A polícia da cidade de Tempe, no Arizona, Estados Unidos, divulgou nesta quinta-feira (21) um relatório de 348 páginas fruto da investigação de um acidente protagonizado por um carro autônomo da Uber que atropelou e matou uma pedestre. No relatório, a polícia confirmou que a motorista Rafaela Vasquez, que estava no veículo para atuar em situações de emergências, estava distraída assistindo um episódio do reality show americano The Voice no celular.
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A investigação revelou que a motorista do carro autônomo estava logada e ativa no aplicativo de streaming Hulu 5 segundos antes do acidente. Ela só teria retomado a atenção para a pista e acionado o freio cerca de 0,5 segundo antes do veículo colidir, atropelando e matando a pedestre Elaine Herzberg, de 49 anos.
A informação de que a motorista estava assistindo a um programa na hora do acidente foi obtida com ajuda do próprio Hulu. A empresa de streaming resolveu ajudar nas investigações, após receber uma intimação da polícia dizendo que o compartilhamento desse dado seria "crucial" para o desfecho de "um caso muito sério". Dessa forma, o Hulu confirmou que a motorista assistiu ao programa por 42 minutos, encerrando a transmissão às 21h59, coincidindo com o exato momento do acidente.
Uber e motorista em apuros
No mês passado, ainda antes das investigações serem encerradas, a polícia já tinha comunicado que descobriu que carro autônomo da Uber notou a vítima, mas decidiu não parar, isso porque o software do carro em teste estava ajustado para ser mais lento nas reações e tomadas de decisão.
A intenção desse atraso seria preveir que "falsos positivos", como uma sacola de plástico ou um folha de árvore que passasse pelo caminho, provocasse freadas bruscas que poderiam ferir os passageiros do carro ou até mesmo provocar acidentes com veículos que, por exemplo, estava na traseira.
A descoberta do site The Information conta que o software chegou a detectar a mulher de 49 anos que atravessava a rua empurrando uma bicicleta fora da faixa de pedestres e acabou sendo atropelada, mas, por conta do ajuste para retardar a tomada de decisão, não reagiu a tempo de evitar o acidente.
Na ocasião, porém, as autoridades estavam divididas sobre a possibilidade de um condutor humano ter ou não condições de notar a mulher naquelas condições de visibilidade e velocidade.
A investigação, que também já tinha revelado que o carro estava numa velocidade acima da máxima permitida pela via, seguiu por conta do Conselho Nacional de Segurança no Trânsito dos Estados Unidos. Também na época, o próprio vídeo divulgado pelo Departamento de Polícia de Tempe com imagens internas e externas gravadas pelo carro no momento do atropelamento davam a impressão de que a motorista/condutora-observadora estava distraída por longo períodos, inclusive no momento imediatamente anterior ao acidente.
Dessa vez, porém, a polícia de Tempe classificou o caso como “inteiramente evitável”. A motorista poderá ser acusada de homicídio, a depender da decisão dos promotores responsáveis. Ela também poderá ser demitida, já que o Uber não permite o uso de celulares durante os testes.
Em seu depoimento ao Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês), Rafaela disse que estava monitorando o sistema do carro. Ela garantiu que não usou celulares até a colisão.
As novas informações divulgadas pela polícia podem prejudicar o Uber, que decidiu suspender os testes de carros autônomos no Arizona em maio. Novas decisões de autoridades americanas podem impedir os planos da empresa de retomar os experimentos no estado.
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Mudanças na Uber
Indepentemente do desfecho, o acidente que também estava sendo investigado pela própria Uber, provocou grandes mudanças na empresa. Além de contratar o ex-chefe do próprio Conselho Nacional de Segurança no Trânsito dos Estados Unidos, a companhia demitiu o diretor responsável pela área e retirou todos os veículos que estavam sendo testados das ruas no Arizona e também em San Francisco e Petersburgo nos Estados Unidos e em Toronto, no Canadá.
O diretor demitido Anthony Levandowski, por sinal, era um grande entusiasta da tecnologia de carros automatizados e queria ver os resultados o mais rápido. Ele teria encontrado no ex-CEO da Uber, Travis Kalanick, o apoio necessário para ignorar certas barreiras de segurança como a alteração no software que pode ter sido a "causa provável" da morte da mulher de Elaine Herzberg, segundo fontes ouvidas pelo próprio The Information .
Na ocasião, uma troca de mensagens de Levandowski e Kalanick teria complicado a situação dos dois. O primeiro teria dito que era necessário pegar "todos os atalhos possíveis" para lançar a tecnologia antes dos rivais, e o segundo teria respondido dizendo "manda ver", mas, em julgamento, disse "não se lembrar" da troca de mensagens.
Crise dos carros autônomos
A tendência de atropelar as etapas de Levanwoski, porém, já teria se manifestado no emprego anterior do diretor quando este trabalhava no Google, também no setor de desenvolvimento de carros autônomos, portanto, mais especificamente na Waymo - empresa da Alphabet (dona do Google) responsável por isso.
Na ocasião, Levandowski teria reforçado sua pressa em diversos e-mails aos seus superiores, incluindo um onde fala: "nós não precisamos de sistemas redundantes de freios e direção, ou um carro novo em folha, nós precisamos de um software melhor. Para conseguir isso, nós devíamos lançar os primeiros mil carros o quanto antes. Eu não entendo por que não fazemos isso. Parte da nossa equipe parece estar com medo de fazer isso".
Como se sabe, não há nenhum carro autônomo disponível para venda no mundo ainda hoje, mas a precaução da Waymo em não aceitar a recomendação de Levandowski não livrou a empresa de ter seus próprios problemas com a tecnologia.
Na sexta-feira, 4 de maio, uma de suas van autônomas se envolveu num acidente e o condutor saiu ferido . A apuração inicial, porém, aponta que a empresa não teve culpa, mas a tecnologia também não conseguiu prever o que acabaou acontecendo.
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Sendo assim, Uber, Tesla, Waymo e GM, as líderes do segmento de carro autônomo se vêem às voltas com uma crise de confiança em relação a essa nova tecnologia. Resta saber se elas vão persistir até funcionar ou morrer tentando.