
Há sete anos, minha esposa Isabela e eu fundamos uma agência de conteúdo para redes sociais chamada Sophya . Naquela época, fomos uma das primeiras empresas do Brasil criadas para atender exclusivamente pessoas físicas. Um serviço extremamente comum hoje, mas que, na virada de 2017 para 2018, era novidade.
Desde o início, nosso propósito foi trazer para o mundo digital personalidades que, por diferentes razões, ainda não tinham aderido às redes sociais de maneira ativa. Nossos clientes ideais eram palestrantes, acadêmicos, autores e figuras públicas que estavam começando a sentir em seus negócios o impacto da falta de presença digital. E justamente por termos uma pegada voltada à educação, nos inspiramos na filosofia (amor à sabedoria) para batizar a agência.
No meio do caminho, me vi obrigado a também produzir para o meu próprio perfil e, a partir disso, acabei criando toda uma nova carreira como mentor, professor digital e palestrante — algo que eu mesmo nem imaginava quando comecei. O convite para me tornar colunista aqui no IG veio justamente por causa dessa produção nas redes.
Resumindo: há sete anos, o meu trabalho está diretamente ligado às redes sociais. Hoje, essa relação é parte do meu currículo. Tanto que, em praticamente toda palestra que dou, lanço uma pergunta ao público: você usa ou é usado pelas redes sociais?
Na minha visão, usar efetivamente as redes significa que você obtém algum benefício no mundo real a partir do que posta e interage. Esses benefícios podem ser resumidos em três categorias: reconhecimento profissional, realização pessoal e retorno financeiro.
Já ser usado pelas redes significa que você é apenas um consumidor de conteúdo. A big tech contabiliza suas curtidas, seu tempo de tela, suas conversas, e transforma tudo isso em dados para te impactar com anúncios e mais conteúdos viciantes. Um sistema projetado para te prender.
Durante muito tempo, eu estava confortável com essa relação. Eu me dizia que estava tudo bem ser usado pelas redes, desde que eu também as usasse a meu favor . O Instagram podia captar meus dados, minha atenção e até parte da minha sanidade mental, porque, em troca, eu via vantagem. Afinal, aquelas cinco ou seis horas diárias de tela eram “trabalho”. Eu estava sempre “me inspirando”, “colhendo referências”, “modelando estratégias”, me “atualizando das trends”.
Até que comecei a sentir na pele o famoso Brain ROT — o apodrecimento cognitivo causado pelo excesso de consumo digital.
Eu já não conseguia mais terminar um livro. Minha atenção em um programa de TV qualquer ou em um filme mais longo era pulverizada. Meu olhar precisava estar dividido com a telinha o tempo todo. Minha memória, que já não era das melhores, piorou. E, a partir disso, vieram a ansiedade, o desânimo e um estado de anestesia mental constante.
Paralelamente, as plataformas se tornaram cada vez mais tóxicas. Parecia que tiraram o “social” das mídias sociais. O conteúdo dos nossos amigos — aquele que era o motivo de estarmos lá na época do Orkut, do Facebook ou do início do Instagram — simplesmente desapareceu. Os algoritmos e a produção massificada de influenciadores eliminaram nossa vontade de postar a foto espontânea do fim de semana. As regras infinitas para feed, stories, reels, directs, canais e afins tornaram tudo um processo burocrático e exaustivo, longe da liberdade criativa que as plataformas prometeram.
E quando você para para pensar, percebe que estamos viciados em uma overdose de nada. Existe uma ilusão de que estamos nos informando, aprendendo, militando, nos movimentando… mas 90% disso é só ruído.
Então, no final do ano passado, tomei uma decisão: não quero mais ser usado pelas redes sociais. Quero apenas usá-las.
Se o custo para extrair um benefício das redes for perder minha sanidade, minha atenção e minha vida offline, não vale a pena.
Na virada do ano, apaguei todos os aplicativos dessas plataformas do meu celular. Agora, dois meses e sete dias depois, posso afirmar que essa decisão não tem volta. Meu sono melhorou. Meu convívio familiar também. Minha atenção está voltando aos poucos. E o melhor de tudo: sinto que não estou perdendo absolutamente nada.
Na sexta-feira de Carnaval, arquivei todo o conteúdo do meu perfil do Instagram. Um gesto simbólico para marcar essa nova fase. O engraçado é que, antes, eu achava impossível fazer isso. Como se minha identidade estivesse ali, cristalizada nos posts, nas interações, nos números. Mas, na prática, o que aconteceu? Nada. Nenhuma catástrofe, nenhuma grande perda. Só um espaço em branco — e um alívio.
O que me fez perceber que, por muito tempo, eu comprei a ideia de que minha relevância dependia dessa presença constante. Mas será que dependia mesmo? Ou será que fui condicionado a acreditar nisso?
A questão não é demonizar as redes sociais. Eu continuo vendo valor nelas. Mas, hoje, quero que elas trabalhem para mim, e não o contrário. Se eu não preciso ver um feed infinito de vídeos para estar informado, se posso conversar diretamente com amigos sem depender de um algoritmo, se posso criar conteúdo sem me sentir sugado pelo processo… então é por aí que eu vou.
No fim das contas, é possível usar sem ser usado? Eu diria que sim — mas exige um grau de consciência e intenção que a maioria de nós, acostumados ao fluxo automático das plataformas, ainda não desenvolveu. O que eu posso garantir é que vale a pena tentar.