Ainda vale a pena parecer descolado?
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Ainda vale a pena parecer descolado?

Trabalhar na MTV, andar com uma  camiseta de banda que ninguém conhece, ir ao SXSW para ver uma palestra sobre cogumelos psicodélicos e voltar se sentindo parte da vanguarda. Por anos, esse era o roteiro. O mapa da autenticidade urbana. Mas o que acontece quando todo mundo passa a ter esse mesmo mapa?

Nesse episódio do Inteligência Orgânica, converso com Gustavo Giglio, um cara que, como eu, cresceu cercado por tribos, revistas de comportamento e eventos que prometiam moldar o futuro. O papo começou leve: síndrome do impostor, mentoria, marketing pessoal. Mas logo virou um espelho desconfortável — desses que mostram a idade e o desgaste das crenças com as quais a gente cresceu.

Falamos sobre o medo de parecer ridículo nas redes, sobre a dificuldade de transformar conhecimento em produto e sobre o colapso das fórmulas de sucesso. Em um mundo onde todo mundo quer ser mentor, influencer ou mini coach, como separar relevância de ruído?

Revisitamos a nostalgia das tribos urbanas e o esvaziamento simbólico de tudo que virou fórmula: o rock virou streaming, a contracultura virou estratégia de marca, os blockbusters viraram conteúdo reciclado com cara de algoritmo. Até o progressismo, se espremer, virou pauta de marketing — e, paradoxalmente, gatilho para reações ultraconservadoras.

O que antes era contracultura agora parece ser apenas mais uma camada da cultura dominante.

Mas a conversa não ficou só no lamento. Falamos também sobre recomeços. Sobre como a mentoria, essa prática tão banalizada nas redes, pode ser um ato radical de generosidade e escuta. Gustavo, que já esteve nos bastidores de grandes marcas e festivais, hoje encontra sentido em estender a mão para quem está começando. E eu entendo perfeitamente. Porque quando alguém te diz “aquilo que você falou mudou meu caminho”, isso vale mais que qualquer palco.

No fim das contas, talvez a pergunta não seja se ainda vale a pena parecer descolado, mas se ainda vale a pena fingir que a gente não mudou.

E você? Ainda está tentando parecer cool — ou já entendeu que isso também envelhece?

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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