A luta contra a dependência química comportamental não é uma batalha somente para fazer parar o uso de substâncias, mas envolve uma série de fatores emocionais e comportamentais. O processo de recuperação pode ser longo e doloroso. Os sintomas da abstinência como a ansiedade, depressão e irritabilidade são tão desafiadores quanto o sofrimento do isolamento e dos estigmas da sociedade.
A dependência química é resultado do uso recorrente e descontrolado de drogas, álcool, cigarro e até medicamentos que geram prazer ou aliviam algum tipo de dor, enquanto a dependência comportamental gera satisfação e uma ação compulsiva em compras e jogos; a submissão ao computador, celular, internet e televisão, além da dependência em atividades sexuais, exercícios físicos e até o trabalho.
Com o consumo regular de substâncias psicoativas, o cérebro muda de forma significativa seu funcionamento, criando, assim, um ciclo vicioso, muitas vezes, irreparável.
“As drogas exercem um impacto significativo no cérebro de um dependente químico, alterando sua química e afetando o funcionamento dos neurotransmissores... Quando uma pessoa consome drogas, elas são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica e chegar ao cérebro, onde interagem com os receptores dos neurotransmissores. Isso resulta em mudanças nas vias neurais e na comunicação entre os neurônios.... Além disso, algumas drogas podem causar danos diretos às células cerebrais, prejudicando sua saúde e função. A longo prazo, esse dano pode levar a problemas cognitivos, alterações de humor e dificuldades de controle dos impulsos”. Dr. Lucas Godoy, Diretor do Hospital Regional PA-FHSVP e do Espaço Terapêutico Minas Gerais para o Blog da Clínica MG.
Essa sensação imediata de gratificação incentiva a pessoa a repetir o comportamento. Por ser uma doença no sistema nervoso neural, é difícil parar. Essa ausência de controle do comportamento é fundamental para o diagnóstico clínico da dependência. E, embora existam diferentes tipos de drogas, todas têm o mesmo mecanismo básico que leva a dependência. Incluindo a maconha que, além de trazer complicações neurológicas e cognitivas, pode provocar alucinações visuais e auditivas, sentimentos de perseguição, aumentando surtos psicóticos, especialmente quando se começa muito jovem.
A educação e a conscientização são fundamentais para combater essa epidemia, além de entender os mecanismos biológicos e psicológicos. E eu estou cada vez mais convencido da importância da família na prevenção ao uso das drogas e no processo de reabilitação. A conversa direta e aberta com os filhos jamais deve ser subestimada e é fundamental para construir uma relação de confiança. Essa interação é uma oportunidade de orientar e proteger os jovens, permitindo que se sintam seguros para discutir suas preocupações e desafios. Essa segurança começa na família. Quem me conhece, sabe que eu defendo esses valores.
Existem estudos que comprovam que, ao fazer pelo menos uma refeição diária com os filhos, as chances de problemas com drogas, suicídios e outras questões emocionais diminuem. O estudo “A relação entre a frequência do jantar em família e os comportamentos problemáticos dos adolescentes após o ajuste para outras características” aponta que a relação com a família reduz o risco de abuso de drogas, violência, problemas escolares e alimentares em adolescentes. Uma pesquisa americana “Correlações entre relações familiares e bem-estar psicossocial entre adolescentes” mostrou que a regularidade de refeições em família estava associada a menores taxas de depressão e pensamentos suicidas. Outros estudos explicam que é durante a refeição familiar, especialmente no jantar, que as oportunidades de diálogos se abrem entre os adolescentes e os pais. É ali que você percebe se seu filho está bem ou não.
Diante desses dados, o governo do Presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) lançou a campanha “Refeição em Família”, a fim de incentivar a prática da alimentação entre os familiares como um meio de promover a saúde mental e emocional. A iniciativa uniu os ministérios da Cidadania e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ainda durante a sua gestão, houve a criação do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, comandado pela Ministra Damares Alves. Foi a primeira vez, na história do país, que o governo tem um órgão voltado para a família. Nesse período, promovemos, também, o Programa “Famílias Fortes”, originalmente denominado Strengthening Families Program – SFP, estruturado em encontros com as famílias que se encontram “fragilizadas” dando suporte em habilidades parentais, sociais e emocionais, incluindo resolução de conflitos.
A presença ativa dos pais na vida dos filhos é fundamental para criar laços e um senso de pertencimento, ajudando a prevenir comportamentos de risco e promovendo um ambiente familiar saudável e acolhedor.
A família deve chamar para si o protagonismo de prevenção e combate ao uso das drogas e comportamentos de dependência. Os estudos mencionados acima mostram também que as refeições em família promovem a felicidade e trazem emoções positivas, além de gerar memórias afetivas que jamais serão esquecidas.
Se você ou alguém conhecido está lutando contra a dependência química, procure ajuda.
Veja aqui sobre o Programa Famílias Fortes
Saiba como você pode ajudar um dependente químico. Conheça a Cartilha “Como Ajudar uma Pessoa Dependente de Drogas” publicada em 2020.
Veja aqui a lista de Comunidades Terapêuticas. Este é um serviço do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome - MDS. Para mais informações, entre em contato pelo telefone 121 (a ligação é gratuita tanto para celular como para telefone fixo).
Veja aqui a lista da Rede de Atenção Psicossocial – RAPS da sua região. A RAPS é um conjunto de diferentes serviços disponíveis nas cidades e comunidades, que articulados formam uma rede, devendo ser capaz de cuidar das pessoas com transtornos mentais e com problemas em decorrência do uso de drogas, bem como a seus familiares, nas suas diferentes necessidades.