O Ministério das Comunicações anunciou nesta terça-feira (19) acordos com a empresa chinesa SpaceSail e a Administração Nacional de Dados da China . O comunicado surge às vésperas de um encontro entre os presidentes do Brasil e da China .
O acordo com as empresas chinesas visa fortalecer a infraestrutura digital brasileira e diversificar o mercado de internet via satélite, atualmente dominado pela Starlink , de Elon Musk .
A Administração Nacional ajuda no desenvolvimento de cidades inteligentes e desenvolve a infraestrutura digital, como criar sistemas e padrões para a economia digital do país.
Já a SpaceSail , sediada em Xangai , desenvolve serviços de internet de alta velocidade utilizando satélites de órbita baixa ( LEO , na sigla em inglês). A empresa possui atualmente 18 satélites em operação e planeja expandir sua rede para 15 mil até 2030, superando a constelação de cerca de 6 mil satélites da Starlink .
A meta, porém, é vista com certa desconfiança entre os especialistas. Sendo que para alcançar a meta de satélites, terá que superar o número de lançamentos espaciais da empresa de Elon Musk , que é líder neste quesito.
O governo brasileiro considera que a entrada da SpaceSail no país pode reduzir a dependência da Starlink, que hoje detém 45,9% do mercado de internet via satélite, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
“Ter múltiplos fornecedores do mesmo produto é um indicador de saúde de qualquer mercado, mas, neste caso, por ser estratégico, é essencial que o Brasil consiga atrair outros competidores da Starlink na categoria LEO para atender tanto o setor público como o privado”, avalia Thiago Ayub, diretor de tecnologia da Sage Networks, em entrevista ao g1.
Apesar do anúncio, ainda não há uma data definida para o início das operações da SpaceSail no Brasil. Entretanto, planos apresentados pela empresa anteriormente, incluem a entrada do serviço em território brasileiro em 2025.
A empresa precisará de autorizações da Anatel para construir a infraestrutura necessária no país, permitindo que os sinais de seus satélites sejam acessados por usuários brasileiros.
Entre as possibilidades discutidas está o uso dos serviços da SpaceSail em projetos governamentais. A estatal brasileira Telebras pode se tornar parceira, utilizando a infraestrutura da SpaceSail para fornecer internet a escolas e instalações públicas em regiões remotas.
Os satélites LEO, por estarem mais próximos da Terra, oferecem menor latência e uma conexão mais estável em comparação com satélites tradicionais. Essa tecnologia é crucial para áreas remotas do Brasil, como a Amazônia, onde a infraestrutura terrestre é limitada.
Crise entre Musk e o Brasil
O anúncio da parceria ocorre após uma série de tensões entre Elon Musk e as autoridades brasileiras. Em agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu temporariamente as operações do X (antigo Twitter) , de propriedade de Musk, devido à recusa da empresa em cumprir determinações judiciais.
A crise se estendeu à Starlink, com rumores de que os serviços da empresa poderiam ser suspensos no Brasil. A possibilidade gerou preocupações em setores estratégicos, como as Forças Armadas e a Petrobras, que dependem da conexão via satélite para operações em áreas isoladas.
“Essa dominância da Starlink se revela nos indicadores que observamos, como 90% das cidades da Amazônia contendo clientes do serviço. Por isso, há preocupação diante do atrito entre a empresa e o STF”, ressalta Ayub.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se manifestou sobre o tema, reforçando que Musk deve respeitar as leis brasileiras:
“Ele (Musk) tem que respeitar a decisão da Suprema Corte Brasileira. Se quiser, bem; se não quiser, paciência. Esse país não pode ter complexo de vira-latas”, disse Lula em entrevista recente à Rádio MaisPB, da Paraíba..
Interesse do lado da China
Do lado chinês, a expansão da SpaceSail para o Brasil reflete uma estratégia maior do país asiático. Em 2020, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China listou a criação de novas infraestruturas de internet via satélite como uma prioridade nacional.
O governo chinês vê no Brasil um mercado estratégico para consolidar sua presença em telecomunicações globais e oferecer alternativas a empresas ocidentais como a Starlink.
“Ter múltiplos fornecedores do mesmo produto é um indicador de saúde de qualquer mercado, mas nesse em especial, por ser estratégico, é essencial que o Brasil consiga atrair outros competidores da Starlink na categoria LEO para atender tanto o setor público como o privado”, destaca Ayub.
Para a China, a parceria é vista como uma das prioridades do governo. Na Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, em 2020, o país elencou a criação de uma nova infraestrutura de internet via satélite como uma das principais metas chinesas no curto e médio prazos.