Lançamento do foguete New Shepard, da Blue Origin
Divulgação/Blue Origin
Lançamento do foguete New Shepard, da Blue Origin

Neste sábado (4), o brasileiro Victor Hespanha vai ao espaço a bordo do foguete New Shepard, da empresa Blue Origin. Ao lado de outras cinco pessoas, ele fará uma viagem turística de 11 minutos através de um voo suborbital.

"O voo suborbital segue uma trajetória balística, atingindo seu ponto mais alto acima do que consideramos a fronteira do espaço, a Linha de Kármán, a 100 quilômetros de altitude, onde aeronaves convencionais não conseguem voar, e voltando à superfície em queda livre", explica Wandeclayt Melo, físico e membro do Céu Profundo, projeto de divulgação e educação científica com foco em astronomia e exploração espacial.

Depois de ser lançado, o foguete New Shepard se separa da cápsula onde estão os astronautas e volta ao solo em um pouso programado. A cápsula, então, segue uma trajetória oblíqua e tem seu pouso freado por enormes paraquedas, como é possível ver no esquema abaixo.

Voo suborbital de Dimítria Coutinho

Jogando uma pedra

Mas, afinal, como a cápsula com os astronautas realiza o movimento esperado? "Não é muito diferente de você jogar uma pedra", compara Wandeclayt. "A cápsula é como uma pedra jogada para o alto, e o foguete é como a mão que dá energia. A cápsula continua se movendo quando sai do foguete, e a altitude que ela vai atingir depende do tanto de energia que foi transferida. Então, a velocidade da cápsula diminui até chegar a zero na altitude máxima e, a partir daí, ela volta ao solo, em queda livre", explica.

Em quatro dos 11 minutos de voo, os astronautas têm a sensação de estarem em gravidade zero. Isso acontece justamente quando a cápsula está se movimentando sozinha. "Enquanto o motor do foguete está queimando, os astronautas sentem sua aceleração. Quando se encerra essa queima e o foguete se separa, a sensação é de queda livre ou do que chamamos de microgravidade. Não existe, na verdade, a gravidade zero neste momento. A sensação de falta de peso ocorre porque a tripulação e a cápsula estão caindo juntos, sob efeito da gravidade terrestre. A sensação seria a mesma em um elevador em queda livre", explica Wandeclayt.

Tudo calculado

Para que a cápsula percorra o trajeto esperado, é preciso muito cálculo dos engenheiros envolvidos para que a energia transferida do foguete seja a correta. O momento em que foguete e cápsula se separam também é muito importante, porque é necessário que o New Shepard tenha combustível suficiente para voltar à Terra.

Em lançamentos normais, os foguetes lançam a carga - neste caso, a tripulação - no momento em que o combustível é totalmente queimado. No caso do New Shepard, porém, a estratégia é diferente. Isso acontece porque o foguete é reutilizado em vários lançamentos. Por isso, mesmo sem pessoas dentro, ele precisa pousar em segurança e, para isso, precisa de combustível para a volta, realizando um pouso vertical controlado.

Além disso, também é necessário calcular a rotação do foguete. Como é possível ver no esquema acima, apesar de ter um lançamento vertical, o New Shepard faz um movimento oblíquo, pousando em outro local após arremessar a cápsula com a tripulação. Isso acontece porque o voo é controlado remotamente. "Não é simplesmente um Buscapé que a gente acende e deixa subir", compara Wandeclayt.

"Nem todo foguete é lançado verticalmente. Tem foguete que é lançado com alguma inclinação. Esse aí sai verticalmente e depois você dá uma atitude para ele. Você tanto pode colocar rotação, como pode mudar a direção do voo dele", afirma.

Com tantos detalhes para serem calculados, o voo suborbital chega a ser perigoso para os astronautas? "Os riscos existem, mas são menores que em um voo num avião convencional", diz Wandeclayt.

"É tudo testado exaustivamente, os sistemas eletrônicos têm redundância. Se um sistema falha, tem outro que assume. Mas a gente tem que lembrar que os astronautas estão sentados em cima de toneladas de propelente. Então, o que pode ser catastrófico é um vazamento de propelente, uma queima descontrolada. Mas quanto ao voo em si, aos sistemas todos, eles são cheios de redundâncias, é teste em cima de teste, então, na prática, os riscos são muito menores do que em um voo de avião e infinitamente menores de a gente pegar um carro e ir para a estrada", explica.

** Dimítria Coutinho atua cobrindo tecnologia há cinco anos, se dedicando também a assuntos econômicos. Antes de trabalhar no iG, era repórter do Ada, um portal de tecnologia voltado para o público feminino. É jornalista formada pela Universidade de São Paulo com passagem pelo Instituto Politécnico de Lisboa.

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