Em discurso, CEO do Spotify defende Joe Rogan e podcast que desinforma

Daniel Ek afirmou que ter exclusividade sobre um conteúdo não é o mesmo que concordar com ele

Spotify mantém podcast polêmico no ar
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Spotify mantém podcast polêmico no ar

O CEO do Spotify, Daniel Ek, defendeu o podcast The Joe Rogan Experience nesta quarta-feira (2), em discurso para seus funcionários. O programa tem sido o centro de uma das maiores polêmicas da história da plataforma de streaming por frequentemente desinformar a população, sobretudo em relação à pandemia de Covid-19, e mesmo assim permanecer no ar.

O discurso de Ek, que durou cerca de 15 minutos e teve como público os funcionários do Spotify, foi divulgado na íntegra pelo The Verge nesta quinta-feira (3). Nele, o CEO defende a permanência do podcast na plataforma e afirma que o serviço não deve agir como um editor de conteúdo, o que não agradou os ouvintes. "Os trabalhadores estão se sentindo cada vez mais frustrados", disse um dos funcionários da empresa ao The Verge.

No discurso, Ek se preocupou mais em falar sobre a parte comercial do Spotify do que sobre a parte ética. Ele falou sobre a importância do podcast de Rogan para o crescimento da plataforma - em 2020, o Spotify pagou US$ 100 milhões para ter exclusividade sobre o programa, que hoje é o mais ouvido no aplicativo. "Para ser franco, se não tivéssemos feito algumas das escolhas que fizemos, estou confiante de que nosso negócio não estaria onde está hoje", disse Ek.

Durante sua fala, o CEO também afirmou que não quer que o Spotify aja como um editor de conteúdo. Ele explicou que não tem controle sobre o que Rogan fala em seu programa, apesar de se tratar de um podcast exclusivo e ser bastante promovido pelo Spotify.

"É importante observar que não temos controle criativo sobre o conteúdo de Joe Rogan. Não aprovamos o convidado com antecedência e, como qualquer outro criador, recebemos o conteúdo dele quando ele publica e, em seguida, o analisamos e, se violar nossas políticas, tomamos as medidas de aplicação apropriadas. Joe segue os mesmos padrões, regras e políticas que todos os criadores em nossa plataforma seguem, não importa quão grande ou pequeno, não importa quanto pagamos por esse conteúdo. E criadores como Joe, eles sabem como andar bem perto dos limites, e às vezes eles cruzam esses limites, e quando isso viola nossas políticas, nós agimos", declarou, sem exemplificar em quais ocasiões o Spotify agiu contra Rogan.

Ek também comentou sobre a política do Spotify, que proíbe conteúdo enganoso sobre a Covid-19. Ele disse que as regras são aplicadas e que 20 mil episódios de podcasts já foram banidos em todo o mundo. Apesar disso, a plataforma não excluiu os episódios nos quais Rogan e seus convidados divulgam teorias da conspiração sobre o novo coronavírus e incentivam a não vacinação contra a Covid-19. Na visão de Ek, essas falas são apenas "opiniões" com as quais ele diz não concordar.

"Eu entendo a premissa de que, por termos um acordo exclusivo com ele, é muito fácil concluir que endossamos cada palavra que ele diz e acreditamos nas opiniões expressas por seus convidados. Isso absolutamente não é o caso. Há muitas coisas que Joe Rogan diz que eu discordo fortemente e acho muito ofensivo. Se quisermos mesmo uma chance de alcançar nossas ambições ousadas, isso significará ter conteúdo no Spotify do qual muitos de nós podem não se orgulhar de estarem associados. Não vale tudo, mas haverá opiniões, ideias e crenças com as quais discordamos fortemente e até nos deixa com raiva ou tristes", afirmou.

Com foco nas metas da empresa, Ek terminou seu discurso afirmando que, para atingir a meta de 50 milhões de criadores e 1 bilhão de usuários, é preciso manter grandes criadores de conteúdo no ar, como é o caso de Rogan.

"Eu sei que isso é difícil e que, especialmente para aqueles de vocês em comunidades historicamente marginalizadas, parece profundamente pessoal. E eu realmente gostaria que houvesse algo que eu pudesse dizer hoje que faria vocês se sentirem satisfeitos e atenderia às preocupações de todos. Mas eu sei que não é tão simples. Se vamos enfrentar esses desafios juntos, precisamos de seu brilhantismo, sua paciência e sua crítica ponderada e construtiva", finalizou Ek, se dirigindo aos funcionários do Spotify.