Tik Tok banido dos EUA?
No final de março de 2023, escrevi um Artigo intitulado: “Por trás da guerra contra o Tik Tok”. Nele apresentei alguns motivos pelos quais a A Casa Branca, ameaçava banir o aplicativo de origem chinesa, dos Estados Unidos, sob a alegação de possível espionagem. Naquela altura, os 150 milhões de norte-americanos, usuários da Plataforma, não gostaram nem um pouco da notícia.
O Fato é que a Administração Biden, dizia ter motivos concretos para se preocupar. Exigiu inclusive, que os Servidores públicos norte-americanos desinstalassem o Aplicativo dos aparelhos fornecidos pelo governo e recomendou aos países europeus que fizessem o mesmo em relação aos funcionários públicos usuários da Plataforma.
Na ocasião, o CEO da empresa nos EUA, Shou Zi Chew, passou por uma sabatina duríssima de mais de cinco horas, diante dos Congressistas no Capitólio, a mesma duração do depoimento de Mark Zuckerberg do Facebook em 2018. Mesmo diante de um inquérito com tom exacerbado e visceral, Shou, saiu-se muito bem na defesa da empresa por ele comandada em solo norte-americano.
Nesse, 19 de janeiro de 2025, expirou o prazo para que a sentença da Suprema Corte fosse cumprida, exigindo que a controladora chinesa do Tik Tok mundial, a ByteDance, vendesse a operação para o controle de uma companhia norte-americana. Mesmo com os rumores espalhados pelo dono da Plataforma X, Elon Musk em declaração à Bloomberg, de que estaria negociando a compra da Cia nos Estados Unidos, que logo foi desmentida, a suspensão de funcionamento da Plataforma aconteceu nesse Domingo.
O que acontece com os usuários?
Atualmente são 170 milhões de “usuários”, no país. Desses, cerca de 7 milhões são empresas que dependem do pleno funcionamento, sem o qual seus negócios ficarão comprometidos. Segundo o CEO, em sua “declaração de amor” ao Presidente Trump, a empresa está otimista em retomar os entendimentos com um Presidente que realmente entende a importância de uma Big Tech, que acumula mais de 60 bilhões de visualizações.
A Plataformização da Vida me impressiona. Imagine o custo político, econômico e social para um país dependente das Big Techs! Assim como previ em meu Artigo, nesse Portal, intitulado: “As Big Techs e Ópio Digital”, penso que ainda no primeiro semestre desse ano, o Brasil servirá de laboratório de teste no cabo de força entre a Tecnocracia e a Democracia. Refiro-me a possibilidade da empresa Meta (Whatsapp, Instagram, Facebook e Threads), enfrentar o judiciário brasileiro com relação a checagem de fatos que modera conteúdos falsos e proibidos em nosso país. O banimento por aqui poderá representar um verdadeiro Caos, com impactos diretos no cenário político e na própria economia. Leia o artigo: https://tecnologia.ig.com.br/colunas/gilberto-namastech/2025-01-14/as-big-techs-e-o-opio-digital.html
Tik Tok nas mãos de Donald Trump
Durante a campanha eleitoral, Trump declarou gostar do Tik Tok e obviamente seus estrategistas digitais utilizaram os algoritimos dos memes e dancinhas para posicionar as propostas do candidato eleito.
A suspensão implica no funcionamento normal da Plataforma para os usuários cadastrados, porém sem a possibilidade de fazerem atualizações. Fica também, impossibilitada a adesão de novos usuários nesse período.
Na segunda-feira, 20 de janeiro, um possível respiro será dado com a declaração da disposição da nova administração em encontrar uma saída para o impasse da venda, fazendo prorrogar o prazo das operações pelo menos para os próximos 90 dias. A propósito, um sinal de que algum caminho será galvanizado é o fato de que o CEO, Shou Zi Chew foi convidado para a posse presidencial. A indignação maior de Chew é de que até o presente momento não há provas de ligações do Tik Tok com a sua controladora chinesa no sentido de serem transferidas informações sensíveis, ou qualquer forma de espionagem de dados. Esperam resolver em definitivo essa situação nessa nova fase da história política dos Estados Unidos.
A Regra não deveria valer para todos?
Em 2018, Zuckerberg teve que enfrentar os Parlamentares de seu país por associar-se a empresa Cambridge Analytica, no escândalo de vazamento de dados pessoais de mais de 87 milhões de usuários da rede social em favor da eleição de Donald Trump. Ou seja, os EUA tinham ali, explicitamente, um espião para chamar de seu. O Facebook fechou um Acordo, pagou US$ 5 bilhões de multa, mas nunca admitiu as acusações. Contudo, mundo à fora, especialmente depois de Zuckerberg declarar publicamente o seu alinhamento ao Governo Trump na proteção dos interesses das Cias americanas, a empresa defende-se sempre de acusações de sua intervenção política, desde o episódio que culminou na chamada “Primavera Árabe” (Protestos antigovernamentais no início da década de 2010, nos países árabes: Líbia, Egito, Iêmen, Síria e Bahrein ), ao mais recente episódio de viralização de um vídeo do Deputado brasileiro da oposição, Nikolas Ferreira, que levanta dúvidas sobre a taxação do Pix pelo Governo brasileiro, que alcançou mais de 300 milhões de visualizações. O episódio ocorre, em meio ao anúncio da Meta sobre a flexibilização de suas regras de moderação de conteúdos além da retomada da permissão para a publicação de assuntos de cunho político no feed de notícias. Teoria da conspiração à parte, o fato é que ao se aliar ao pensamento liberal de Trump, a empresa desperta ainda mais a suspeição dos países em relação ao uso de seu poder algorítimico na escolha de seus políticos prediletos.
Hegemonia Global de Poder – O Pano de Fundo
É óbvio que na disputa pela hegemonia global de poder, onde China e Estados Unidos intensificam seus movimentos em busca da liderança, há “muita água para rolar debaixo da ponte do mundo” e o início da nova Administração Trump trará muitas emoções na reconfiguração do Atlas Mundial.
O Pesquisador Faber Paganoto, Doutor em Geografia pela UFRJ, tem uma afirmativa que me agrada muito: “As peças do Tabuleiro são os países, os jogadores que movimentam essas peças são as grandes potências e o jogo que está sendo jogado é a Política e a Economia Global”. E eu acrescento: “Que afeta a vida de todos nós”.
Na verdade, estamos, diante da corrida pela hegemonia global de poder, e a China está a levar forte vantagem na disputa com os EUA e outras potências ocidentais. O domínio das chamadas tecnologias portadoras de futuro ou tecnologias disruptivas, como por exemplo: Fusão nuclear, Telecomunicações 5G e 6G, Inteligência Artificial, Realidades Imersivas, Materiais Bidimensionais, Computação Quântica etc, ameaçam a supremacia ocidental dos últimos 300 anos, pelo menos.
Durante o primeiro Governo de Donald Trump, a acusação de espionagem e o “bullyng” global contra os chineses, se concentrou na Empresa Huawei em razão da imensa vantagem comparativa com os países europeus e o próprio EUA no que se refere ao domínio do 5G. Essa tecnologia para muito além do tema da telefonia, refere-se a infraestrutura de comunicações de baixa latência, capaz de tornar cem vezes mais rápido o acesso a dados armazenados em nuvens computacionais, viabilizando e revolucionando todos os tipos de aplicações autônomas, como carros, trens, ônibus, drones, operação à distância de equipamentos agrícolas, viabilização de cirurgias robóticas, aplicação de experiências imersivas, metaversos etc.
No Vale Tudo do “Ringue Digital”
Em 2018, as intimidações alcançaram, a filha do presidente da Hauwei, Meng Wanzhou, CFO da empresa, que chegou a ser detida no Canadá com o pedido de extradição para os EUA sob a acusação de espionagem. Ela ficou presa até ser libertada em 24 de Setembro de 2021, após um acordo com a Corte de Vancouver, livre das acusações sofrera. Curiosamente a prisão de Wanzhou ocorreu no mesmo ano do depoimento de Zuckeberg no Capitólio.
Espiar, bisbilhotar, espionar, parece fazer parte da história mundial, contudo, em tempos de conflitos tecnológicos e armamentistas elas se intensificaram muito.
No conflito na faixa de Gaza, no embate entre Rússia e Ucrânia, nos territórios chineses e americanos, além da disputa pelo controle das narrativas e o domínio de “novas tecnologias de observação”, os ataques cibernéticos se intensificaram muito e, novos recursos de espionagem têm sido empregados, como balões, drones, cilindros voadores etc. Apreensões e abatimentos aéreos, ampliam o acervo de novas “geringonças” criadas para “dar uma espiadinha” estratégica nos oponentes no mais autêntico clima de “Big Brother”.
Como a China vai lidar com as ameaças e acenos de Trump?
Jimmy Carter, falecido recentemente aos 100 anos de idade, para além de toda a sua contribuição épica ao país, proporcionou um encontro no mínimo inusitado em seu velório, que contou com a presença das lideranças dos partidos Democrata e Republicanos, incluindo ex presidentes. A conversa descontraída e bem-humorada entre Donald Trump e Barack Obama, roubou os holofotes da mídia mundial que cobria a despedida de um verdadeiro estadista.
Mensagem de Carter à Donald Trump:
Durante o primeiro Governo Trump, Carter teve a coragem de expressar uma autocrítica pouco comum aos estadistas, mas própria da grandeza de sua particular sensatez, equilíbrio e humanismo, ao dirigir-se àquele Presidente americano:
“…Você tem medo que a China nos supere, e eu concordo com você. Mas você sabe por que a China nos superará? Eu normalizei relações diplomáticas com Pequim em 1979, desde essa data… você sabe quantas vezes a China entrou em guerra com alguém? Nem uma vez, enquanto nós estamos constantemente em guerra.
Os Estados Unidos é a nação mais guerreira da história do mundo, pois quer impor aos Estados que respondam ao nosso governo e aos valores americanos em todo o Ocidente, e controlar as empresas que dispõem de recursos energéticos em outros países.
A China, por seu lado, está investindo seus recursos em projetos de infraestrutura, ferrovias de alta velocidade intercontinentais e transoceânicos, tecnologia 6G, inteligência robótica, universidades, hospitais, portos e edifícios em vez de usá-los em despesas militares. Quantos quilômetros de ferrovias de alta velocidade temos em nosso país? Nós desperdiçamos U$ 300 bilhões em despesas militares para submeter países que procuravam sair da nossa hegemonia. A China não desperdiçou nem um centavo em guerra, e é por isso que nos ultrapassa em quase todas as áreas.
E se tivéssemos tomado U$ 300 bilhões para instalar infraestruturas, robôs e saúde pública nos EUA teríamos trens bala transoceânicos de alta velocidade. Teríamos pontes que não colapsem, sistema de saúde grátis para os americanos não infectarem mais milhares de americanos do que qualquer país do mundo pelo COVID-19.
Teríamos caminhos que se mantenham adequadamente. Nosso sistema educativo seria tão bom quanto o da Coreia do Sul ou Xangai”.
(Jimmy Carter, na Newsweek Magazine):
Lições do General Sun Tzu 500 AC
A Arte da Guerra
“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.”
Entre as forças hegemônicas é preciso admitir e conhecer a influência e o tamanho do poder das oligarquias digitais atuando no forjamento de uma sociedade global dependente de seus conteúdos e apreendidos pelos seus algoritimos. Os regimes tradicionais desde as Autocracias, Teocracias e Democracias, devem saber muito bem a linha tênue que separa suas alianças com as Big Techs e o “Cavalo de Troia” que elas representam numa possível tomada de poder. Veremos a Era de um novo tipo de Regime Político? Até onde podemos confiar num futuro regido pela Tecnocracia Global?
Gilberto Lima Jr é Futurista, Humanista Digital e Palestrante Internacional. Para demandas corporativas, faça contato através de suas Redes Sociais:
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