Algoritmos influenciam da mesma forma que a igreja, afirma estudo
Agência Brasil
Algoritmos influenciam da mesma forma que a igreja, afirma estudo

Em livro lançado pela Editora Oxford University Press nesta segunda (11), pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Goiás (UFG) propõem pensar nos algoritmos como instituições emergentes das sociedades contemporâneas, como mídia e política.

As reflexões da publicação “Institucionalismo Algorítmico: as mudanças nas regras da vida social e política” (em tradução livre) levam em conta os impactos sociais e políticos dos algoritmos na sociedade. Eles são um conjunto de regras que ajudam a estruturar normas e contextos em que seres humanos e máquinas agem e, por isso, influenciam comportamentos individuais e impactam áreas diversas, da segurança pública às estruturas de governo.

Os algoritmos estão presentes em decisões cotidianas da vida das pessoas, seja no uso individual de um aplicativo de transporte ou em tomadas de decisão coletivas para definir quem deve ter acesso a uma política social específica ou prioridade na fila de transplantes.

Em entrevista para o Portal iG, Ricardo Mendonça, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coautor do livro, defende que é muito importante manter um olhar crítico, sem cair numa leitura apocalíptica. “Algoritmos são artefatos sociotécnicos que fazem e farão parte das sociedades contemporâneas. É preciso lidar com eles, compreendendo seus impactos políticos e sociais e pensando formas de democratizá-los”, pontua.

“Podemos mobilizar os próprios desdobramentos algorítmicos para atualizar teorias institucionalistas, repensando padrões de institucionalização e desinstitucionalização na atualidade. Nessa dinâmica de mão dupla, promovemos uma leitura essencialmente política de um fenômeno contemporâneo, que tem profundas implicações na forma como relações de poder têm sido instituídas, cristalizadas e contestadas”, completa.

“Um dos desafios experienciados por democracias na atualidade é a generalização da crença de que soluções técnicas nos salvarão. Costuma-se pensa assim com frequência: "se tivermos dados suficientes e capacidade de cálculo e simulação, podemos construir soluções imbatíveis para nossas mazelas". Mas, com isso, agravamos o problema, apostando em visões epistocráticas que podem colocar a democracia em xeque”, lembra.

“É como se a participação das pessoas não fosse relevante. Argumentamos que é preciso pensar politicamente os nossos problemas e reconhecer, também, que as soluções técnicas são profundamente políticas. Justamente por isso, faz-se fundamental democratizar esses artefatos sociotécnicos. E isso requer não apenas torná-los mais compreensíveis, mas contestar como eles têm sido usados na reprodução de injustiças estruturais que inviabilizam a experiência da cidadania”, finaliza.

Os algoritmos, incluindo os de inteligência artificial, se popularizaram porque oferecem uma solução para um determinado problema a partir de uma sequência de ações. Esse é o caso de aplicativos de transporte, de relacionamentos e outros, que prometem soluções ágeis e personalizadas ao seu usuário a partir de grandes volumes de dados.

O pesquisador Virgílio Almeida, vencedor do Prêmio de Ciência da Fundação Conrado Wessel em 2023, comenta que, no livro, os pesquisadores exploram o algoritmo como instituição nas suas mais diversas faces. “O algoritmo surge para mediar o conhecimento e influenciar o comportamento dos cidadãos e consumidores em processos complexos”.

No entanto, o livro também aborda o fato deles reforçarem “bolhas políticas” na internet, que levam à polarização social, e preconceitos e injustiças. Diversos estudos mostram, por exemplo, que os algoritmos têm reforçado, em diferentes áreas, decisões e visões racistas, o que se convencionou chamar de racismo algorítmico. Para Fernando Filgueiras, professor e um dos autores do livro, “algoritmos são novas e intrigantes instituições que requerem avanços da teoria institucional para compreendê-las”.

Os autores argumentam que, assim como outras instituições complexas foram democratizadas no passado, é preciso pensar como algoritmos podem ser democratizados, de modo a controlar os riscos que representam para a sociedade contemporânea. 

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