Mark Zuckerberg optou por manter desinformação no Facebook, diz delatora

Frances Haugen, ex-funcionária da rede social, depõe no Senado dos Estados Unidos nesta terça-feira

Frances Haugen depondo no Senado dos Estados Unidos
Foto: Reprodução/Youtube
Frances Haugen depondo no Senado dos Estados Unidos

Frances Haugen, ex-gerente de produto do Facebook,  depõe em comitê do Senado dos Estados Unidos nesta terça-feira (5). Haugen foi a responsável por  entregar diversos documentos da empresa a parlamentares, reguladores e imprensa, demonstrando que o Facebook escolhe não tornar suas redes sociais mais saudáveis, sempre pensando no lucro.

"Eu estou aqui hoje porque eu acredito que os produtos do Facebook ferem as crianças, promovem a divisão e enfraquecem a nossa democracia. A liderança da empresa sabe como fazer o Instagram e o Facebook mais seguros, mas não fazem as mudanças necessárias porque eles colocam seus lucros astronômicos na frente das pessoas", disse Haugen em seu discurso inicial.

A ex-funcionária do Facebook afirma que a empresa sabe que seus algoritmos disseminam desinformação e discurso de ódio, bem como os sistemas do Instagram pejudicam a saúde mental dos usuários, sobretudo crianças e adolescentes. Mesmo assim, continuar com plataformas falhas é uma decisão pensada.

"Eu entendo o quão complexos esses problemas são. Contudo, as decisões tomadas dentro do Facebook são desastrosas para as crianças, para a segurança pública e para a nossa democracia. E é por isso que nós devemos exigir que o Facebook faça mudanças", disse ela. "Uma ação do Congresso é necessária. Eles não resolverão esse problema sem a sua ajuda", afirmou, se dirigindo aos senadores.

A culpa é de Mark Zuckerberg?

Haugen afirma que, enquanto trabalhava no Facebook, viu a liderança da empresa enfrentar decisões nas quais um lado priorizava o bem-estar dos usuários e o outro priorizava o lucro da companhia. Geralmente, afirma ela, o Facebook escolhia o lucro.

"O Facebook escolhe crescer a todo custo, se tornando uma empresa de quase um trilhão de dólares comprando seus lucros com a nossa segurança", afirmou ela em seu discurso.

Na sabatina, os senadores perguntaram se a culpa era diretamente de Mark Zuckeberg, e a ex-funcionária revelou que as decisões passam por ele. Ela disse, ainda, que houve casos nos quais o CEO do Facebook escolheu não reduzir a disseminação de desinformação para que isso não afetasse seus lucros.

Facebook opera nas sombras

Para Haugen, o principal problema na regulação do Facebook é que a empresa faz o que quer. "Quase ninguém fora do Facebook sabe o que acontece dentro do Facebook. A companhia intencionalmente esconde informação vital dos usuários, do governo dos Estados Unidos e de governos ao redor do mundo. Enquanto o Facebook funcionar nas sombras, ele é inexplicável", disse ela.

A delatora afirmou, ainda, que o Facebook faz com que as pessoas acreditem que essas falhas não podem ser corrigidas e que são a consequência da existência das redes sociais. "Eles querem que vocês acreditem que faz parte do jogo. Eu estou aqui hoje para dizer que isso não é verdade. Esses problemas são resolvíveis", disse ela.

"Eu acredito no potencial do Facebook. Nós podemos ter uma rede social que nós gostamos e que nos conecta sem rasgar a nossa democracia, colocar nossas crianças em perigo e propagar violência étnica ao redor do mundo. Nós podemos fazer melhor", declarou.

Em seguida, Haugen disse que o governo tomou atitudes quando soube que os carros eram mais seguros com cinto de segurança ou que o tabaco fazia mal para as pessoas. "Eu imploro para vocês fazerem o mesmo aqui", disse aos senadores.

Para ela, o principal neste momento é criar medidas de transparência para que as pessoas saibam o que acontece dentro do Facebook. Haugen afirma que, sem saber o que estão regulando, é impossível que os órgãos reguladores façam um trabalho bem feito.

Ela explica que outras redes sociais e plataformas de tecnologia permitem que desenvolvedores e pesquisadores façam o download de decisões dos algoritmos e estudem os sistemas. O mesmo, porém, não acontece com o Facebook, que opera em segredo.

Os senadores perguntaram à Haugen como ela sugere que o Facebook e o Instagram podem ser regulados a fim de tornar o ambiente digital mais seguro, sobretudo para crianças e adolescentes.

Para ela, uma regulação sobre o conteúdo é complicada, já que as redes sociais não têm controle sobre o que os usuários publicam. A delatora afirma que apostaria em uma regulação dos algoritmos, já que "eles têm 100% de controle" sobre eles.

"O Facebook não deveria ter um passe livre nas escolhas que ele faz para priorizar crescimento em detrimento da segurança pública. Eles estão pagando pelos seus lucros com a nossa segurança", afirmou.