Donos de smartphones mais modernos já veem, em seus visores, o símbolo do 5G como padrão de suas redes. Embora muitos acreditem que isso seja um presságio do que está por vir, ainda não é a tecnologia prometida para revolucionar a velocidade da comunicação. O país não tem, em ponto algum, a quinta geração "pura".
Embora ela seja prometida para inaugurar em dois meses, ainda há muitas dificuldades no caminho. Por isso, técnicos da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) já cogitam adiar em dois meses o prazo para o início da operação nas capitais.
Leiloado no ano passado, o 5G ainda não está acessível em nenhuma localidade do país, de acordo com dados da Anatel. Ao mesmo tempo, as empresas enfrentam dificuldades para instalar a tecnologia em 17 capitais do país, segundo levantamento feito pelas operadoras de telefonia no início do mês.
Pelas regras do edital, as vencedoras do leilão (especialmente Claro, Tim e Vivo, as maiores operadoras de redes móveis no país) devem colocar no mínimo uma antena de 5G puro para cada 100 mil habitantes em todas as capitais até o dia 31 de julho deste ano.
Mas o prazo pode ser estendido em dois meses. Com 12,3 milhões de habitantes, por exemplo, a cidade de São Paulo precisará ter pelo menos 123 antenas de 5G neste ano.
As empresas devem oferecer o chamado 5G standalone (SA), ou o 5G puro. É uma tecnologia que oferece duas características fundamentais das redes móveis de quinta geração: altíssima velocidade e baixa latência (demora entre o envio e o recebimento de uma informação).
Essa versão é conhecida como "pura" por usar uma infraestrutura totalmente nova e dedicada ao 5G, sem aproveitar a estrutura usada até hoje pelo 4G. É esse 5G "impuro" que aparece nos visores dos celulares pelo país.
"É graças ao 5G stand-alone que a inovação nas redes de quinta geração poderá acontecer. O 5G SA tornará possível o desenvolvimento de casos de uso de baixa latência; viabilizará a conexão de milhões de dispositivos por quilômetro quadrado e poderá realizar a agregação de diversas portadoras de 5G. Essas características trarão velocidades muito maiores do que as que atualmente temos nas redes de telecomunicações que utilizam redes sem fio", explica Wilson Cardoso, Diretor de Tecnologia para a América Latina da Nokia, uma das três maiores fornecedoras de equipamentos para o 5G.
Por enquanto, as empresas oferecem apenas o 5G DSS, uma combinação de frequências usadas no 4G que permite oferecer velocidades maiores, mas sem as mesmas qualidades da versão "pura". Há 60 municípios com essa tecnologia, sendo acessada por 1,7 milhões de usuários, segundo a Anatel.
Enquanto não chega o prazo para a implementação definitiva de redes públicas de 5G, as empresas buscam driblar obstáculos para a instalação da tecnologia. O principal deles é a legislação restritiva de diversas cidades, que impede a instalação de um grande número de antenas.
No 4G, uma torre manda o sinal para um bairro inteiro, por exemplo. Já as ondas do 5G são mais curtas (quanto mais curta, maior a velocidade) e, por isso, serão necessárias dez vezes mais dispositivos.
Das 27 capitais, apenas nove já têm leis que permitem instalar os dispositivos em locais como alto de prédios e postes de iluminação pública, permitindo a implementação do 5G, de acordo com levantamento do Conexis, associação que reúne as empresas de telecomunicação.
Embora seja preciso instalar mais antenas, esses equipamentos são bem menores que as torres tradicionais de comunicação, o que afeta pouco a paisagem das cidades.
O Ministério das Comunicações afirma que tem trabalhado apoiando as prefeituras para que reduzam barreiras sobre a instalação de infraestrutura necessária à oferta do 5G.
Leonardo Capdeville, diretor-técnico da Tim Brasil, diz que a empresa defendeu a adoção do padrão 5G standalone por acreditar que é o melhor modelo para o Brasil. Para a instalação, afirma, aguarda apenas a liberação da frequência pela Anatel
"A operadora acredita que a chegada do 5G de verdade trará uma série de benefícios e soluções para a sociedade e para a indústria, sendo o mais relevante a habilitação do IoT de forma massiva e a geração de mais negócios e empreendimentos também em cidades inteligentes, saúde, educação, energia, logística e demais áreas", afirma.
O cronograma da Anatel determina a ampliação do 5G todos os anos até 2029, quando será preciso atender 100% dos municípios, inclusive aqueles com população abaixo de 30 mil habitantes.
A Claro afirma que já lançou redes standalone em São Paulo e em Brasília na frequência de 2,3 GHz (que não é a principal frequência do leilão). A empresa diz que tem feito testes aplicados à indústria, agricultura, saúde e entretenimento "com excelentes resultados".
"A Claro reforça que está plenamente preparada para a implantação do 5G Standalone na faixa de 3,5Ghz e, para isso, aguarda as liberações das entidades responsáveis. A empresa informa ainda que irá cumprir os prazos de implementação do 5G determinados no leilão realizado pela Anatel”, diz a empresa.
Já a Vivo afirma que dedica todos os seus esforços para antecipar o lançamento do 5G, usando a faixa de 2,3 GHz. Para tal, está adequando sua rede e, desde o início de dezembro de 2021, seus clientes podem experimentar o 5G DSS, inicialmente em algumas regiões de bairros das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Para a faixa de 3,5 GHz, principal ofertada pela Anatel, a Vivo diz que seguirá o cronograma pós-leilão e está pronta para cumprir com o que está no edital, contemplando a cobertura das capitais, prevista para julho deste ano.
Sem redes públicas disponíveis, operadoras de telefonia e fornecedoras de equipamentos focam na implantação das primeiras redes 5G com foco empresarial. São redes privadas e dedicadas a um cliente.
Nesses casos, a tecnologia é utilizada para conectar máquinas, veículos, dispositivos, sensores e trabalhadores num ambiente onde o alto desempenho e a segurança são críticos.
"Cada cliente tem seu próprio plano de como vai investir e monetizar o 5G, mas alguns pontos são comuns. O 5G vai melhorar o desempenho de metas, apoiar novos negócios e automatizar indústrias em áreas como agricultura, serviços públicos, saúde e educação, entre outros", afirma Rodrigo Dienstmann, Presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina.
A Huawei também tem aplicações privadas do 5G, como o projeto "Cidade 5G", em Curitiba. "Um dos objetivos é mapear oportunidades para aprimorar a experiência dos usuários por meio do desenvolvimento de equipamentos, soluções sustentáveis como estudos de casos de aplicação da tecnologia 5G, de baixo consumo de energia e custo, e que mantenham a alta qualidade de entrega de serviços", disse Gustavo H. Nogueira, diretor de vendas da Huawei.