Internet das Coisas até a computação quântica: desafios e implicações
Igor Shimabukuro
Internet das Coisas até a computação quântica: desafios e implicações


A Internet das Coisas (IoT) é um mundo de possibilidades, um universo de conexões que modificam completamente a nossa forma de interagir com o que está ao nosso redor. As IoT são todos os dispositivos conectados à internet que otimizam nossa vida em casa, no trabalho e em vários ambientes do cotidiano sem a necessidade de intervenção humana.

Em ambientes domésticos, são as casas inteligentes e os assistentes virtuais como a “Alexa”, a “Siri” ou o “Google Assistente”, por exemplo. Nas cidades inteligentes, é o semáforo inteligente funcionando sob demanda contando a quantidade de carros, ajustando o tempo de abertura dos sinais automaticamente ao longo do dia para melhorar o fluxo de trânsito. Na agricultura, são as fazendas inteligentes que funcionam como aquele joguinho “farm town” que por meio do smartphone, o fazendeiro controla a plantação acessando dados do solo capturados por dispositivos (câmeras) espalhados em toda a extensão da terra.

Com o aprimoramento da internet, a adoção de novas tecnologias, o barateamento dos sistemas, a capacidade de conexão e comunicação instantânea entre dispositivos, a IoT se tornou popular e comum na nossa vida. A integração da IoT com a  Inteligência Artificial promete revolucionar mais ainda esse cotidiano, trazendo avanços significativos em automação e na tomada de decisões autônomas. Mas não para por ai, espera-se que a computação quântica eleve todo esse processo a outro nível, ultrapassando os limites do possível, inovando e preparando o caminho para uma sociedade mais inteligente e eficiente.


Em 1936, um matemático inglês chamado Alan Turing criou o primeiro computador. Desde então, o custo da máquina barateou o suficiente para caber dentro dos nossos celulares. Seu fundamento ainda é usado em diferentes plataformas e dispositivos.

Nada mais atual do que essa expressão, dita em 1965, por Gordon Moore, fundador da Intel. Pelo princípio da “Lei de Moore”, o poder de processamento dos computadores dobraria a cada 18 meses. Quanto mais componentes em um dispositivo, o custo por unidade é reduzido, enquanto o desempenho por unidade é aumentado. Os computadores e celulares se tornaram tão fundamentais na sociedade que comprovaram o conceito de Moore.

Hoje, é possível automatizar quase tudo em uma ampla variedade de cenários, desde a indústria até tarefas domésticas. Qualquer processo repetitivo, cálculos e coleta e análise de dados podem ser automatizados. E tudo o que é elétrico ou eletrônico pode se tornar um dispositivo inteligente capaz de coletar dados, aprender padrões e interagir com outros dispositivos e com usuários de forma eficaz.

Não tem como retroceder. Não tem mais como isolar a tecnologia do mundo, ela já faz parte da nossa rotina.

Futuro do trabalho remoto e o crescimento da robótica

A expectativa é que o trabalho remoto esteja mais difundido com plataformas operacionais possíveis e o trabalho manual seja realizado por meio de robôs. Por exemplo, será possível mapear a área desmatada, na Amazônia, com os dispositivos sensoriais e fazer seu reflorestamento com braços robóticos controlados remotamente, facilitando o acesso às áreas remotas. E nos supermercados, robôs serão responsáveis pela reposição e substituição dos produtos.

Essas inovações não só aumentarão a produtividade como também abrirão oportunidades promovendo um futuro sustentável, ampliando significativamente as oportunidades para as pessoas com deficiência.

É um setor que não tem crise. Sempre vai existir uma demanda, seja para buscar novas soluções e avançar quando a economia está em alta ou seja para encontrar formas de otimizar processos e reduzir custos quando a economia estiver em baixa. É uma área resiliente.

Para isso, é importante ter uma educação voltada para a tecnologia desde cedo. Todo jovem tem talento e criatividade. Precisamos criar oportunidades e encaminhá-los para o sucesso.

Como Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação criei uma secretaria especial para a promoção da ciência e da tecnologia e o programa “MCTI Futuro: futuro do trabalho, trabalho do futuro” para incentivar a educação nas áreas de inovação. No Senado, criei a Frente da Educação Profissional e Tecnológica.

O relatório “Demandas de Talentos em TIC” , de 2021, da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais, BRASSCOM, mostra que há uma demanda de 797 mil novos talentos nas áreas de tecnologia e comunicação em cinco anos. Qualquer pessoa consegue entrar nesse ramo. As oportunidades só aumentam e o Brasil não consegue formar profissionais para atender a demanda crescente.

O Senac oferece cursos técnicos gratuitos e bolsas de estudos em todo o Brasil. Mas para se manter atualizado, existem as comunidades de conhecimento compartilhado como a  “Meet Up”  e a “Hackaton” , comunidades com eventos gratuitos sobre educação, conhecimento e inovação. É o conceito de “give first, give back” que significa fazer algo além do que se é esperado sem esperar nada em troca e devolver o que lhe é dado.

Esse conceito não é tão inovador assim, minha mãe já dizia “estude, trabalhe, persista e sempre faça mais do que esperam de você”. Quando você mostra o seu valor, a vida abre portas para você passar.

Não podemos criminalizar opiniões nem legislar baseados no medo

As pessoas ainda têm medo do novo, da inovação, da tecnologia emergente. Todas as necessidades básicas do ser humano serão atendidas por meio dessas novas tecnologias, mas a gente precisa conhecê-las.

Sou vice-presidente da Comissão Temporária Interna sobre Inteligência Artificial do Senado Federal e liderei várias audiências ouvindo todos os setores da sociedade. No entanto, o relatório apresentado retirou partes importantes do projeto que eu considero imprescindíveis. Por exemplo, a interação do usuário com o sistema. O usuário não altera a programação, mas a IA aprende com o usuário introduzindo uma série de considerações. A gente precisa rever isso aí.

Questões como a privacidade também tem que ser apuradas e melhor contextualizadas. Existe o processo “anonimização” de dados o qual é a transformação de dados pessoais em informações anônimas, mas geram uma experiência personalizada. Basta ler os termos de uso dos aplicativos. Toda vez que você “dá um like” em um “post”, passa o tempo em uma tela, pesquisa um produto, escreve comentários e interage com outros usuários, os algoritmos já estão te interpretando gerando uma chave pessoa aleatória sem o seu “DNA”, mas com a sua personalidade.

A computação quântica emerge com uma nova era de revoluções em várias áreas operando em condições extremas que possibilitam cálculos e análise de dados antes considerados impossíveis ou muito caros, prometendo gerar uma produtividade nunca vista. Ao mesmo tempo que existe o potencial da quebra de criptografias tradicionais, há o que se falar em “quantun safe” cuja finalidade é fortalecer os sistemas de segurança. É preciso que a criptografia “quantun safe” entre na legislação e nos ecossistemas das empresas. Os dispositivos digitais terão que ser atualizados ou substituídos para ter a garantia na segurança de dados e da privacidade. A urna eletrônica brasileira, por exemplo, representa um desafio em termos de segurança e levanta a necessidade de discutir soluções inovadoras e tecnologias mais seguras. Hoje, mais de 300 empresas estão se filiando aos projetos de computação quântica a fim de preparar suas equipes e profissionais para quando chegar o momento estarem preparadas.

No ministério, investimos em projetos de computação quântica como o Supercomputador Santos Dumont que é capaz de realizar 5,1 quadrilhões de operações matemáticas por segundo, seriam cinco milhões de laptops trabalhando simultaneamente. O supercomputador permite o desenvolvimento científico dando suporte às pesquisas e às inovações.

Não se pode regular ou ignorar a tecnologia baseada no medo, especialmente quando está tão presente em nossas vidas. É importante que nós, políticos, estejamos atualizados a fim de evitar confusões baseadas no desconhecimento. A legislação não pode estar baseada no medo e na falta de entendimento. É necessário o respeito mútuo, a busca pelo novo e é urgente encorajar as pessoas a procurarem o conhecimento.

Também, não podemos criar um comitê, um oráculo de anciãos para decidir o que é verdade. O povo tem que ter acesso à informação e a diferentes opiniões. A verdade é libertadora, e, em um mundo tecnológico, é essencial entender como ela funciona e como vai impactar as nossas vidas.

O relatório sobre a IA precisa ser bem discutido, não podemos entregar um texto subjetivo sem previsão de avanços e sem verdadeiras análises de riscos. O futuro é emocionante, mas exige vigilância constante e adaptações frequentes.

** Marcos Pontes é mestre em Engenharia de Sistemas e o primeiro astronauta profissional a representar oficialmente um país do hemisfério sul no espaço. Foi ministro das Comunicações (2019-2020) e da Ciência, Tecnologia e Inovações (2020-2022). Atualmente é senador da República por São Paulo, cargo para o qual foi eleito com mais de 10,7 milhões de votos. Entusiasta do avanço das tecnologias de inteligência artificial, defende o desenvolvimento econômico e social do país por meio do conhecimento, da educação, da ciência, da tecnologia, da inovação e do empreendedorismo.

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