Mais do mesmo: Samsung e Xiaomi relançam celulares por falta de chips (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
Mais do mesmo: Samsung e Xiaomi relançam celulares por falta de chips (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

escassez de semicondutores  representa um dos maiores percalços da atualidade. E não há exageros nessa história: de 2020 para cá, a falta de chips resultou até em suspensão na produção de automóveis, já que não havia todos os componentes necessários para concluir a montagem dos carros. Outros setores também foram igualmente afetados, incluindo as fabricantes de celulares, que tiveram de adotar novas estratégias para se esquivar dos reflexos da crise, como os relançamentos.

A crise atingiu desde os smartphones intermediários até os modelos mais caros. Esta percepção começou a ser notada já no primeiro semestre: em maio, por exemplo, o The Elec  relatou que a Samsung estava encarando dificuldades para encontrar componentes para produzir seus telefones. Entre os atingidos, estavam o Galaxy A52, Galaxy A52 5G e Galaxy A72, que tinham acabado de alcançar as prateleiras.

A adversidade partia da ausência de processadores. Não à toa, poucos meses depois, aconteceu um movimento que pode ter relação direta com o rumor de maio: após o lançamento do Galaxy A52 5G com o Snapdragon 750G em março, a Samsung anunciou o Galaxy A52s 5G em agosto com o Snapdragon 778G.

Outras fabricantes adotaram estratégias parecidas. É o caso do Xiaomi Mi 11 Lite 5G, que foi lançado em março com Snapdragon 732G. Mais tarde, em setembro, houve a estreia do Xiaomi 11 Lite 5G NE, que repete quase todas as especificações do anterior, mas se diferencia pelo processador Snapdragon 778G.

Crise de semicondutores afeta mercado de celulares (Imagem: Unsplash/Jonas Leupe)
Crise de semicondutores afeta mercado de celulares (Imagem: Unsplash/Jonas Leupe)

Fabricantes diversificaram fornecedores de chips

Os últimos tempos também foram marcados pela diversificação de fornecedores. Segundo um levantamento feito pelo  Tecnoblog  através da base de telefones do  GSMArena  nesta quinta-feira (16), até o momento, houve lançamento de 495 celulares em 2021. A cargo de comparação, 532 modelos foram apresentados em 2020.

A Qualcomm, porém, não compõe a maioria. Em 2020, os componentes apareceram em 218 celulares. Já em 2021, até o momento, a cifra permanece em 182 modelos. Do outro lado, houve o lançamento de 177 smartphones com chips MediaTek em 2020 e, por ora, 188 telefones com as peças da taiwanesa entre janeiro e quinta-feira (16).

"Agora somos o maior fabricante de SoCs de smartphones do mundo", disse o CEO da MediaTek, Rick Tsai, a investidores em novembro. "Continuamos ganhando participação em todas as regiões do mundo". O executivo ainda espera que a participação da empresa na América do Norte ultrapasse a margem de 25% em 2021.

Também houve queda na adoção de chips Exynos. A quantidade de celulares com o componente caiu de 28 modelos, em 2020, para 15 modelos, de janeiro até esta quinta-feira (16). 2021 ainda foi palco de celulares de grandes fabricantes com processadores Unisoc, como a Motorola que lançou o Moto E20, Moto E40 e o Moto G20. 

Chip da MediaTek (Imagem: Reprodução)
Chip da MediaTek (Imagem: Reprodução)

Mas o que está por trás dos relançamentos?

Os relançamentos nem sempre têm necessariamente uma relação direta com a escassez de chips. Ao  Tecnoblog , a principal analista da Counterpoint Research para a América Latina, Tina Lu, explicou que esta é uma estratégia que é adotada pelas fabricantes há algum tempo. Mas os motivos podem variar: alteração de preços, requisitos geográficos e regulatórios, além de negociações locais para diferenciar os canais de venda entre as operadoras e o varejo.

"As fabricantes fazem esse tipo de diferença [entre operadoras e varejo] com frequência", afirmou. "Samsung e Motorola estavam fazendo isso de forma especialmente agressiva."

O analista de mercado de TIC da IDC Brasil, Daniel Voltarelli, observa ao Tecnoblog que o relançamento também é uma forma de reaproveitar o portfólio. Assim, as companhias podem optar pelo reaproveitamento de modelos para tentar manter a volumetria ou trazer novidades aos consumidores, mesmo que sejam relançamentos.

Como se esquivar: do remanejamento ao relançamento

Apesar do cenário de incertezas, as companhias encontraram meios para se esquivar dos impactos da escassez. Segundo Tina Lu, as principais fabricantes geralmente têm solidez financeira. Assim, com um bom planejamento, é possível encontrar meios para amenizar as dificuldades para obter componentes.

Já a analista de pesquisa e consultoria de consumo da IDC Brasil, Juliana Arouca, aponta ao Tecnoblog duas visões em relação às estratégias das fabricantes para se esquivar da falta de semicondutores.

A curto prazo, ela fala sobre o remanejamento de acordo com as prioridades definidas pelas próprias fabricantes. Ou seja, trata-se de dedicar a atenção a regiões específicas, como foi o caso dos Estados Unidos: o país ganhou mais prioridade em detrimento do mercado brasileiro. 

"Tem fabricantes que estão fazendo agora o movimento inverso: tem estoque nos Estados Unidos e estão trazendo para o mercado brasileiro para suprir a demanda", observou. "Então, a gente entende que eles devem seguir com isso no curto prazo".

Fabricantes adotam estratégias para evitar impactos da escassez de chips (Imagem: Adrien/Unsplash)
Fabricantes adotam estratégias para evitar impactos da escassez de chips (Imagem: Adrien/Unsplash)

Arouca também dá um ponto de vista mais de longo prazo. Neste caso, a analista observa que a pandemia trouxe um questionamento para reavaliar a lógica mundial, onde a China tem um papel fundamental quando o assunto é fornecimento de semicondutores às fabricantes em outros países. "Isso tende a ser repensado com unidades mais próximas de abastecimento", disse.

Voltarelli, da IDC Brasil, complementou a fala da analista ao relembrar dos remanejamentos internos dentro das empresas. No ano passado, houve um crescimento na demanda de PCs enquanto a população global permanecia em casa devido à pandemia. Agora que já há uma situação mais controlada devido à vacinação, as fabricantes podem repensar e mudar o foco em suas operações para se dedicar mais ao mercado de celulares, por exemplo.

O analista também entende que esse é um problema geral que afeta a todos em diferentes intensidades. "Porém, o que a gente vê são relançamentos", afirmou. "Então, estão tentando reaproveitar o portfólio justamente porque o mercado brasileiro, em termos de portfólio, ele é muito mais enxuto do que outros países". E, como foi dito anteriormente, esta é uma estratégia que tenta manter a volumetria ou trazer novidades.

Tecnocast 187 – A crise global de chips

O aumento no consumo de eletrônicos durante a pandemia está provocando uma escassez na oferta de semicondutores. As fabricantes não estavam preparadas para atender a essa demanda e esse descompasso deve afetar o preço dos produtos nos próximos meses.

No segundo bloco conversamos sobre o 5G no Brasil com Juliana Zoia, que é especialista de produto da Motorola. Dá o play e vem com a gente!



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