YouTube prioriza vídeos da Jovem Pan e pró-Bolsonaro, revela estudo

Pesquisa da UFRJ mostra que algoritmo de recomendação favorece a emissora

Presidente Jair Bolsonaro no Programa Pânico, da Jovem Pan
Foto: Reprodução/Twitter/Jair Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro no Programa Pânico, da Jovem Pan

O Youtube privilegia vídeos da Jovem Pan em detrimento de outros veículos de comunicação, aponta relatório do laboratório de pesquisas NetLab da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), publicado nesta terça-feira (13).

De acordo com o estudo, o algoritmo de recomendação da plataforma mostra mais vídeos da Jovem Pan a novos usuários. Além disso, um vídeo pró-Bolsonaro foi o mais recomendado.

No levantamento, os pesquisadores simularam 18 visitas à página principal do YouTube feitas por "novos usuários". Para isso, eles utilizaram guias anônimas e um serviço de VPN que simulava um usuário brasileiro genérico acessando a plataforma pela primeira vez.

Em seguida, foram analisados os vídeos de conteúdo informativo mostrados na primeira página. O levantamento foi feito entre os dias 23 e 30 de agosto, semana das sabatinas dos candidatos à presidência no Jornal Nacional.

A maior fonte de conteúdo informativo identificada foi a Jovem Pan, que apareceu como primeira recomendação em 10 das 18 visitas (55%). Em seguida, aparece o UOL, com 27%.

Bolsonaro é favorecido pelo YouTube

A análise também revela que o vídeo que mais se repetiu nos testes foi a entrevista dada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Programa Pânico na sexta-feira, dia 26 de agosto. Durante os testes, o vídeo apareceu sempre na primeira página, em diferentes posições.

A entrevista foi considerada positiva pelo presidente que, na ocasião, usou o Twitter para agradecer a emissora. "Foram quase 3 horas de entrevista, abordando os mais variados temas. Obrigado a todos pelo apoio e consideração", escreveu Bolsonaro.

Na entrevista, Bolsonaro teve espaço para exaltar seu atual governo e criticar o ex-presidente Lula, que tinha sido entrevistado pelo Jornal Nacional na noite anterior.

Além da Jovem Pan ser prioridade nas recomendações do YouTube, o estudo da UFRJ mostra que a emissora continua sendo favorecida em um "ciclo de retroalimentação". Quando um novo usuário se depara com conteúdo da emissora na primeira página e clica nele, mais e mais vídeos da Jovem Pan são mostrados.

A Jovem Pan é conhecida por apoiar o presidente Jair Bolsonaro, além de já ter sido acusada de disseminar desinformação em diversos casos. "Mesmo quando acusados de disseminar desinformação e discursos de ódio, vídeos da Jovem Pan não são derrubados ou desmonetizados pelo YouTube", afirma o relatório da UFRJ.

A reportagem entrou em contato com o YouTube, que afirmou que seus sistemas de recomendação levam em consideração diversos "sinais" e que as políticas da plataforma são aplicadas "independentemente de porta-voz, ponto de vista político, histórico, posição ou afiliações". Confira o posicionamento completo da empresa:

"Nosso  sistema de recomendações busca ajudar as pessoas a encontrarem vídeos que lhes ofereçam algo útil e interessante. Para fazer isso, nos baseamos em vários tipos de 'sinais', ou seja, dados que alimentam o sistema. Esses sinais incluem cliques, tempo assistindo, respostas a pesquisas, número de compartilhamentos, números de cliques em 'gostei' e 'não gostei', entre outros.

Desde 2019, o nosso sistema de recomendação vem passando por uma série de atualizações para reduzir o conteúdo que está no limite das diretrizes - atualmente, o consumo de conteúdo limítrofe que chega por meio das recomendações é inferior a 0,5%. O YouTube também oferece aos espectadores uma variedade de ferramentas para melhorar a experiência deles na plataforma e decidir quais informações pessoais serão usadas para influenciar as recomendações.

Lembramos que o YouTube é uma plataforma aberta, em que qualquer pessoa pode compartilhar conteúdo, desde que esteja de acordo com nossas políticas de comunidade . Esse robusto conjunto de regras está em constante processo de evolução e busca garantir equilíbrio entre liberdade de expressão e a segurança dos nossos usuários.

Nossas  diretrizes da comunidade definem as regras usadas no YouTube e, ao mesmo tempo, abrem espaço para diversas opiniões. Nossos revisores estão espalhados pelo mundo, e aplicamos nossas  políticas de conteúdo com consistência, independentemente de porta-voz, ponto de vista político, histórico, posição ou afiliações. Para ajudar a determinar isso, o YouTube conta com uma política de 'EDSA', sigla em inglês que significa 'Educacional, Documental, Científico ou Artístico' ".