os usuários também preferem o streaming em detrimento aos meios físicos de reprodução. A exceção se encontra nos livros e games, nos quais o produto físico ainda é mais atraente do que o digital. Em todos os casos, a maioria dos usuários optou por métodos legais para acessar o conteúdo.

Em seu blog, Julia Reda ainda faz menção a outro relatório  realizado pelo Instituto de Política Tecnológica, situado em Washington, que chegou a resultados similares.

Por que a União Europeia não divulgou esses dados?

A ciberativista Julia Reda já era notória por defender a liberdade virtual e praticas como a pirataria.
Reprodução
A ciberativista Julia Reda já era notória por defender a liberdade virtual e praticas como a pirataria.




Segundo Julia, o fato de a Comissão Europeia estar escondendo os resultados do estudo deve-se ao fato da medida que a comissão quer implantar. A UE pretende liberar a instação de filtros de monitoramento do conteúdo acessado pelos usuários, serviço esse que seria feito pelas operadoras. 

A ativista acredita que a pesquisa seria vital nas discussões sobre a proposta que tenta dar vantagem para a indústria musical em negociações com serviços de streaming, como o YouTube, que hospeda conteúdo licenciado e não licenciado.

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Ainda em seu blog, a ciberativista diz ter descoberto a existência da pesquisa após ficar ciente de uma licitação pública feita em 2013 para selecionar a empresa que seria responsável pelo monitoramento. Depois disso, ela tentou ter acesso ao estudo durante meses e, mesmo com a Lei Europeia de Livre Acesso à Inforção, demorou meses para conseguir. 

A não divulgação dessas informações não é necessariamente um ato ilegal por parte da UE. Mas, de acordo com Julia Reda, a pesquisa deveria estar acessível para todos por ser financiada pela União Européia - sem contar que uma proposta relacionada está em discussão no parlamento. A pequisa não confirma que a pirataria não afeta as vendas dos produtos, mas contribui para botar em questão o quanto a prática é realmente prejudicial. 

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