O General chinês Sun Tzu que viveu há 500 AC, entrou para a história como um extraordinário estrategista militar. O Livro: "A Arte da Guerra" é estudado mundialmente e recomendado nos MBAs que formam executivos na área empresarial. Os ensinamentos parecem atemporais, motivo pelo qual até hoje são aplicados por militares e estrategistas em geral.
Um desses ensinamentos diz que se você vai para uma Guerra e conhece pouco o oponente há uma chance considerável de derrota. Se for para uma Guerra sem conhecer bem a si próprio, seus meios e condições, essa chance de derrota aumenta muito. Se for para um confronto sem conhecer o oponente adequadamente e tão pouco a si mesmo, a derrota será mais do que certa.
Seguindo a cartilha, os paises resolveram associar o poder dos dados e dos algorítimos controlados pelas BigTechs com suas estratégias de controle e competitividade na corrida global pela hegemonia de poder.
O mundo está diante de um cenário armamentista muito perigoso frente ao cenário do Oriente Médio, a guerra entre Rússia e Ucrânia, além de outras conflitos, sobretudo no continente africano. Contudo, há mais de uma década o ciber espaço é cenário de confronto entre diversas nações, especialmente àquelas que disputam a hegemonia global de poder.
No espaço digital, onde algoritmos, inteligência artificial (IA) e sistemas autônomos definem estratégias de defesa e ataque. Nesse cenário, as Big Techs — gigantes da tecnologia como Meta (Facebook), Google (Alphabet), Amazon, Microsoft, Palantir, OpenAI, Tencent, Alibaba e Huawei — assumiram um papel central, não apenas como fornecedoras de infraestrutura digital, mas como parceiras ativas de governos e forças armadas.
Neste artigo eu destaco a crescente militarização das Big Techs e aponto as evidências. Por exemplo:
*Colaboração direta com programas militares (ex.: contratos com o Pentágono, OTAN, Exército de Libertação Popular Chinês).
*Executivos de tecnologia assumindo cargos em projetos bélicos (ex.: CEO do Spotify como presidente de empresa de drones com IA; generais chineses em conselhos de empresas tecnológicas).
*Tecnologias que justificam essa associação (IA generativa, drones autônomos, vigilância em massa).
*Impactos na imagem dessas empresas, incluindo protestos de artistas e boicotes.
As Big Techs e a Militarização da Tecnologia
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Contratos Militares e Parcerias Estratégicas
As Big Techs têm firmado acordos bilionários com forças armadas e agências de inteligência, fornecendo desde sistemas de nuvem até IA para tomada de decisões em combate. Alguns exemplos notáveis:
- Big Techs Ocidentais
*Microsoft:
Venceu um contrato de US$ 10 bilhões
com o Pentágono para o Projeto JEDI
(Joint Enterprise Defense Infrastructure), fornecendo infraestrutura em nuvem para operações militares .
*Amazon:
Desenvolve sistemas de reconhecimento facial para o Departamento de Defesa dos EUA e fornece serviços de AWS GovCloud (nuvem) para agências de segurança .
*Palantir (Peter Thiel)
: Empresa especializada em análise de dados para inteligência militar, usada pela CIA e forças armadas para identificação de alvos e operações de contrainsurgência .
*Google (Alphabet)
: Participou do Projeto Maven, usando IA para análise de imagens de drones, mas enfrentou protestos internos, levando ao cancelamento parcial do contrato .
Big Techs Chinesas
*Tencent:
Incluída pelo Departamento de Defesa dos EUA na lista de "empresas militares chinesas" em 2025, acusada de colaborar com o Exército de Libertação Popular (ELP) . A empresa nega, mas relatórios indicam que seu WeChat (equivqlente ao Whatsapp) é usado para vigilância em massa e coleta de dados estratégicos .
*Huawei:
Acusada de fornecer infraestrutura de 5G para sistemas de comando militar chinês, incluindo comunicações seguras para o ELP .
*SenseTime:
Empresa de IA especializada em reconhecimento facial, usada pelo governo chinês para monitorar minorias étnicas e otimizar sistemas de **drones autônomos .
*Alibaba:
Seu "AliCloud" é integrado a projetos de defesa cibernética chineses, incluindo simulações de guerra digital .
Executivos de Big Techs em Cargos Militares
A militarização de executivos é um fenômeno global:
Estados Unidos
Em junho de 2025, o Exército dos EUA criou o "Destacamento 201", uma unidade experimental que nomeou executivos do Vale do Silício como tenentes-coronéis da reserva militar. Entre eles:
- Shyam Sankar (Palantir):
Diretor de tecnologia, agora integrado ao desenvolvimento de sistemas de IA para guerra cibernética .
- Andrew "Boz" Bosworth (Meta):
CTO (Chefe de Tecnologia) do Facebook, envolvido em operações de desinformação e guerra psicológica .
- Kevin Weil (OpenAI):
Executivo de produto, trabalhando em IA generativa para propaganda militar .
China
- Generais do ELP em conselhos empresariais:
Empresas como ByteDance (TikTok), Tencent e Alibaba
têm oficiais militares em posições estratégicas, garantindo alinhamento com as diretrizes do Partido Comunista Chinês (PCC) .
- Integração civil-militar:
O programa "Fusão Militar-Civil"
da China obriga empresas de tecnologia a compartilhar inovações com o ELP, como no caso da Huawei e DJI (drones)
.
Tecnologias que associam as Big Techs com o foco Militar
-Inteligência Artificial (IA) e Sistemas Autônomos
- IA generativa: Usada para deepfakes (Meta, OpenAI) e manipulação de narrativas em operações psicológicas .
- Drones autônomos:
"Helsing HX-2" ( financiado pelo CEO do Spotify
) e DJI(China) são usados para reconhecimento de alvos .
- Análise preditiva:
Palantir e Tencent processam dados de vigilância para identificar insurgentes .
Vigilância em Massa e Controle Social
- Reconhecimento facial: SenseTime (China) e Amazon Rekognition (EUA) são usados para monitorar dissidentes .
- Dados de redes sociais: WeChat (Tencent) e Facebook (Meta)
fornecem informações para perfis comportamentais usados em operações militares .
Guerra Cibernética
- AliCloud (Alibaba) e Microsoft Azure são plataformas críticas para ataques e defesa cibernética .
- Huawei: Acusada de instalar backdoors em infraestruturas de telecomunicações globais .
Efeitos Negativos para a Imagem das Big Techs
O Caso do CEO do Spotify e a Empresa Bélica Helsing
Em 2025, Daniel Ek, CEO do Spotify, investiu €600 milhões na Helsing, uma empresa de IA militar, e assumiu sua presidência . Isso gerou uma crise de imagem:
- Artistas como a banda Deerhoof removeram seus catálogos do Spotify, declarando: "Não queremos nossa música matando pessoas" .
- Laura Bird, cantora independente, também retirou suas músicas, afirmando: "Se você tem uma assinatura do Spotify, seu dinheiro está financiando a máquina de guerra"
.
Protestos Contra Big Techs Chinesas
- Sanções dos EUA:
A inclusão da Tencent e SenseTime
na lista de empresas militares chinesas levou a quedas nas ações e boicotes .
- Resposta da China:
O governo chinês denunciou as sanções como "repressão injustificada" e ameaçou retaliar .
A Guerra Híbrida e o Futuro das Big Techs
A militarização das Big Techs representa uma nova era de conflitos, onde dados, algoritmos e IA definem o poder geopolítico. Enquanto governos e corporações avançam nessa integração, a sociedade civil e os artistas reagem, exigindo transparência e limites éticos.
Se, por um lado, a tecnologia pode aumentar a eficiência militar, por outro, ela corrói a confiança do público e coloca em risco direitos humanos fundamentais. O caso do Spotify e da Helsing são exemplos de como o capital gerado pela cultura está sendo usado para financiar a guerra — um paradoxo que pode definir o futuro não só das Big Techs, mas da própria democracia digital.
Gilberto Namastech - Futurista
Gilberto Lima Junior é Humanista Digital, Palestrante Internacional e Membro do Board de empresas de base tecnológica. Redes Sociais: @gilbertonamastech
Referências para o Artigo:
- [1] TNI: La militarización de las grandes empresas tecnológicas
- [2] O Globo: EUA incluem Tencent na lista de empresas militares chinesas
- [3] AP News: Gigantes tecnológicos chineses protestam por lista dos EUA
- [5] Cubadebate: El auge de la industria de defensa digital
- [6] CEPA: China apuesta fuerte por la IA militar
- [8] Revista Fórum: Vale do Silício no front