Trojans, programas que permitem roubar dados de acesso a contas bancárias, são o principal foco dos brasileiros no exterior
A partir desta data, os códigos-fonte dos trojans bancários desenvolvidos no Brasil passaram a atacar, além de internautas que usam sites de bancos locais, também clientes de grandes bancos do Cabo Verde, Espanha e Portugal. “Acreditamos que seja um ensaio para expandir os ataques de trojans brasileiros para países mais ricos no futuro”, diz Assolini. Os três países foram escolhidos pelo idioma, já que as vítimas falam português e espanhol, este último um idioma de aprendizado mais rápido para brasileiros.
“Já analisamos vários trojans desde junho até agora e o número dos que atacam europeus é crescente”, diz Assolini. Ao contrário do que se pensa, os países da América Latina, que também adotam o idioma espanhol, não são alvo da internacionalização dos ciberataques. O motivo é o baixo índice do uso de banco pela internet nesses países, o que reduz a quantidade de vítimas potenciais. “Existe uma parceria entre os criminosos da América Latina. Eles estão aprendendo com os brasileiros”, diz Assolini.
Brasil contra Brasil
Antes da investida no mercado europeu, todos os trojans criados no Brasil atacavam os próprios brasileiros. O Brasil é o principal alvo dos cibercriminosos locais, já que 38 milhões de brasileiros acessam o banco pela internet diariamente, 2,2 milhões de pessoas utilizam aplicativos no celular para acessar sua conta bancária – no total, 23% das transações bancárias acontecem pela internet, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O alto uso de software pirata no País é outro fator que aumenta a vulnerabilidade dos brasileiros.
Apesar de outros países desenvolverem trojans bancários, os cibercriminosos estrangeiros ficam fora do Brasil. Segundo os analistas de Kaspersky, a burocracia dos bancos brasileiros – como os procedimentos legais para transferir dinheiro para o exterior – muitas vezes motivo de reclamação dos clientes, funciona como uma barreira para criminosos do exterior, que não sabem como “burlar” o sistema. “A burocracia protege o Brasil dos trojans desenvolvidos fora do País”, diz Assolini. Apesar disso, segundo a Febraban, cerca de R$ 685 milhões já foram roubado de bancos brasileiros em ataques virtuais na primeira metade de 2011.
*A repórter viajou para Cancún a convite da Kaspersky.