Por que o cromossomo Y dos neandertais não está no nosso DNA?
Augusto Dala Costa
Por que o cromossomo Y dos neandertais não está no nosso DNA?

A ciência tem cada vez revelado mais sobre os neandertais , estudando restos mortais, genes e evidências arqueológicas das mais variadas. Um dos mistérios relacionados à espécie prima, no entanto, fica por conta de seus cromossomos — é possível ver traços de todo o genoma dos neandertais no DNA dos Homo sapiens , menos do cromossomo Y.

O cromossomo Y é responsável pela criação de indivíduos do sexo masculino, e esse fato pode ser a chave para entender a ausência do cromossomo neandertal nos humanos modernos. Embora a ciência ainda não consiga cravar uma explicação, há algumas teorias.

Sexo e cromossomos neandertais

Cientistas já recuperaram cópias completas do genoma de neandertais machos e fêmeas graças a ossos e dentes preservados, revelando cerca de 20.000 genes em 23 cromossomos, algo muito similar ao nosso genoma.

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Nos humanos modernos, um gene do cromossomo Y chamado SRY é o que inicia o processo de transformar o embrião XY em um homem, como na maioria dos primatas. Não foi encontrado, até o momento, o gene SRY dos neandertais .

Para que os genes dos neandertais tenham chegado aos humanos modernos, em algum momento as espécies devem ter se cruzado. Isso pode trazer algumas explicações para a ausência do cromossomo Y — talvez apenas as mulheres neandertais tenham cruzado com os Homo sapiens homens? É uma hipótese.

Além de improvável, essa ideia não bate com o fato de que também não há traço de DNA mitocondrial dos neandertais em nosso genoma, já que este só aparece na linhagem materna.

Outras possibilidades são evolutivas. Talvez o cromossomo Y dos neandertais não fosse tão eficiente na formação de machos, e o cromossomo equivalente Homo sapiens tenha tomado esse lugar.

Nesse cromossomo, mutações genéticas benéficas — as que tornam espermatozoides mais rápidos ou eficientes, por exemplo — substituem as mais desavantajadas rapidamente em uma população, o que é chamado de “efeito caroneiro”.

Nos humanos, em geral, o cromossomo Y está se degradando ao longo do tempo, o que poderia ser o caso dos neandertais — há uma possibilidade de que o gene SRY já estivesse perdido em seus cromossomos Y , e que a espécie estivesse em um processo complicado de evoluir um novo gene para determinar o sexo dos filhos, como alguns roedores fizeram.

Outra hipótese — esta a mais provável entre todas — envolve a “regra de Haldane”. O biólogo britânico J.B.S. Haldane notou, em um trabalho publicado nos anos 1920, que quando há híbridos entre espécies e um dos sexos é infértil ou pouco saudável, ele será sempre o sexo com cromossomos diversos.

Isso quer dizer que, em mamíferos onde as fêmeas são XX e os machos XY, os híbridos machos é que são estéreis ou pouco adaptados, por exemplo. Embora isso se encaixe bem na questão dos neandertais, a ciência ainda não consegue explicar porque a regra de Haldane funciona dessa forma, sendo um dos mistérios da genética clássica.

Não seria improvável que os cromossomos Y de uma espécie tenham evoluído para funcionar bem com outros cromossomos de seu próprio povo, mas não com os de espécies semelhantes, mesmo que sejam muito parecidas.

Genes no cromossomo Y evoluem muito mais rápido do que genes em outros cromossomos, e muitos deles têm funções relacionadas à fabricação de espermatozoides — isso pode explicar a infertilidade dos híbridos , e, talvez, até mesmo gerado as diferenças entre nossas espécies. A barreira reprodutiva, que poderia incluir a perda do Y nos neandertais, pode ser o que separou os Homo sapiens da espécie prima desde o princípio.

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