Entra semana, sai semana e a Uber continua anunciando (ou deixando vazar) mudanças nos seus aplicativos para motoristas e para passageiros que buscam recuperar a imagem desgastada que a empresa ficou após se envolver em polêmicas recentes. A bola da vez é uma atualização que vai "esconder" dos motoristas os locais exatos de embarque e desembarque dos passageiros.
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Na versão atual, os motoristas da Uber têm acesso a um registro dos endereços exatos de embarque e desembarque de suas viagens. Os endereços ficam armazenados indefinidamente no histórico do motorista, o que possibilidade que ele, sem maiores dificuldades, possa voltar e checar os endereços de cada passageiro a qualquer hora. Tais dados, nas palavras de um próprio funcionário da empresa, são o que ela "tem de mais valioso" e mesmo assim eles são mantidos na plataforma ainda que um motorista delete sua conta do aplicativo.
Na nova versão, no entanto, a companhia pretende começar a ocultar os pontos exatos de embarque e desembarque dos passageiros e mostrar, em vez disso, uma área mais ampla conforme mostra a imagem do programa piloto abaixo:
Essa medida deve ajudar a companhia a se adequar ao novo Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia . Nele, a UE passa a exigir que as empresas de tecnologia permitam aos usuários deletar seus dados e também que eles tenham acesso a uma cópia completa das informações que o aplicativo coletou a seu respeito.
A empresa ainda não confirmou quando as mudanças entrarão em vigor e nem confirmou oficialmente ainda que elas de fato serão implementadas já que "não comenta rumores", mas quando essa nova função for lançada, ela deverá respeitar tanto o que a nova legislação exigirá sobre a proteção aos dados dos passageiros, quanto dos motoristas, ambos considerados usuários da plataforma.
Quais mudanças já foram confirmadas?
Se essas alterações ainda estão sendo testadas e não tem previsão de quando passarão a valer, outras já foram confirmadas oficialmente pela empresa.
Na semana passada, a Uber lançou um novo aplicativo para seus motoristas
que inclui uma série de demandas feitas por eles desde junho do ano passado, entre elas: uma barra de status que permite aos motoristas se posicionarem na cidade de acordo com a demanda, uma notificação que permite a eles receber mensagens sobre oportunidades próximas de corridas e retornos de usuários do serviço, além de uma ferramenta que mostra quanto eles estão ganhando em tempo real para que possam atingir suas metas mais facilmente.
Tais alterações fazem parte do programa "180 dias de mudança" que foi desenvolvido pela companhia a partir de um levantamento feito com os próprios motoristas e foram anunciadas pelo próprio CEO da Uber Dara Khosrowshahi em um comunicado em inglês no site da companhia assinado por ele reconhecendo que "motoristas são o coração da nossa empresa, mas ao longo do caminho nós perdemos o sinal disso. Nós nos focamos muito em crescer e não o suficiente nas pessoas que tornam isso possível".
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Já para os passageiros, as mudanças mais recentes estão restritas aos Estados Unidos, onde a empresa concentra a maior parte de suas operações. Lá, os passageiros já contam com uma nova série de medidas implementadas para aumentar a segurança durante as viagens e dificultar o acesso aos seus dados.
Novamente, o CEO foi responsável por assinar um comunicado intitulado "Levando a sério a segurança" no qual afirma que "ajudar a manter as pessoas seguras é uma enorme responsabilidade e uma que nós não 'pegamos leve'. É por isso que, como CEO, estou comprometido em colocar a segurança no centro de tudo o que fazemos".
Nesse mesmo comunicado, além de anunciar o ex-secretário de Segurança Interna dos Estados Unidos, Jen Johnson, como presidente do novo Conselho Consultivo de Segurança da Uber, o CEO também confirmou algumas alterações como:
- Criação de um centro de segurança
dedicado aos passageiros, onde eles poderão ter acesso às principais diretrizes de segurança da companhia, incluindo os processos de triagem de motoristas, proteções de seguro e outras diretrizes do aplicativo.
- Inclusão das informações de até cinco amigos ou familiares que funcionarão como contatos confiáveis
e que poderão receber detalhes de suas viagens, com opção para fazer isso apenas em viagens noturnas ou em qualquer horário do dia.
- Criação de um botão do pânico no qual a pessoa estará a apenas um toque de entrar em contato com a polícia, caso alguma situação de emergência ocorra durante sua viagem.
Por que tantas mudanças?
Tantas mudanças não estão acontecendo apenas porque a Uber está preocupada com o bem estar de seus usuários. É claro que a companhia tem interesse em evitar qualquer problema entre passageiros e motoristas, mas ela tem um objetivo maior de recuperar sua imagem que ficou bastante desgastada nos últimos tempos.
A própria nomeação de Dara Khosrowshahi em agosto de 2017 para CEO marcou uma mudança nos rumos da empresa que tinha no presidente-executivo anterior, Travis Kalanick, uma bomba-relógio. Num episódio marcante, ele chegou a discutir e xingar um motorista da companhia que fazia queixas sobre a empresa. O motorista gravou tudo, divulgou e o processo culminou no afastamento de Travis da sua posição.
A situação fica ainda mais delicada quando colocada em perspectiva a série de ataques de hackers que a plataforma recebeu e não conseguiu evitar no passado. No maior deles, informações de 50 milhões de usuários e 7 milhões de motoristas foram roubadas e a empresa escolheu pagar, em outubro de 2016, US$ 100 mil (cerca de R$ 345 mil) para que os hackers que executaram a ação apagassem esses dados e se mantivessem calados sobre o vazamento. Medida que a empresa, com o consentimento de Kalanick, também adotou por mais de um ano, até tudo ser descoberto e divulgado pela nova direção.
Além disso, apesar de ter conseguido a vitória regulamentar no âmbito federal no Brasil, a Uber enfrenta uma competição ferrenha com outros aplicativos de transporte (a brasileira 99Táxis acabou de ser vendida para chineses numa transação de quase R$ 1 bilhão está com dinheiro para investir no mercado) e uma campanha de regulação em várias parte do mundo, incluindo na já citada União Europeia.
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Tudo isso enquanto a Uber estuda a possibilidade de entrar em outros setores de transporte e fazer um IPO, ou seja, uma oferta pública inicial de ações já em 2019, uma vez que a empresa fechou as contas do ano passado com um saldo negativo de US$ 4,5 bilhões.