Nesta semana, Bill Gates deu uma declaração interessante. Ele, que liderou por muito tempo a lista dos maiores bilionários do mundo, revelou que seu grande erro como gestor da Microsoft foi não ter conseguido posicionar a sua empresa para ocupar o lugar que hoje é controlado pelo Android.
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“No mundo do software, especialmente entre as plataformas, esses são mercados no qual o ‘vencedor leva tudo’. Então o meu maior erro foi qualquer um de que eu participei que causou a Microsoft a não ser o que o Android é. Ou seja, o padrão para plataforma de celulares não-Apple. Era uma coisa natural para a Microsoft vencer. O vencedor realmente leva tudo. Se você tiver metade ou dos apps, ou 90% dos apps, você está a caminho da distribuição completa. Há espaço para exatamente um sistema operacional não-Apple e o que isso vale? São US$ 400 bilhões transferidos para a ‘companhia G’ [Google] para a ‘companhia M’ [Microsoft]”, disse Bill Gates em entrevista.
E quando você pensa, o Android é hoje para os celulares exatamente o que o Windows é há décadas para os computadores pessoais: um sistema operacional dominante, que concentra quase totalmente a produção de aplicativos e softwares e não dá espaço para que outros concorrentes tomem o seu lugar, por melhor que eles sejam, justamente porque os adversários não podem ter acesso à vasta gama de aplicativos desenvolvidos para o Windows.
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No fim das contas, quais foram os erros que impediram a Microsoft de tomar o lugar do Android?
Erro 1: custo
O Windows é um sucesso absoluto, e não é possível falar em computação pessoal sem falar do sistema operacional da Microsoft. São bilhões de pessoas ao redor do mundo com algum nível de contato com o software. Repetir o modelo de negócios nos celulares deve ter o mesmo sucesso, certo? Errado.
Enquanto o Android apostou em uma plataforma aberta e gratuita para as fabricantes, a Microsoft cobrava por licenças do Windows Phone, e isso ajudou a diminuir as opções do consumidor. Sem empresas gigantes como Samsung, LG, Motorola, Sony e tantas outras do seu lado, a Microsoft não conseguia levar seus sistema até o público.
Erro 2: atraso
Você viu?
A Microsoft talvez tenha demorado a entender que a mobilidade seria o próximo grande salto da computação pessoal e não deu a atenção devida a esse mercado no momento correto, que foi quando os primeiros smartphones começaram a se popularizar na metade da década passada.
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Terry Myerson, ex-executivo da Microsoft que liderou por um tempo a divisão de Windows Phone na empresa, aponta que um dos erros da companhia foi que os primeiros celulares a usarem o sistema eram baseados em uma versão incompleta do Windows CE, voltado para sistemas embarcados, o que impediu que os aparelhos tivessem a mesma versatilidade dos computadores com Windows.
Quando a Microsoft decidiu levar a sério os smartphones, com o lançamento do Windows Phone 7 em 2010, o Google já estava ensaiando a dominação do mercado de smartphones e mantendo relações firmes com fabricantes, varejistas e operadoras, enquanto a Microsoft precisava tentar tirar o atraso.
Erro 3: abandono de usuários
O Windows Phone nunca foi a mais popular das plataformas mobile, apesar de alguns picos de popularidade que fizeram com que, por exemplo, o sistema se tornasse o segundo mais comprado no Brasil durante um período. Ainda assim, isso tinha mais a ver com o alto custo dos iPhones do que pelo gosto pelo Windows.
Diante dessa realidade, a Microsoft jamais poderia abandonar sua base mais leal de fãs, e foi justamente isso que a empresa fez quando anunciou o Windows Phone 8. Nenhum aparelho que estava rodando o Windows 7, 7.5 ou 7.8 foi atualizado para o novo sistema, o que foi considerado uma traição grave na época.
Na prática, a decisão diluiu ainda mais a base de usuários e fez com que muitos procurassem seu próximo celular em outras plataformas.
Consequências: falta de celulares e aplicativos
Não há como falar que a falta de aparelhos rodando o Windows Phone e o déficit de aplicativos em relação a outras plataformas tenham sido erros da Microsoft. Sim, no fim das contas foram esses defeitos que mataram o sistema definitivamente, mas eles são apenas sintomas de algo que já nasceu errado.
As falhas mencionadas previamente fizeram com que os usuários não aderissem à plataforma, o que, por consequência, fez com que desenvolvedores não gastassem seu tempo desenvolvendo para a plataforma, afastando ainda mais os usuários e criando um ciclo que só poderia levar ao fim do sistema. Da mesma forma, as fabricantes, diante dessa turbulência, preferiram não lançar celulares com o sistema da empresa de Bill Gates para não perder dinheiro, então quem não era fã da Nokia (na época praticamente única parceira da Microsoft) e dos Lumias ficava sem opção.