No mês de fevereiro, a volta às aulas será desafiadora. Estará em vigor e válida para todos os estabelecimentos de ensino da educação básica do país, a Lei Federal 15.100, sancionada pela Presidência da República nessa semana, em 13 de janeiro.
A nomofobia, medo mórbido de ficar sem o celular, exigirá muito dos professores, psicopedagogos e dirigentes dos estabelecimentos de ensino, visto que o vício em telas atinge níveis alarmantes em nossa juventude. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua sobre Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad/TIC), realizada em 2022 pelo IBGE, cresce cada vez mais rápido o número de crianças e jovens com acesso à internet, estimado em 84,9% na faixa etária entre 10 a 13 anos. Destes, 54,8% acessam pelo próprio aparelho celular. Dos 94,1% compreendidos na faixa etária de 14 a 19 anos, 84,7% acessam pelos seus aparelhos.
O que me chamou mais atenção na Lei 15.100 são as obrigações atribuídas aos estabelecimentos de ensino que, em tese, quando bem observadas, trariam grande contribuição à saúde mental de nossas crianças e jovens:
- Políticas preventivas e de tratamento do sofrimento psíquico e da saúde mental dos estudantes, conscientizando sobre a importância do uso moderado a os riscos de acesso aos conteúdos impróprios;
- Capacitação e treinamento recorrentes do corpo docente sobre métodos de identificação, formas de prevenção e principalmente, orientação quanto a abordagem dos alunos sempre que se identificar sinais de sofrimento psíquico, ideações suicidas etc resultantes da dependência de telas e de aparelhos eletrônicos em geral, inclusive da abstinência de uso.
- Disponibilidade de um espaço físico de referência para acolher estudantes e colaboradores do estabelecimento que precisem de apoio no tratamento da nomofobia.
A grande questão que se levanta é se afinal a dependência de Telas, a hiper conectividade e o uso excessivo de aparelhos eletrônicos é ou não prejudicial a saúde física e mental de todos nós.
Dados do Instituto de Ciências Médicas Gerais (NINGS) dos EUA, indicam que o uso noturno das telas, pode confundir o nosso relógio biológico devido ao efeito da luz dos dispositivos, provocando distúrbios do sono e outras doenças crônicas, entre as quais a obesidade e a depressão.
A psicóloga Victoria Dunckley, em seu livro “Reset Your Child's Brain” (“Redefina o Cérebro do seu Filho”) alerta para os efeitos da dessensibilização do sistema de recompensa do cérebro. Ela explica que os dispositivos provocam vícios dopamínicos nos usuários, especialmente quando acessam jogos eletrônicos e as redes sociais. No caso dos jogos é fácil compreender pois se condiciona ao vício de ganhar, competir, superar e isso provoca uma descarga cerebral de dopamina. No caso das redes sociais, a apreensão psíquica se dá na necessidade de ser visto, ser reconhecido, verificação permanente de sua performance de “likes” e visualizações, bem como de respostas às suas interações. É mesmo um ópio digital.
Opinião Médica
Nessa Era de disrupção digital e aceleração tecnológica, pais, avós, educadores e os próprios jovens estão bastante perdidos no que se refere ao processo de ensino-aprendizado, a socialização, o conjunto de crenças, valores e tudo isso impactado pela manipulação algorítimica, gerando extremismos, polarizações e impulsionamentos de mentiras, ódio e deturpação da realidade com impactos imediatos no emocional dos seus “usuários”. Então convido a você leitor, a deitar no Divã de um especialista nesses temas. Segue abaixo a transcrição de um bate-papo que tive com o neuropsicólogo, expert em avaliação psicológica e doutor em educação, Dr.Demerval Guilarducci Bruzzi:
É mito ou verdade que o uso intensivo de telas pode acarretar em dependência?
Sim, o uso excessivo de telas pode causar dependência digital. Essa dependência pode afetar a saúde mental e física, e prejudicar a capacidade de interação com outras pessoas. O vício em telas é mais comum em adolescentes e jovens adultos do que em pessoas de meia idade e idosos, mas pode acometer todas as idades. a pandemia de covid-19 agravou o quadro, porém os efeitos danosos estão aparecendo, e aparentemente pouco temos feito a este respeito. Muito pelo contrário: é comum vermos atualmente jovens estudando em seus celulares em plena sala de aula.
Reforço que a tecnologia muito nos ajuda. O que se discute atualmente, no entanto, é o efeito deste uso excessivo em nosso cérebro. Já sabemos que, semelhante à herança genética, as experiências que vivenciamos desde os primeiros momentos de vida têm impacto enorme na arquitetura e funcionamento cerebral e se estendem por toda a vida.
Neste sentido, é sempre bom lembrar que o período entre a primeira infância e a idade escolar (no Brasil algo entre 0 a 8 anos de idade) é quando os hábitos de vida são estabelecidos. Assim, manter relacionamentos seguros e hábitos saudáveis é fundamental no desenvolvimento. Nesta faixa etária, os pais desempenham papel crucial na determinação dos hábitos das crianças, e o que estamos vendo é a utilização de celulares e afins como uma espécie de babá — muitos pais delegam ao celular a tarefa de entretenimento de seus filhos, potencializando assim o risco do chamado “vicio de Tela”.
Outro fator problemático é relacionado ao uso das telas pelos pais, ou seja, como os comportamentos associados ao uso de aparelhos eletrônicos afetam de forma negativa seus filhos.
Muito temos lido a respeito da recompensa em forma de luz, cores e sons das telas que se manifesta em nível neural com a secreção de dopamina, fazendo com que o uso da tela se torne gratificante e potencialmente viciante, afinal, as mesmas redes neurais de prazer são ativadas quando temos acesso a uma mensagem positiva (quando ganhamos em um jogo, por exemplo), favorecendo, assim, o comportamento impulsivo e uso compulsivo das telas pelas crianças, adolescentes, adultos e até os mais velhos — de acordo com o IBGE, o aumento do percentual de pessoas que utilizaram a internet, de 2019 a 2022, foi maior entre adultos de 50 a 59 anos e de 60 anos ou mais (crescimento de 11,9 e 17,3 pontos percentuais, respectivamente).
Qual é o tempo médio diário suficiente para viciar no uso de telas?
É complicado estipular isso, pois depende do organismo, o instituto de psiquiatria do Paraná explica bem, o processo ao colocar que um vício, ou uma dependência, se forma a partir da busca do prazer. Embora isso possa parecer algo imaturo para algumas pessoas, existe uma base biológica para todo esse processo. Essencialmente, vícios ocorrem porque eles sequestram o mecanismo de recompensa do cérebro, fazendo com que uma pessoa tenha uma recompensa maior (prazer) com menos esforço.
Tudo isso começa a partir de um neurotransmissor chamado dopamina, que é responsável pela sensação de prazer, mas também pela motivação. Quando uma pessoa recebe uma recompensa por uma tarefa, a dopamina faz com que a pessoa sinta prazer e associe essa tarefa a essa sensação, fazendo com que a pessoa tenha mais chances de repetir essa mesma tarefa no futuro.
Contudo, a quantidade de dopamina vai depender da qualidade da recompensa. A falta de uma recompensa diminui a quantidade de dopamina liberada, fazendo com que a pessoa se sinta desmotivada a repetir o comportamento. Além disso, se o esforço empregado na tarefa for muito maior do que a recompensa recebida, o resultado também é uma diminuição da dopamina, desmotivando a pessoa.
Já quando a recompensa é bastante prazerosa, a pessoa tende a repetir o comportamento mais vezes. É assim que drogas acabam viciando: a pessoa tem só o esforço de usar a droga, enquanto a recompensa são os efeitos da substância no organismo, trazendo sensação de prazer com pouco esforço.
O mesmo ocorre em relação às telas: proporcionando entretenimento com poucos cliques ou toques na tela, o esforço para sentir prazer é demasiadamente pequeno, fazendo com que a pessoa interaja cada vez mais com as telas e, ao ficar distante delas, acabe tendo sintomas de abstinência, evidenciando então uma dependência.
Os vícios não são um fenômeno novo e não é raro que mesmo pessoas que não se considerem viciadas em nada acabem tendo um vício que não percebem. São “microprazeres” do dia-a-dia que passam despercebidos por serem vistos como normais, como o consumo de alimentos altos em açúcares e gorduras, assistir vídeos curtos de coisas que gostam, entre outros.
Contudo, é importante ressaltar que se enquadra como vício quando a pessoa faz um uso compulsivo independente de seus impactos na sua vida, na saúde, na sociabilidade, nas atividades diárias, nos estudos e trabalho, entre outros. A pessoa passa a negligenciar essas outras esferas da vida para se empenhar em seu vício, mesmo que isso tenha um custo elevado.
Muitas pessoas acreditam estar viciadas em telas por passarem um tempo considerável de seus dias olhando para telas. No entanto, quando isso não traz prejuízos ao seu funcionamento normal e a pessoa não sofre sintomas de abstinência ao ficar longe de telas, pode se tratar só de um caso de procurar outras prioridades e não necessariamente um vício.
Em suas observações clínicas atendendo jovens, quais são os principais transtornos apresentados?
O que mais pego é ansiedade e depressão, além de uso abusivo de maconha ;- com relação a ansiedade e depressão temos muitos fatores envolvidos que vão desde a baixa resiliência, isolamento social, até mesmo total falta de perspectiva.
Ainda neste sentido, a depressão pode estar ligada a questões tecnológicas sim, pois uma das questões mais prementes na psicologia do século XXI é a influência da tecnologia na saúde mental. O uso massivo de dispositivos digitais, redes sociais e aplicativos relacionados ao tema redefine a forma como as pessoas se relacionam consigo mesmas e com os outros. O desafio reside em equilibrar os benefícios dessas ferramentas com os riscos associados, como a dependência tecnológica e o aumento dos casos de ansiedade e depressão relacionados ao uso excessivo das mídias digitais, e isso já sabemos não é apenas uma questão social ou psicossocial, e sim uma questão que envolve diversos mecanismos cerebrais, como, por exemplo, todo sistema límbico.
É fato que o imediatismo proporcionado pelas tecnologias tem afetado nosso dia a dia, e apesar dos jovens serem os mais afetados (talvez pela proximidade com a tecnologia) os adultos não estão fora deste processo degradante. A cada dia, aportam neste mundo digital, mais e mais pessoas insatisfeitas com a sua própria vida, buscando no algoritmo das redes sociais a felicidade perdida.
De que maneira esses transtornos podem afetar a Vida de uma maneira geral?
Como abordado até o momento, o vicio nas telas equiparam-se a qualquer outro vício, ou seja, pode levar a pessoa a ter comportamentos disfuncionais, e consequentemente atrapalhar, ou melhor, desordenar toda sua vida, desde isolamento social até perda de emprego,m reprovação na escola, etc.
Considera acertada a decisão do Governo Federal em proibir a utilização de celulares nas escolas?
O ponto aqui, não é só político ideológico, apesar do texto acima, e sim, de organização e competência no que se está propondo, ou seja, a questão central não deve ser a proibição do celular em sala de aula e sim o uso recreativo do celular durante as aulas. E honestamente, com a tecnologia atual isso é fácil de se resolver.
Como disse na mensagem, aqui me assusta mais, pois temos muitos fatores políticos ideológicos envolvidos. Que vão desde um cuidado exagerado, ou mesmo, imposto, até o atual cenário onde os alunos começam a filmar as aulas apontando os processos políticos ideológicos sendo levados para sala de aula pelos professores na intenção de”evangelizar” seus alunos nas ideologias que pregam e aqui me refiro a esquerda e direita). O fato mais atual e gritante neste sentido é do estudante da UNB Wilker Leão.
Segue link dos vídeos do Wilker na UNB : https://youtu.be/CDgXTF3ZOAQ?si=Xl-NzWnRME5ItAAm
É verídica a afirmativa de que o uso Intensivo de telas prejudica as sinapses neurais? Quais seriam as implicações à longo prazo?
As conexões neurais são feitas a partir de estímulos. |Assim, é preciso entender melhor este processo, ou seja, voltamos a tudo o que falamos até agora.
É sempre bom lembrar que até agora tivemos mudanças de meios e não de métodos no processo educacional e, que nós seres humanos só aprendemos de 6 formas diferentes desde nossa existência.
É verdade que os jovens da geração atual demonstram um QI inferior ao das gerações anteriores?
Quem começou com este assunto foi o escritor do livro FABRICA DE CRETINOS DIGITAIS, e ele apresenta, ou melhor cria a ideia de causalidade, ou seja, o QI é menor em decorrência das redes sociais e consequentemente das telas. Nós já vimos que existem uma influência das telas OK, porém são diversos fatores associados que vão desde professores pessimamente formados, até falta de interesse do Governo em apoiar a educação. Assim alunos com formação deficitária obviamente terão menor QI, e/oiu dificuldade de aprendizagem.
Neste sentido é bom lembrar que a inteligência tem sido definida popularmente e ao longo da história de muitas formas diferentes, tais como em termos da capacidade de alguém/algo para lógica, abstração, memorização, compreensão, autoconhecimento, comunicação, aprendizado, con trole emocional, planejamento e resolução de problemas
E de acordo com a APA - "Os indivíduos diferem na habilidade de entender ideias complexas, de se adaptarem com eficácia ao ambiente, de aprenderem com a experiência, de se engajarem nas várias formas de raciocínio, de superarem obstáculos mediante o pensamento. Embora tais diferenças individuais possam ser substanciais, nunca são completamente consistentes: o desempenho intelectual de uma dada pessoa vai variar em ocasiões distintas, em domínios distintos, a se julgar por critérios distintos. Os conceitos de 'inteligência' são tentativas de aclarar e organizar esse conjunto complexo de fenômenos."
Já para Mainstream Science on Intelligence "uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender ideias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência. Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade estritamente acadêmica ou um talento para sair-se bem em provas. Ao contrário disso, o conceito refere-se a uma capacidade mais ampla e mais profunda de compreensão do mundo à sua volta - 'pegar no ar', 'pegar' o sentido das coisas ou 'perceber' uma coisa."
Assim, podemos dizer que a inteligência não verbal ensina como dominar a capacidade de interpretar e usar os sinais não verbais usados no contexto profissional para avaliar e influenciar os outros.
Já o QI, ou quociente de inteligência, é um índice calculado a partir da pontuação obtida em testes nos quais especialistas incluem as habilidades que julgam compreender as habilidades conhecidas pelo termo inteligência. É uma quantidade multidimensional - um amálgama de diferentes tipos de habilidades, sendo que a proporção de cada uma delas muda de acordo com o teste aplicado. A dimensionalidade das pontuações de QI pode ser estudada pela análise fatorial, que revela um fator dominante único no qual se baseiam as pontuações em todos os possíveis testes de QI. Esse fator, que é uma construção hipotética, é chamado g ou, algumas vezes, chamado de habilidade cognitiva geral ou inteligência geral.
Na população geral, a maioria dos indivíduos tem QI em torno de 100 (de 85 a 115). Indivíduos com QI acima de 130 são considerados superdotados, os com resultado abaixo de 70 apresentam deficiência intelectual, classificada como leve (QI 50-70), moderada (QI 35-50) e grave/profunda (QI <35).
Os Professores e o sistema de ensino em geral, estão preparados para lidar com os Nativos Digitais?
Não...definitivamente não; péssima formação. Em meu livro: “O uso da tecnologia na educação”, eu explico bem isso. Tivemos mudanças de meios e não de métodos.
Além do mais, os professores atuais, advém das piores escolas do IDEB.
Que recomendações daria aos pais e mestres sobre a melhor forma de apoiar a saúde psicológica e emocional dos jovens?
Falamos sobre isso... Regras Claras. O problema é que os pais atuais não querem “entristecer” seus filhos, não querem gerar traumas. Quando na verdade é o contrário. È preciso ORDEM e REGRAS CLARAS.
O autor do livro Fabrica de Cretinos Digitais aponta:
“Antes dos 6 anos Ausência de telas. Para crescerem de modo saudável, crianças pequenas não precisam de telas. Elas precisam que falemos com elas, que leiamos histórias para elas, que lhes demos livros. Elas precisam se entediar, brincar, montar quebra-cabeças, construir casas com Lego, correr, pular, cantar. Elas necessitam desenhar, praticar esporte, música, etc. Todas essas atividades (e muitas outras semelhantes) constroem seu cérebro de forma mais segura do que qualquer tela recreativa. Ainda mais que a ausência de exposição digital durante os primeiros anos da vida não provoca nenhum impacto negativo a curto ou longo prazo. Dito de outra maneira, a criança não se tornará um dependente no mundo digital porque não foi exposta às telas durante seus seis primeiros anos de sua vida. Ao contrário. O que ela desenvolverá longe das telas a ajudará a melhor utilizar o que o digital pode oferecer de positivo”.
Depois de 6 anos
“Menos de trinta minutos a uma hora por dia (tudo incluído!). É neste ponto, sem dúvida, que se encontra “a” boa notícia deste texto! Em dose modesta, as telas não são nocivas (obviamente, desde que os conteúdos sejam adaptados e o sono preservado). Em particular, quando o consumo diário é inferior a 30 minutos, elas não parecem ter efeitos negativos detectáveis. Entre 30 minutos e uma hora, emergem os danos, mas estes parecem bem fracos e podem ser considerados toleráveis. A partir desses dados, uma abordagem prudente poderia propor uma graduação por idade: máximo de 30 minutos até os 12 anos e 60 minutos além disso. Aos pais, convém lembrar que a quase totalidade de suportes digitais (tablets, smartphones, consoles de videogames, computadores, televisão, Internet, etc.) propõe hoje, sob forma de opções ou aplicativos, sistemas úteis e eficazes de controle temporal. Uma vez atingido o limite diário previamente definido, o aparelho é bloqueado. Dito isso, alguns pais parecem considerar que “proibir todo uso de telas é quase tão fácil quanto permitir o uso reduzido”, como indicou recentemente ao New York Times uma mãe de família, antiga pesquisadora de computação social e casada com um engenheiro do Facebook. A opção parece ainda mais interessante pois ela é, ao mesmo tempo, livre de dano (conforme já observamos) e capaz de evitar inúmeros conflitos. É um pouco como ocorre com os consumos alimentares hedônicos. Com frequência, é mais fácil não comer chocolate quando não há mais em casa do que quando é preciso se controlar para comer só um pedacinho. 6 Quartos sem telas digitais. As telas nos quartos têm um impacto especificamente desfavorável. Elas aumentam o tempo de uso (em particular tomando o lugar do sono) e favorecem o acesso a conteúdos inadequados. O quarto deveria ser um santuário, livre de qualquer presença digital. E para responder a uma objeção frequentemente apresentada: existem relógios despertadores de qualidade e baratos... O smartphone não é necessário (eles podem muito bem passar a noite dentro de um cesto na sala de estar). Ausência de conteúdos inadequados. Seja sob a forma de videoclipes, séries ou videogames, etc., os conteúdos de caráter violento, sexual, tabagista, alcoólico, etc., têm profundo efeito sobre a maneira como as crianças e adolescentes percebem o mundo. No mínimo, é importante respeitar as indicações etárias (tendo em mente a impressionante permissividade de certos sistemas de classificação que, tomando o exemplo do sistema francês, revela uma tolerância quase surrealista). Aí também, os aplicativos permitem, em quase todos os suportes digitais, bloquear o acesso a conteúdos inadequados. É claro, há exposições terceiras, através do smartphone, do computador ou do tablet de um colega. Estas são incontroláveis. Nunca acessar antes de ir para a escola. Os conteúdos “estimulantes”, em especial, esgotam de forma duradoura as capacidades cognitivas da criança. De manhã, deixe-a sonhar, se entediar e tomar o café da manhã num ambiente sereno; escute-a, fale com ela, etc. Seu rendimento escolar será bem melhor. Nunca à noite, antes de ir se deitar. As telas “noturnas” afetam intensamente a duração (deita-se mais tarde) e a qualidade (dorme-se mal) do sono. Os conteúdos “estimulantes” são, aí também, muito prejudiciais. Desligue tudo ao menos 1h30 antes da hora de ir para a cama. Uma coisa de cada vez. Último ponto, mas de extrema importância; as telas devem ser utilizadas sozinhas (uma de cada vez). Devem ficar fora do alcance durante as refeições, os deveres e as conversas familiares. Quanto mais um cérebro em desenvolvimento é submetido a multitarefas, mais ele se torna permeável à distração. Além disso, quanto mais coisas ele faz ao mesmo tempo, pior é seu desempenho e pior é seu nível de aprendizado e memorização. Demonstração definitiva, como se isso ainda fosse necessário, de que nosso cérebro não é de fato feito para as práticas da nova modernidade digital. Menos telas significa mais vida. Estas regras, sem dúvida restritivas, nada têm de extravagantes. Elas são incrivelmente eficazes, conforme vimos. Quanto às horas reconquistadas da hegemonia das telas, é preciso devolvê-las à vida. Isso não é simples nem imediato, pois é toda a ecologia familiar que precisa se reorganizar. Mas se houver vontade, as crianças se adaptam; e o tempo “vazio”, pode se encher de novas atividades: falar, trocar ideias, dormir, praticar esporte, tocar um instrumento musical, desenhar, pintar, esculpir, dançar, cantar, fazer cursos de teatro e, obviamente, ler. E se o livro parecer realmente inóspito, não hesite em procurar as histórias em quadrinhos. Algumas têm uma riqueza criativa e linguística surpreendente. Finalmente, se tudo isso parece difícil, se seus filhos protestam e lançam contra você o ferro em brasa da culpabilidade, lembre-se de uma coisa: quando crescerem, muitos lhe agradecerão por ter oferecido à sua existência a fertilidade libertadora do esporte, do pensamento e da cultura, no lugar da esterilidade perniciosa das telas.
Existem clínicas exclusivas de desintoxicação tecnológica no país?
Que eu saiba não. Mas... a abordagem psicológica para este trabalho é a psicologia cognitiva comportamental – é uma abordagem com respaldo científico, ou seja, baseada em evidências, e muito utilizada para tratamento de vícios.
Café Namastech
Para além do conteúdo dessa entrevista esclarecedora, trago aqui um link do papo descontraído e rápido, que tive no final de 2024, com o Dr. Demerval Bruzzi sobre o tema dessa coluna. Assista: Os Impactos do Excesso de Telas