Marcos Pontes ergue a bandeira do Brasil ao voltar do espaço
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Marcos Pontes ergue a bandeira do Brasil ao voltar do espaço


A exploração espacial deixou de ser apenas uma corrida entre nações há muito tempo. Antes vista como um grande feito reservado a grandes potências, tornou-se um objetivo cada vez mais promissor, um motor significativo de desenvolvimento e  inovação tecnológica em diversas áreas. A exploração espacial, que começou na década de 1960, desencadeou uma onda de inovações tecnológicas que transformaram o mundo como conhecemos.

Na semana do espaço, comemorada este ano entre o dia 04 até o dia 10 de outubro, é importante falar sobre os impactos que permeiam as diferentes áreas do conhecimento humano, em se tratando do setor aeroespacial. Para que as missões espaciais sejam realizadas, exige-se o aprimoramento da tecnologia que frequentemente encontra espaço no nosso dia a dia. Tecnologias desenvolvidas para suportar as condições extremas no espaço encontram aplicações práticas na Terra, promovendo a qualidade de vida da população e avanços científicos. Esses avanços impulsionam o desenvolvimento e a inovação desde a medicina até a telecomunicações. Sou um grande defensor das pesquisas espaciais para aplicações na sociedade e para a competitividade do país.

A poeira lunar, a rinite e o sensor da qualidade do ar

A poeira lunar será um grande desafio no futuro com o crescente aumento de agências de turismo espacial. Isso porque a poeira lunar não é como a poeira da Terra. As daqui se acumulam pela casa. É causada devido à falta de atmosfera na lua, permanecendo suspensas no ar por mais tempo e acabam penetrando nos pulmões por mais tempo. Estudos demonstram que até 90% das células pulmonares humanas e neurônios de camundongos morreram quando expostos a simuladores de solo lunar.

O Astronauta Harrison Schmitt, durante a missão Apollo 17 da NASA, teve essa
experiência e a descreveu como "febre do feno lunar", com espirros, dor de garganta e olhos lacrimejantes. Os sintomas desapareceram, mas a preocupação permaneceu, gerando, assim, uma extensa pesquisa sobre o tema. Ao buscar soluções para a saúde dos astronautas, os pesquisadores encontraram alguns benefícios para a população da Terra. Uma empresa colaboradora de um dos programas da NASA desenvolveu um sistema de sensores de qualidade do ar para detectar e medir a quantidade de poluentes na Terra, como material particulado, monóxido de carbono, metano, dióxido de enxofre e compostos orgânicos voláteis. 


O sensor sem fio e de baixo custo atende a demanda de monitoramento meteorológico, a indústria petrolífera utiliza para o monitoramento das emissões de gases fugitivos e o Serviço Florestal dos EUA utiliza para monitorar emissões decorrentes de incêndios florestais. Neste caso, quando os bombeiros, durante a exposição ao fogo, se envenenam por monóxido de carbono. É a tecnologia espacial salvando vidas!

Segurança alimentar padrão Astronautas

O Projeto Gemini nasceu em 1962, foi a segunda missão da NASA de exploração
espacial, antes do Programa Apollo. Ao testar os alimentos produzidos, a NASA
descobriu diversas irregularidades e destruiu lotes de alimentos. Então, foi criado um novo método de produção, do qual todo o processo de fabricação é monitorado, a fim de eliminar qualquer possibilidade de riscos à saúde. Esse processo chegou até a indústria alimentícia, começando pelos produtos enlatados durante a década de 70, determinando requisitos aos produtores de alimentos. Essa metodologia tornou-se a base do Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP) que existe hoje no mundo todo.

Castores engenheiros

A perfeição de Deus é infinita. Castores são construtores natos de diques ou barragens em rios e riachos, onde moram. Acabam criando naturalmente represas que bloqueiam a passagem da água. Esses engenheiros acabam ajudando a água a descer mais devagar durante a seca, salvam cidades de inundações, colaboram com os fazendeiros em época de colheita e podem reduzir os efeitos das mudanças climáticas.

Um programa parceiro da NASA utiliza os dados abertos de satélites para identificar áreas que precisam ser restauradas. Detectada a área a ser restaurada, funcionários do programa e proprietários das terras adotam medidas para atrair castores para aquela região, colaborando, assim, com o Planeta e com o local.

Missões espaciais impulsionam a tecnologia, a educação e o futuro do nosso país

Sou o primeiro e único astronauta profissional brasileiro e do hemisfério sul a ir ao
espaço. E durante a minha missão, a Missão Centenário, que completou 18 anos este ano, levei diversos experimentos para serem estudados em ambiente de microgravidade, na Estação Espacial Internacional (ISS). Na minha bagagem havia uma bola de futebol, um chapéu Panamá (como o de Santos Dumont), uma medalha de Nossa Senhora Aparecida e 8 experimentos selecionados pela Academia Brasileira de Ciências. Foram 4 pesquisas científicas, 4 tecnológicas e 2 experimentos educacionais. Estudamos os experimentos em ambiente de microgravidade, como já mencionei, na pressão externa próxima ao vácuo absoluto, nas grandes variações de temperatura e na incidência de radiação solar. Mas como isso pode impulsionar a tecnologia e a educação?

Uma espaçonave precisa de material leve, isso colaborou com a indústria automobilística, a necessidade de comunicação com os astronautas resultou na criação de redes de telecomunicações mais eficientes e o satélite utilizado nas missões espaciais abriu caminho para o acesso à internet. O GPS, indispensável hoje, nasceu das necessidades de localização e controle das primeiras missões espaciais. O mesmo vale para o forno de micro-ondas, próteses médicas, detectores de fumaça e o filtro de água tiveram sua origem na engenharia aeroespacial. A pesquisa espacial pode trazer benefícios tangíveis para a comunidade.

Inspirando as próximas gerações

O espaço tem um poder inspirador incomparável. Eu sou um exemplo de como os
mistérios do espaço me impactaram na minha juventude. Desde criança almejava ser piloto e, quem sabe, astronauta. E olha onde eu cheguei.

Com meu trabalho no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e no Senado
Federal, espero contribuir para que estudantes motivados sigam carreira nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Para isso, projetos educativos que trazem a temática espacial para dentro da sala de aula, como olimpíadas de astronomia e programas de robótica, são essenciais na formação de futuros cientistas e engenheiros. Incluir atividades relacionadas à exploração espacial faz com que os jovens desenvolvam habilidades como a resolução de problemas, o trabalho em equipe e o pensamento crítico.

Sou reconhecido por defender a ciência, tecnologia e a educação. Participei de inúmeras Olimpíadas de Conhecimento e espero participar ainda mais. Enquanto ministro, investi ao máximo nessa área. Participei e ainda participo das olimpíadas, a fim de incentivar o estudo.

No Senado Federal, tenho propostas interessantes voltadas ao tema. Um dos projetos (PL 88/2023) institui a Frente Parlamentar Mista a favor das Olimpíadas Científicas e do Conhecimento, além do PL 3650/2023 que indica o Mês Nacional das Olimpíadas Científicas e do Conhecimento a ser celebrado anualmente, no mês de julho. Também sou o presidente da Frente Parlamentar em favor da Educação Profissional e Tecnológica. É preciso incentivar os estudantes a explorar o desconhecido para o futuro.

Marte, Lua e Além!

Ainda como Ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, assinei a participação do Brasil no programa Artemis, isso foi um marco no Programa Espacial Brasileiro. Ao oficializar o acordo, em 2021, o Brasil aliou-se às nações mais desenvolvidas nas pesquisas aeroespaciais.

As missões Artemis que visam levar o homem de volta à lua e os planos para a
colonização de Marte, representam o próximo passo na expansão do nosso
conhecimento e presença no cosmos. A exploração lunar e marciana irá abrir novas oportunidades para o desenvolvimento de tecnologias e a criação de novas indústrias. Em 2019, assinei o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas entre Brasil e Estados Unidos para a utilização da Base de Alcântara, no Maranhão, para atividades espaciais. A ideia é viabilizar uma operação comercial, utilizando a Base de Alcântara para o lançamento de foguetes e satélites de quaisquer países, sob controle da Força Aérea Brasileira. No Senado, fui o relator da chamada Lei Geral do Espaço, sancionada recentemente. O desenvolvimento de um programa espacial nacional robusto também é um caminho para gerar empregos altamente profissionais e fortalecer a economia, além de colocar o Brasil em um lugar de destaque no cenário mundial.

Astronauta de volta ao espaço

Eu tenho 61 anos e tenho tempo de sobra para voltar ao espaço. Acredito que vão precisar de astronautas mais velhos! A exploração espacial é muito mais do que a
realização do sonho, como foi para mim, mas é a base para o desenvolvimento
tecnológico, a inovação e a educação. É um investimento com retornos significativos para a sociedade. O Brasil faz parte desse avanço do conhecimento humano e pode inspirar futuras gerações, gerando oportunidades econômicas e deixando um legado de progresso.

Iniciativas como a Semana do Espaço faz com que possamos fortalecer o compromisso de apoiar a ciência e a tecnologia como ferramentas de transformação para o país. Sonhem alto e acreditem na capacidade do Brasil como protagonista na área da exploração espacial. Podemos fazer parte disso e alcançar as estrelas.

** Marcos Pontes é mestre em Engenharia de Sistemas e o primeiro astronauta profissional a representar oficialmente um país do hemisfério sul no espaço. Foi ministro das Comunicações (2019-2020) e da Ciência, Tecnologia e Inovações (2020-2022). Atualmente é senador da República por São Paulo, cargo para o qual foi eleito com mais de 10,7 milhões de votos. Entusiasta do avanço das tecnologias de inteligência artificial, defende o desenvolvimento econômico e social do país por meio do conhecimento, da educação, da ciência, da tecnologia, da inovação e do empreendedorismo.

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