No Facebook, a reação de raiva valia mais que a curtida pra o algoritmo da rede social, impulsionando a disseminação de publicações tóxicas. A informação está presente em documentos internos da empresa obtidos pelo jornal The Washington Post.
Desde 2017, a rede social permite que usuários reajam a publicações com emojis, o que vai além das curtidas. O que os documentos mostram é que o algoritmo que monta o feed do Facebook trata essas reações com emojis como cinco vezes mais relevantes do que as curtidas.
O que serviria para deixar os usuários mais engajados, na prática, acabou ajudando a disseminar discurso de ódio, favorecendo publicações polêmicas. Em um dos documento, um funcionário escreveu que isso poderia abrir "a porta para mais abuso de spam e material caça-cliques involuntariamente". Um colega respondeu: "é possível".
Mas foi só em 2019 que cientistas de dados da empresa confirmaram que publicações que provocavam reação de raiva tinham grandes chances de conterem informações falsas e discurso de ódio. Isso significa que, por anos, a rede social impulsionou esse tipo de post.
Os documentos foram entregues pela delatora do Facebook, Frances Haugen. Em depoimento ao parlamento do Reino Unido nesta semana, ela disse que "raiva e ódio são a maneira mais fácil de crescer no Facebook".
Os arquivos ainda mostram que avisos de funcionários acerca do tema foram várias vezes ignorados por líderes da empresa. Em 2019, uma proposta interna queria dar menos valor a determinadas reações, como a de raiva, mudando o algoritmo. A ideia, porém, não passou pela diretoria do Facebook. "A voz da cautela levou a melhor por não tentar distinguir diferentes tipos de reação e, portanto, diferentes emoções", escreveu um funcionário na ocasião. No mesmo ano, um funcionário propôs excluir o botão de raiva, o que também foi negado.
No ano passado, uma nova pesquisa interna mostrou que os usuários não gostavam quando suas publicações recebiam reação de raiva. Então, o Facebook reduziu o peso de todas as reações para 1,5 curtida. Em setembro deste ano, a reação de raiva passou a ter peso zero, ou seja, não influencia no algoritmo. "Amei" e "triste" passaram a valer o mesmo que duas curtidas.
"Como qualquer otimização, haverá algumas maneiras de isso ser explorado ou aproveitado", disse Lars Backstrom, vice-presidente de engenharia do Facebook, em um comunicado ao The Washington Post. "É por isso que temos uma equipe de integridade que está tentando monitorá-las e descobrir como mitigá-las da forma mais eficiente possível".