Wally Funk%, do grupo “Mercury 13”, viajará ao espaço com a Blue Origin
Rafael Arbulu
Wally Funk%, do grupo “Mercury 13”, viajará ao espaço com a Blue Origin

Na nova corrida espacial, que tem como protagonistas três dos homens mais ricos do mundo, esta terça-feira é o grande dia para Jeff Bezos e sua companhia Blue Origin .

O fundador da Amazon acabou de deixar o comando da gigante do comércio eletrônico para embarcar na maior aventura que o dinheiro já pode comprar: viajar ao espaço. Na manhã de hoje, o homem mais rico do mundo vai cruzar a fronteira entre a atmosfera terrestre e o espaço .

O foguete New Shepard, de sua empresa Blue Origin , decolará de um deserto no oeste do Texas com ele próprio dentro. O planeta todo estará de olho, principalmente seus rivais Richard Branson, da Virgin Galactics, e Elon Musk, da SpaceX.

Confira neste especial tudo o que você precisa saber para acompanhar esse feito histórico.

Entre o perigo e o êxtase: como será voo de Bezos?

O lançamento começará às 8h30, com previsão de decolagem às 10h (horário de Brasília). Todo o voo será transmitido ao vivo pelo site da Blue Origin.

Este será o 16º voo da Blue Origin, mas o primeiro com passageiros a bordo. Bezos terá a companhia de outras três pessoas, um feito extraordinário e cheio de riscos até mesmo pelo seu ineditismo.

Especialistas observam que não é possível afastar o risco de acidente, inclusive porque o foguete que vai impulsionar a nave batizada de New Shepard (uma homenagem ao astronauta pioneiro Alan Shepard ) sobe carregado de muito combustível.

Foguete tem seus riscosLucas Fonseca, engenheiro espacial responsável pelo projeto Garatéa, voltado à divulgação científica, que já teve um experimento brasileiro levado à Estação Espacial Internacional (ISS) pela SpaceX, analisou esse risco no mês passado, em entrevista ao GLOBO:

"O fato de Bezos ter anunciado antes a sua saída da direção da Amazon foi certamente pensando nisso, pois seria incabível imaginar um CEO da maior empresa de e-commerce do mundo numa viagem inaugural a bordo de um foguete que, ao menos em tese, pode explodir. Esse risco existe. As ações da Amazon despencariam só com a ideia. Mas, se a viagem der certo, passará uma mensagem muito positiva para o mercado, é claro."

Bezos diz que está prestes a realizar um sonho de criança, mas certamente um dos motivos de o bilionário embarcar no primeiro voo é uma tentativa de dar confiabilidade à tecnologia na qual investiu muito dinheiro.

11 incríveis minutos no espaço
A viagem deve durar cerca de 11 minutos, divididos em cinco etapas:

  • O lançamento do foguete
  • A separação da cápsula com os passageiros do propulsor
  • A cápsula alcança o espaço em 11 minutos e fica cerca de 4 minutos acima da linha que divide a atmosfera da Terra e o espaço
  • O retorno e pouso do propulsor de maneira autônoma
  • O retorno da tripulação a bordo da New Shepard à Terra, em queda livre, com o peso amortecido por três grandes paraquedas.

Maior janela já voltada para o espaço

Um dos diferenciais da nave New Shepard são as janelas panorâmicas de 110 x 73 centímetros. Isso vai garantir um dos momentos mais esperados, a visão da Terra.

Segundo a empresa, serão as maiores janelas que já voaram no espaço. Além disso, a cápsula conta com espaço para seis pessoas, onde cada passageiro tem sua própria janela.

No centro da cápsula, há um sistema de fuga da tripulação. Caso ocorra alguma falha do foguete, a cápsula que carrega os passageiros é programada para se separar do impulsionador e escapar do acidente.

Batizada em homenagem a Alan Shepard, o primeiro americano a ir ao espaço, a cápsula New Shepard é uma espaçonave com sistema reutilizável capaz de levar carga e tripulantes para fora da atmosfera terrestre em 11 minutos.

Na viagem desta terça, os quatro passageiros ficarão no ambiente controlado da cápsula, mas ela tem condições de levar ao espaço até seis pessoas. Logo abaixo, há uma peça aerodinâmica responsável para impulsionar a New Shepard e reduzir o uso de combustível na volta para a Terra.

Ela está acoplada em freios que reduzem à metade a velocidade do foguete no momento da volta, e a um motor capaz de realizar uma aterrissagem controlada com queda de velocidade a até 8 km/h.

Para sustentar a estrutura, barbatanas nas laterais também conduzem a espaçonave de volta para a plataforma de desembarque e, no espaço, guiam-na pela velocidade do ar. Por fim, há uma engrenagem de pouso, para que a New Shepard possa ser reutilizada.

Nada de testemunhas oculares

Jeff Bezos e seus companheiros de viagem já estavam no Texas desde ontem para os últimos preparativos, informou ontem o bilionário pelo Instagram. Ele será acompanhado do irmão Mark, Wally Funk e Oliver Daemen.

Os quatro participaram ontem de um treinamento para se prepararem para o voo. O lançamento do New Shepard será realizado em uma área remota no Texas, perto da pequena cidade de Van Horn.

Segundo a Blue Origin, não há áreas para pessoas assistirem nas proximidades do local de lançamento.

Diferentemente do voo de Branson, em que cerca de 500 espectadores puderam acompanhar de perto o voo do Virgin Galactic no Porto Espacial América, no Novo México, o voo de Bezos não terá a presença do público.

O Departamento de Transporte do Texas determinou o fechamento de uma parte da Rodovia Estadual 54 próxima ao local de lançamento e não permitirá espectadores na estrada.

Apesar das barreiras, a região já está mobilizada para o evento. O artista David Morales, por exemplo, produziu um grande grafite com a imagem de Jeff e Mark Bezos na cidade mais próxima do local do lançamento.

Os passageiros de Bezos

A New Shepard tem lugar para quatro tripulantes. Bezos vai levar com ele o irmão Mark e dois representantes de gerações bem diferentes. Confira o perfil de cada um:

Mark Bezos

Mark Bezos, irmão mais novo de Jeff Bezos, também estará a bordo do New Shepard. Mark é seis anos mais novo que Jeff, que fez 57 anos em janeiro, e foi bombeiro voluntário do Corpo de Bombeiros de Scarsdale no Condado de Westchester por uma década.

Ele se formou em publicidade e relações públicas na Texas Christian University e, em 1999, criou e dirigiu sua própria empresa de marketing. No mesmo ano, tornou-se diretor da Bezos Family Foundation, fundada por Jackie e Mike Bezos.Turismo espacial: De balões a hotéis infláveis, como viajaremos para fora da TerraDesde 2006 ele trabalha na Robin Hood, entidade sem fins lucrativos com sede em Nova York focada no combate à pobreza. Atualmente, Mark Bezos atua no conselho de liderança da organização e também é cofundador da empresa de private equity HighPost Capital.

Wally Funk

Wally Funk é a convidada de honra do foguete New Shepard. Aos 82 anos, ela será a pessoa mais velha a ir ao espaço. 

Ela é pilota e ex-instrutora de voo e foi a primeira mulher a ser inspetora da Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA e a primeira investigadora de segurança aérea feminina do Conselho Nacional de Segurança do Transporte do país.Wally participou do Mercury 13, projeto em que um grupo de mulheres selecionadas pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, passou pelo treinamento de astronautas para voar ao espaço nos anos 60.

Conheça a pioneira de 82 anos que vai ao espaço com Jeff Bezos; veja fotosWally chegou a ter um desempenho melhor do que o dos homens no treinamento, mas o grupo feminino acabou nunca indo ao espaço. Naquela época, todos os astronautas da Nasa eram homens e o projeto acabou descartado.“Ninguém esperou mais que ela (para ir ao espaço)”, postou Bezos no Instagram. “Bem-vinda à tripulação, Wally.”

Oliver Daemen
O estudante de física de 18 anos se tornará a pessoa mais jovem da história a ir ao espaço. Daemen foi o último nome a ser divulgado como integrante da tripulação de quatro membros civis no voo.

Oliver é filho de Joes Daemen, presidente da Somerset Capital Partners, empresa de administração de investimentos. Ele irá no lugar do vencedor do leilão de US$ 28 milhões, que desistiu da viagem na semana passada devido a "compromissos conflitantes".

Oliver também participou do leilão e ficou com o segundo melhor lance.

Segundo a Blue Origin, Daemen está trabalhando para obter seu brevê de piloto e deve ir à Universidade de Utrecht, na Holanda, para estudar física e administração de inovação em setembro.

Um grande passo para o turista espacial
Se tudo der certo, o voo de Bezos nesta terça será um passo decisivo para a formação de uma indústria de turismo espacial.

A exploração do espaço na segunda metade do século XX foi protagonizada apenas pelos astronautas de EUA e União Soviética no cenário da Guerra Fria.

Agora, está em jogo agora a possibilidade de se comprar um bilhete para as estrelas, ainda que venha a ser um luxo para poucos.

O voo de Bezos marca o início de uma nova modalidade no turismo espacial: será o primeiro lançamento suborbital - em que a nave atinge o espaço, mas não efetua uma revolução orbital completa - do mundo a ser realizado sem piloto e com tripulação a bordo composta apenas por civis.

No último dia 11, o também bilionário Richard Branson viajou com dois pilotos na nave de sua Virgin Galactics, um esforço para inaugurar o turismo espacial. Ele experimentou a microgravidade aos 86 quilômetros de altura, mas Bezos promete ir mais longe na fronteira entre a atmosfera terrestre e o espaço, ultrapassando cem quilômetros.De qualquer forma, Branson já tem planos de começar a vender passagens espaciais a partir do ano que vem a nada menos que US$ 250 mil, cerca de R$ 1,3 milhão.

Kármán, a linha que separa Bezos e Branson

Desde que Branson conseguiu ultrapassar Bezos e estreiar primeiro no espaço, a Blue Origin vem minimizando o feito da Virgin Galactics.

Logo após o voo do britânico, a empresa de Bezos usou sua conta no Twitter para apontar que “apenas 4% do mundo reconhecem um limite baixo de 80 km como o começo do espaço”. Era uma alfinetada.

Foi uma referência ao fato de o voo da nave da Virgin Galactic, de Branson, ter atingido a altura máxima de 86 quilômetros acima do nível do mar, mais que os 80 quilômetros considerados nos EUA como a fronteira entre a atmosfera da Terra e o espaço sideral. No entanto, a Federação Internacional de Aeronáutica (FIA) estabeleceu esse limite em cem quilômetros de altura.

Esse ponto é chamado de Linha de Kármán, uma referência ao engenheiro aeroespacial húngaro-americano Theodore von Kármán, que se dedicou a estudar o tamanho da atmosfera nos anos 1950.

Bezos promete ultrapassá-la. Apesar de alimentar a disputa comercial entre as duas empresas, não há uma convenção internacional sobre isso.

Depois de Branson e Bezos, cadê Musk?

Elon Musk não tem planos de subir aos céus agora, mas já teve o seu momento de causar na corrida espacial.

Além de ter a empresa mais avançada na disputa - capaz de voos mais altos, como o que levou astronautas à estação espacial internacional na órbita da Terra -, Musk deu o que falar em 2018 ao lançar um dos carros elétricos de sua Tesla no espaço com um boneco ao volante a bordo de seu foguete Falcon Heavy. Quem não se lembra dessa imagem?

E como estão os bilionários na fila do foguete?

Disputam a hegemonia do turismo espacial o americano Jeff Bezos, dono da Amazon, da Blue Origin e da maior fortuna do mundo; o sul-africano Elon Musk, terceiro mais rico e fundador da Tesla e da SpaceX, e Sir Richard Branson, o britânico que detém a Virgin Galactic.

A competição, cada vez mais acirrada desde que empresas privadas substituíram governos na ponta de lança da exploração do espaço, ganhou ares ainda mais sensacionais na semana passada, quando Bezos anunciou que vai ao espaço no primeiro voo tripulado de sua Blue Origin, a bordo do foguete New Shepard, junto com seu irmão Mark, no próximo dia 20 de julho.

Mas Branson passou à frente do fundador da Amazon e foi primeiro ao espaço. Bezos agora tenta virar o jogo numa aposta arriscada, mas que esconde o fato de sua Blue Origin, na corrida, estar bem atrás da SpaceX, embora esteja prestes a se tornar a primeira a levar um turista ao espaço.

Em terra, só vendo os rivais se arriscarem nas estrelas, Musk e sua empresa espacial focam no transporte de cargas ao espaço e até já desembarcou cosmonautas na ISS. Suas naves já viajam pela órbita terrestre, enquanto os voos de Blue Origin e Virgin ainda são suborbitais.

Além disso, Musk recebeu em abril, da Nasa, a missão de concretizar uma nova viagem de humanos à Lua, após mais de meio século da última.



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