Os imóveis e terrenos sempre foram os investimentos favoritos do brasileiro. Esta “tese” surgiu durante os períodos de hiperinflação no país, quando a moeda perdia valor a cada dia. Nesse sentido, comprar bens imóveis era a única forma de se proteger contra a depreciação da moeda.
A hiperinflação acabou quase 30 anos atrás, mas a paixão por imóveis resiste até hoje. “Compre tijolo”, “imóvel nunca perde valor”: eis os conselhos mais comum dos nossos pais e tios. E eles estavam certos, mas não contavam que os tijolos também ganhariam valor no mundo real.
Os terrenos do Metaverso
Imagine um espaço completo de 14,4 km², o equivalente a nove vezes a área da cidade de São Paulo. Este lugar possui lotes de terras altamente procurados, cujos preços dispararam nos últimos meses. O plantel de clientes inclui artistas, músicos e outros nomes famosos.
No entanto, há uma pequena diferença: esta área completa de terrenos simplesmente não existe. Ao menos não no mundo real. Essas áreas existem apenas no mundo virtual e são adquiridas através de operações e registros na blockchain.
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Para os mais velhos, isso pode soar como algo futurista demais, ou simplesmente um golpe. Mas trata-se de algo real: são os terrenos do Metaverso, tipo de mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais.
No caso do exemplo citado no início deste tópico, trata-se da área total de Decentraland, uma das maiores plataformas do Metaverso. Este metaverso surgiu em 2017, mas ganhou destaque a partir de 2021, ano em que a procura pelos terrenos começou. E acredite, muitos desses “lotes de terra” foram vendidos por quantias milionárias.
Terrenos digitais superam bairros nobres
Por exemplo, um terreno dentro do Decentraland foi vendido pela bagatela de US$ 2,4 milhões em novembro. Na época, o valor correspondeu a R$ 13,4 milhões e foi considerado um recorde para bens vendidos no Metaverso.
No mercado imobiliário tradicional, o valor de um imóvel é definido pelo preço de seu metro quadrado (m²), então essa métrica será adaptada para o Metaverso. O terreno de Decentraland tinha uma “metragem” de 566 m², o que, portanto, equivale a um custo de R$ 23,8 mil por m² na cotação da época.
Para se ter uma ideia desse valor, esse valor é quase quatro vezes maior do que a casa Rui Ohtake, considerada a mais cara da cidade de São Paulo. O imóvel, localizado no bairro Cidade Jardim, possui mais de 8.000 m² e está avaliado em R$ 70 milhões. Seu m² custa em média R$ 8.750.
Mas como se trata de uma casa, a comparação com um terreno não é 100% acurada. Portanto, veja a comparação com o m² no bairro do Leblon, um dos mais caros da cidade do Rio de Janeiro. De acordo com a Fipezap, o preço do m² na região é de R$ 21,9 mil, quase 10% menor que o terreno em Decentraland.
Recordes em sequência
Contudo, o recorde do Decentraland durou menos de 24 horas, pois outra sensação de 2021 roubou essa marca. O jogo Axie Infinity registrou a venda de um terreno em Lunacia , seu Metaverso particular, cuja metragem era de 301 m². A operação saiu por US$ 2,5 milhões, ou cerca de R$ 13,6 milhões à época.
O preço do m² deste terreno foi de US$ 8.305, ou cerca de R$ 46.424 – praticamente o dobro do terreno do Decentraland. Sim, um terreno virtual foi vendido por cerca de cinco vezes o preço da casa mais cara da maior cidade do Brasil.
A título de comparação, estes valores são quase os mesmos registrados na cidade de Paris, uma das mais caras do mundo. Na capital francesa, o preço do m² pode chegar a quase R$ 68 mil. E este é o valor nas regiões mais caras da cidade.
Essa “bolha imobiliária” fez com que os tokens do Metaverso disparassem de valor. O MANA, da Decentraland, e o SAND, do The Sandbox, registraram mais de 12.000% de alta no ano. Já o AXS, do Axie Infinity, registra 17.000% de valorização até o momento da escrita deste texto.
O hype do Metaverso foi impulsionado pelo Facebook, que mudou seu nome para Meta em alusão a esta tecnologia. Contudo, as blockchains focadas neste setor saíram na frente em termos de geração de valor. Ninguém sabe quem de fato vai ganhar esta disputa, mas uma coisa é certa: os terrenos continuam sendo um ótimo investimento. Agora, também no mundo virtual.