
Há um ano, o Rio Grande do Sul enfrentava uma das maiores tragédias climáticas da história do Brasil. As chuvas torrenciais no sul do país deixaram 180 mortos, 25 desaparecidos, atingindo 96% das cidades da região. As imagens daquela destruição seguem vivas em minha memória. Mais do que isso, nos chama para a responsabilidade.
Sim, as mudanças climáticas existem — mas é preciso refletir com responsabilidade. Há quem defenda que esses fenômenos sejam resultados dos ciclos naturais da Terra, mas isso não diminui a importância de agir nem a responsabilidade do poder público. Pensar em soluções estratégicas e planos de ação com inteligência é o mínimo que se espera de um país sério. A gente não vai perder nada com isso. A gente só perde quando não faz nada.
Não podemos controlar a natureza, mas podemos — e devemos — controlar o quanto ela pode nos atingir. Isso sim está ao nosso alcance.
A ciência é nossa principal aliada na prevenção para prevenir e mitigar as ações dos desastres. Se eu estivesse na presidência da República, usaria a caneta com pragmatismo, para tirar os projetos do papel e transformar dados científicos em políticas públicas eficazes.
Como Engenheiro e Astronauta, sei exatamente a importância que o planejamento é necessário em qualquer missão. Seja no espaço ou na Terra, toda ação depende de dados confiáveis, análises baseadas em evidências, planejamento prévio e decisão com segurança. Essa lógica se aplica nessa questão dos desastres naturais. Infelizmente, o que aconteceu no Rio Grande do Sul, mostrou quão frágil é o nosso sistema de contenção de enchentes como a ausência de manutenção quanto a falta de continuidade das políticas públicas.
Aqui no Senado, antes mesmo da tragédia, me reuni com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e com a Defesa Civil. Depois de 8 meses de trabalho técnico intenso, apresentamos um projeto concreto, construído com especialistas, para reduzir riscos e proteger vidas. A proposta (PL 5002/2023) institui a Política Nacional de Gestão Integral de Risco de Desastres – PNGIRD, o Sistema Nacional de Gestão Integral de Risco de Desastres – SINGIRD e o Sistema de Informações sobre Gestão Integral de Riscos de Desastres – SIGIRD e dá outras providências. O objetivo é transformar nossa abordagem sobre riscos climáticos, ou seja, agir antes, coordenar melhor e reconstruir com inteligência. O projeto, quando aprovado, permitirá a integração entre diferentes níveis de governo e órgãos técnicos com o objetivo de fazer circular as informações técnicas com eficiência para que as respostas sejam coordenadas de forma que nenhuma cidade fique desamparada diante de um evento extremo.
Como Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, investi e fortaleci tecnologias do Programa Espacial Brasileiro, além disso, priorizei a continuidade e a operação dos satélites CBERS-4, CBERS-4A e Amazônia-1 que desempenharam um papel fundamental na mitigação dos impactos das enchentes no Rio Grande do Sul. Com imagens de alta resolução, essas plataformas permitiram o monitoramento em tempo quase real das áreas alagadas, auxiliando nas decisões da Defesa Civil, nos planos de evacuação e no direcionamento de recursos emergenciais. Isso é uma prova prática de como a ciência e a tecnologia salvam vidas.
Nesta segunda-feira (16/06), reuni grandes instituições e especialistas para uma Sessão de Debates Temáticos (REQ 245/2025), no Senado Federal, para reunir soluções científicas, inovadoras e tecnológicas na prevenção e mitigação de futuros desastres e enchentes.
Durante a sessão, especialistas dos principais institutos e universidades do país apresentaram soluções que já estão disponíveis — e que precisam ser colocadas em prática.
- 1- Monitoramento climático e sensoriamento remoto, com uso de satélites e inteligência artificial
- 2- Sistemas de alerta precoce, que podem salvar milhares de vidas se acionados no tempo certo;
- 3- Precisão meteorológica aplicada à resposta emergencial;
- 4- Cuidados com a saúde mental da população afetada por desastres;
- 5- Engenharia para reconstrução resiliente de cidades;
- 6- Planejamento territorial e agricultura de precisão, como prevenção de novos desastres.
Fizeram parte do debate: Carlos Pereira, especialista em Agricultura de precisão; Lélio Brito, Professor Adjunto na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e especialista em engenharia resiliente;Flavio Pereira Kapczinski, Pesquisador brasileiro da área de saúde e membro titular da Academia Brasileira de Ciências; Marcelo Schneider, Meteorologista no Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet); Laercio Massaru Namikawa, pesquisador e tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); Marcia Barbosa, Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs); Sra. Regina Alvalá Marcelo Seluchi, representante da Diretora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; Wolnei Wolff Barreiros, Secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional e Osvaldo Moraes,Diretor do Departamento de Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Ciência, tecnologia e inovação precisam sair dos laboratórios e ocupar espaço central nas decisões políticas. O Estado não faz a comunicação com as academias e universidades. O Senado está fazendo sua parte. Estamos ouvindo, articulando e legislando com base em evidências. E é isso que o Brasil espera de nós: responsabilidade, seriedade e futuro.
A gente tem tudo para ser o melhor país do mundo. Basta alinharmos nossos pensamentos e conhecimentos.
Jamais esquecerei a dor que vi no RS. Mas precisamos transformar esse sentimento em ação. Quando a ciência guia nossas escolhas, nós salvamos vidas.
Assista ao debate na íntegra. Clique aqui.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG