O Google enfrenta desde esta segunda-feira (9) um segundo grande julgamento em menos de um ano, acusado pelo governo americano de dominar o mercado da publicidade digital e sufocar a concorrência.
O processo acontece em um tribunal federal da Virgínia e segue-se a outro de características semelhantes, mas focado no mercado das pesquisas on-line, que terminou no mês passado, com um veredicto que determinou que a Google exerce um monopólio ilegal nessa área.
A nova batalha legal, também iniciada pelo Departamento de Justiça, concentra-se na tecnologia de publicidade do Google, o sistema por meio do qual determina-se que anúncios as pessoas veem em seu mecanismo de busca e o custo para o anunciante.
"Essa tecnologia pode ser moderna, mas as práticas são tão antigas quanto os monopólios", disse Julia Wood, advogada do Departamento de Justiça, no começo do julgamento. Ela ressaltou que o Google usa sua capacidade financeira para comprar potenciais rivais e dominar o mercado, deixando os anunciantes e editores sem outra opção que não a sua tecnologia.
Pela via de aquisições, "o Google usou seu monopólio para criar uma série de ferramentas de publicidade necessárias para manter a internet viva. Os editores de conteúdo estavam compreensivelmente furiosos, e as evidências mostrarão que não podiam fazer nada", apontou a advogada.
- O que o governo busca? -
O governo quer que o Google ceda algumas de suas atividades na área da tecnologia publicitária. A advogada da empresa, Karen Dunn, denunciou o que chamou de interpretação errônea do direito pelas autoridades, que visa a eleger "vencedores e perdedores" no mercado da publicidade digital.
Karen argumentou que uma decisão contrária ao seu cliente beneficiaria outros pesos pesados, como Microsoft, Meta e Amazon, cujas participações no mercado crescem, enquanto a do Google "diminui".
A primeira testemunha do governo foi Tim Wolfe, executivo da Gannet, editora do USA Today e de centenas de provedores de notícias nos Estados Unidos. Ele disse à corte que sua empresa "não teve alternativa" a não ser usar o Google, uma vez que a tecnologia da gigante californiana dava acesso a anunciantes que outros provedores não podiam oferecer.
O julgamento deve durar cerca de seis semanas e contar com dezenas de testemunhas no tribunal da juíza Leonie Brinkema. Se considerado culpado, uma segunda fase do processo irá determinar como o Google deverá proceder em função da decisão.
Investigações semelhantes sobre o domínio do Google na publicidade digital acontecem na União Europeia e Grã-Bretanha. Analistas da Wedbush Securities estimam que o impacto econômico do caso será limitado para o Google, independentemente do resultado.
A atividade que a empresa poderia perder representa menos de 1% da sua receita. A consultoria Emarketer estima em 28% a fatia do mercado mundial da publicidade digital controlada pelo Google, à frente da Meta (Facebook, Instagram), com 23%; da Amazon, com 9%; e do TikTok, propriedade da chinesa ByteDance, que tem 7%.