Um novo aplicativo que transforma um smartphone em um sismógrafo está sendo testado por cientistas da Califórnia. Os pesquisadores querem que as pessoas baixem o programa para ajudar a melhorá-lo. O objetivo é criar uma rede para reunir dados sobre tremores e também emitir alertas quando necessário.
Os movimentos de terra destrutivos levam algum tempo para sair do epicentro de um grande tremor. E, com o aplicativo, pessoas em locais distantes poderiam receber alertas vários segundos antes em seus telefones. "Alguns segundos de antecedência é tudo que é preciso", diz o professor Richard Allen, do Laboratório Sismológico da Universidade da Califórnia em Berkeley, à BBC.
"Baseado no que cientistas têm dito sobre terremotos, se todo mundo fosse para debaixo de uma mesa sólida, seria possível reduzir o número de feridos por causa de um tremor em 50%."
Algoritmo sofisticado
O aplicativo é baseado em um algoritmo sofisticado para analisar as diferentes vibrações que são detectadas pelo acelerômetro, um tipo de sensor, instalado no aparelho. Esse algoritmo foi "treinado" para distinguir os movimentos humanos diários e aqueles específicos durante um terremoto. Tudo funciona sem o usuário perceber, como um programa que supervisiona a atividade física do dono do telefone.
O MyShake consegue captar um terremoto em 93% dos casos atualmente e consegue fazer isso mesmo quando o telefone está no bolso ou em uma bolsa. Uma vez ativado, ele envia uma mensagem a um servidor central por meio da rede de dados, onde são calculadas a localização e a magnitude do tremor.
Os falsos positivos podem ser filtrados, porque o servidor está conectado às estações de vigilância sísmica e aos sistemas de GPS dos outros usuários do aplicativo, o que permite comparar os dados. Por enquanto, o aplicativo está disponível apenas para o sistema Android, do Google. Uma versão para o sistema iOS, da Apple, deve ser lançada em breve.
Alertas
É importante ressaltar que esta versão ainda não envia alertas de terremotos para os usuários. Só existem alguns sistemas assim no mundo hoje, como o ShakeAlert, que também é desenvolvido por Allen na Califórnia. Eles buscam detectar as ondas de movimento primárias geradas por um terremoto, menos destrutivas que as secundárias.
A Califórnia tem várias estações sismológicas de ponta ligados ao sistema do ShakeAlert e, em 2014, enviou um alerta para usuários em São Francisco oito segundos antes de um terremoto ocorrer no Estado.
Isso incluiu o sistema de metrô da cidade, que busca ser capaz de detectar terremotos para poder desacelerar seus trens antes deles ocorrerem. Os telefones com o MyShake receberão avisos assim no futuro. "O aplicativo pode contribuir para sistemas de monitoramento de tremores onde eles já existem, como na Califórnia", diz Allen.
"Mas pode também enviar alertas para regiões que não têm esses sistemas, locais como a Índia e o Nepal, onde terremotos costumam ser bastante destrutivos, e isso seja talvez seja ainda mais importante."