As vendas mundiais de smartphones cresceram 6% em 2021, de acordo com a consultoria Gartner. Enquanto isso, o mercado de aparelhos usados apresentou alta de 15%, segundo levantamento realizado pela consultoria Counterpoint Research. E a América Latina registrou quase o dobro da média mundial: 29%. Para o professor Caio Ferrari, do Ibmec RJ, o aquecimento deste mercado aconteceu pela combinação de dois fatores principais: os preços mais elevados dos smartphones em um cenário de queda na renda das pessoas.
"Além da crise dos semicondutores e do aumento do preço do níquel pra baterias, por causa da guerra na Rússia, desde o começo da pandemia o preço de eletrônicos e celulares foi altamente impactado, e o cenário atual continua contribuindo pra isso. Já do ponto de vista da queda da renda, tivemos aumento do desemprego e inflação generalizada de combustível e alimentação, principalmente, que reduziram muito o poder de compra das pessoas", explica o professor: "Então, na verdade, o celular usado é um substituto do celular novo. Se o preço dele se eleva, a gente tem uma mudança dos consumidores para a alternativa mais dentro do orçamento."
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Sem previsão de mudança no cenário econômico, a busca pelos usados não deve cair tão cedo. A startup Já vendeu, que intermedeia a venda de itens usados pela internet, inclusive, viu crescer em 250% a venda de celulares no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. A analista de Marketing Joyce dos Santos, de 27 anos, foi uma das que integrou o saldo, em fevereiro:
"Eu nunca tinha comprado um celular usado antes. Surgiu a ideia pois eu precisava muito de um aparelho melhor do que a minha verba conseguia comprar em termos de celular novo. Então achei um Iphone 8 brnaco com 64 GB por R$ 1.400, com menos de um ano de uso. O mesmo modelo, novo, custava R$1.800 nos sites mais baratos. Valeu muito a pena. Veio com as configurações originais, sem riscos e marcas aparentes. Ninguém acredita que comprei usado."
‘Funciona em consignação’, diz fundador da Já Vendeu
Leia depoimento de Daniel Paredes: “Nosso negócio funciona no modelo de consignação. A pessoa que quer vender entra em contato, a gente pega o aparelho com ela, precifica, negocia, vende e repassa o dinheiro depois. Aceitamos aparelhos que valham ao menos R$ 500, sem avarias que impossibilitem seu uso. Por isso, quando o aparelho chega no nosso armazém, a gente testa bateria, áudio. O tempo de uso do celular não é o que impede a venda, mas a gente verifica se o sistema dele ainda funciona, ainda é atualizado. Assim, a venda dos aparelhos é rápida. Metade dos celulares é vendida em 15 dias. E 70% em até 30 dias. O ticket médio fica em R$ 550, mas já vendemos usado por R$ 3.500”.
Cuidados antes de comprar um usado
Sérgio Rocha Lima, docente da Estácio e engenheiro de Telecomunicações, orienta os interessados em comprar um celular usado, com algumas dicas. Veja abaixo.
- - Para avaliar se vale a pena comprar um celular já usado, o usuário deve saber exatamente para que vai utilizar o aparelho. E com isso entender até quantos anos atrás um aparelho pode ter sido fabricado para o nível de tecnologia satisfazê-lo.
- - Além das funcionalidades oferecidas, para escolher um modelo de celular, conheça a memória e velocidade de processamento que ele tem.
- - É bom saber que a bateria de um celular pode não ser mais recarregada completamente com o passar do tempo. Faça um teste de carga antes, mas também verifique se a bateria do aparelho pretendido ainda é vendida, assim como outros componentes, ou se já saíram da linha de fabricação.
- - Para saber se o preço do usado é justo, faça pesquisa de mercado. Negocie e cheque se está sendo oferecida garantia.
- Aconselha-se a comprar o celular, aliás, em uma loja especializada e não de uma pessoa física, uma vez que desconhecemos a origem do aparelho assim.
Interesse em vender cresceu 300% este ano
Entre o primeiro trimestre de 2022 e o mesmo período de 2021, a plataforma Já Vendeu teve aumento de 300% em seu inventário de celulares, ou seja, na quantidade de aparelhos que foram colocados à venda com a ajuda da startup brasileira.
"Acredito que isso se dá pela necessidade no geral: pagar as contas. Se torna mais uma opção quando o orçamento fica mais apertado, que é o cenário para a maioria dos brasileiros", avalia Caio, professor do Ibmec RJ.
Na Já Vendeu, 60% dos celulares usados que são vendidos pertenceram a pessoas físicas. Marcos da Silva, de 31 anos, vendeu em menos de uma semana, neste nês, um Iphone X 64 GB Branco.
"Troquei de celular pois ganhei um mais moderno da minha namorada. E decidi vender meu aparelho usado para ajudar a retribuir o presente. Quando comprei, paguei R$ 3.300, e com menos de um ano de uso, a venda foi no valor de R$ 2.800,. Mas tirando a comissão da empresa, recebi R$ 2.380.", relata o cientista da Computação.
A startup, no entanto, pretende focar mais o negócio em captar antigos celulares corporativos, de empresas. Por considerar que o negócio é mais escalável focando nesses aparelhos.
Consertos também aumentaram
A demanda por consertos de aparelhos celulares também cresceu na pandemia. Na rede de franquias Senhor Smart, por exemplo, o ano de 2020 registrou um aumento de 151% nos reparos em baterias. Este é o serviço mais pedido ainda nas unidades, e custa R$ 200 em média. O ranking de serviços é formado também por troca de tela (R$ 400), troca de conector (R$ 180), reparo de sistema (R$ 150) e desoxidação (R$ 180).
"Em home office as pessoas usaram ainda mais o celular, tiveram problemas com a bateria, quebraram a tela, e foram consertar. Era a solução mais rápida para ter o aparelho funcionando, sem precisar investir, já que os preços estavam muito altos", avalia Gustavo Adami, de 45 anos, dono de uma franquia em Santa Catarina, na qual os serviços aumentaram 15% em 2020 e continuaram estáveis no ano seguinte.
Na Vila da Penha, no Rio de Janeiro, Sidney Oliveira, de 53 anos, abriu sua franquia em janeiro deste ano. O negócio vai bem e ele já conserta uma média de 15 a 20 aparelhos celulares por semana.
"Os aparelhos mais complexos, de maior investimento e relativamente mais novos, as pessoas preferem consertar, os antigos normalmente não valem a pena, mas a ideia de consertar devido à dificuldade de comprar um novo é bem maior", relata Sidney.
Quando vale a pena ou não o conserto é uma avaliação que deve ser feita caso a caso. Docente da Estácio e engenheiro de Telecomunicações, Sérgio Rocha Lima orienta buscar essa análise em um estabelecimento bem avaliado por clientes em páginas da internet:
"Levar em uma loja especializada e de confiança é o caminho. Existem defeitos eletrônicos que não são passíveis de conserto, aí recomenda-se o descarte, ou defeitos finitos em que tem prazo de validade, ou seja, conserta-se e com o uso o defeito volta", avisa.