Intel fabrica primeiros qubits e computação quântica fica mais próxima

Pesquisa da Intel permite fabricar chips para computação quântica nas mesmas fábricas em que são produzidos processadores tradicionais

Minúsculo chip de computação quântica na borracha de um lápis
Foto: Divulgação/Intel
Minúsculo chip de computação quântica na borracha de um lápis

Quando o assunto é computador quântico, os qubits quase sempre aparecem na conversa como um conceito abstrato e distante. Pode ser diferente a partir de agora: a Intel revelou ter produzido, com sucesso, os primeiros qubits de silício em escala industrial (sem passar por etapas manuais). Trata-se de um avanço que torna a computação quântica mais próxima da realidade.

A Intel não chegou a esse feito sozinha. O trabalho, que foi revisado por pares e divulgado na revista científica Nature Electronics, é fruto de uma parceria com a QuTech, um centro de pesquisa sobre computação quântica criado pela Universidade Técnica de Delft e a Organização Holandesa de Pesquisa Científica Aplicada.

O que Intel e QuTech desenvolveram, basicamente, é um processo que possibilita a produção de mais de dez mil matrizes com vários qubits de silício em um único wafer. Mas o que isso quer dizer? Comecemos pela definição de qubit.

O que é qubit?

Qubit é uma abreviação de bit quântico. Enquanto na computação atual (baseada na lógica binária) temos um bit assumindo um estado representado por 0 ou 1, na computação quântica um qubit pode assumir 0, 1 ou uma superposição de ambos os valores.

As possibilidades que essa abordagem traz são tidas como revolucionárias. Não por acaso, a computação quântica é vista como a resposta para problemas tão complexos que, hoje, levariam dias ou semanas para serem resolvidos pela computação tradicional.

Teoricamente, quanto mais qubits um computador quântico suporta, maior é a sua capacidade de processamento. O problema é que a indústria precisa superar diversos desafios para que a computação quântica se torne viável e, sobretudo, confiável.

Por que o avanço da Intel é promissor?

Um dos tais desafios está no processo de fabricação de chips quânticos. A indústria e centros de pesquisa enfrentam dificuldades para desenvolver um processo que permita uma produção escalável.

A pesquisa realizada pela Intel e a QuTech possibilita que wafers (em poucas palavras, peças de silício em formato de disco que são divididas para dar origem a processadores) voltados à computação quântica sejam fabricados com tecnologias de litografia óptica que são usadas para produzir os chips CMOS (Complementary Metal-Oxide-Semiconductor) mais modernos da companhia.

Em clima de celebração, a Intel explica que o resultado desse trabalho é um processo que permite que um wafer de silício com diâmetro padrão de 300 mm possa conter mais de dez mil matrizes (pontos quânticos) de qubits cujo rendimento é superior a 95% (ou seja, pelo menos 95% dessas unidades são funcionais).

Eis o motivo da celebração: a Intel conseguiu produzir um wafer para computador quântico que pode ser aproveitado em quase toda a sua totalidade e, ao mesmo tempo, não teve que promover mudanças expressivas em sua linha de produção. Em tese, isso abre espaço para que a companhia produza chips quânticos e convencionais nas mesmas unidades fabris.

É claro que ainda há muito trabalho a ser feito para que a computação quântica se torne, de fato, viável. Mas James Clarke, diretor de hardware quântico da Intel, não esconde a empolgação com o feito mais recente.

"Nossa pesquisa prova que um computador quântico em escala real não apenas é possível como pode ser produzido em uma fábrica de chips atual. Estamos ansiosos para continuar trabalhando com a QuTech para aplicar nossa experiência em fabricação de silício para liberar todo o potencial do quântico", declarou.