2021 foi o ano das criptomoedas . Os principais ativos digitais atingiram múltiplos recordes de preço, grandes empresas e famosos começaram a investir nesse mercado, El Salvador se tornou a primeira nação soberana a adotar o bitcoin como moeda oficial e a China se consolidou como a grande inimiga das moedas digitais.
O mercado financeiro finalmente reconheceu o bitcoin (BTC), ether (ETH) e outras criptomoedas como verdadeiras opções de investimento, com destaque para o surgimento de diversos ETFs (Exchange Traded Funds) no mundo todo. Além disso, várias moedas digitais começaram a ser muito usadas para transações, especialmente com a febre dos NFTs e com a ascensão do metaverso.
Claro, não podemos esquecer das famosas “memecoins”, como o dogecoin (DOGE) e shiba inu (SHIB), que passaram por valorizações surreais ao longo do ano e conquistaram seu espaço entre as dez moedas digitais de maior valor de mercado. Muita coisa? Não se preocupe, listamos os cinco principais acontecimentos de 2021 para resumir a trajetória das criptomoedas.
Muitos recordes de preço
O bitcoin, a principal criptomoeda do mercado, já abriu o ano valendo US$ 29 mil, um novo recorde para a época. No entanto, em uma montanha-russa de altas e baixas, o preço do ativo digital continuou atingindo novas máximas ao longo de 2021 , finalmente ultrapassando os US$ 60 mil ainda em março. No entanto, o atual recorde da criptomoeda só foi atingido no começo de novembro, quando o bitcoin chegou a ser negociado por US$ 68,9 mil.
Isso representa uma valorização de 130% ao longo do ano. Seu valor de mercado também ultrapassou os US$ 1 trilhão pela primeira vez na história. No entanto, neste mês de dezembro o preço do ativo despencou para abaixo dos US$ 46 mil.
Além do bitcoin, temos que falar do ether, a criptomoeda nativa de rede Ethereum. O ativo abriu janeiro valendo aproximadamente US$ 1.000, para chegar a ser negociado por mais de US$ 4.800 em meados de novembro, seu atual recorde de preço.
Assim, o ether superou o ritmo de valorização do bitcoin , com uma alta acumulada de mais de 400%, se tornando um dos mais importantes criptoativos do mercado. Isso se dá especialmente pela enorme relevância que o blockchain da Ethereum ganhou no mundo das finanças descentralizadas (DeFi) e NFTs, sendo a principal rede usada para a criação de contratos inteligentes.
Também não podemos esquecer das peculiares “memecoins”, aquelas criptomoedas baseadas em memes. Mesmo tendo nascido como uma piada e uma sátira ao bitcoin, o dogecoin (DOGE) chamou muita atenção em 2021. Seja pelo apelo cômico do meme de um cachorro Shiba Inu ou por sua valorização surreal, essa moeda digital conquistou seu espaço entre os dez criptoativos mais valiosos do mercado .
Em janeiro, seu preço era inferior a um centavo de dólar. No entanto, em poucos meses o dogecoin atingiu seu atual recorde de preço, de quase US$ 0,7. Mas o hype não durou tanto assim e na segunda metade do ano o DOGE perdeu sua força. Em dezembro, a memecoin é negociada entre US$ 0,2 e US$ 0,15. Mesmo assim, o ativo acumula cerca de 3.300% de alta em 2021.
Parte do motivo dessa desaceleração do dogecoin foi a ascensão de outra importante memecoin, o shiba inu (SHIB). Criado para ser o “assassino do DOGE”, essa criptomoeda nasceu do mesmo meme e ganhou muito destaque no segundo semestre, superando o valor de mercado do seu rival diversas vezes e conquistando seu lugar entre as moedas mais valiosas.
O valor unitário do SHIB é bem baixo, inferior a um centavo de dólar, mas com um suprimento de mais de 500 trilhões de moedas circulando, seu valor de mercado é extremamente relevante. Seu atual recorde é de US$ 0,00008845, registrado no final de outubro.
Tesla, Elon Musk e outros grandes investidores
Um dos grandes fatores para a gigantesca alta das criptomoedas em 2021 foi a entrada de grandes investidores neste mercado . Muitas empresas e famosos compraram bitcoin, ether e outras moedas digitais neste ano, legitimando esse setor em ascensão e trazendo ainda mais atenção da mídia.
A MicroStrategy , por exemplo, entrou neste mercado ainda em 2020, mas foi neste ano que a empresa adquiriu bilhões em bitcoin. Após mais uma compra de 1.434 BTC entre novembro e dezembro, a companhia já possui mais de US$ 5,9 bilhões na criptomoeda, com ganhos estimados em mais de US$ 2,2 bilhões desde sua compra inicial em agosto do ano passado.
Não podemos esquecer da Tesla , a companhia de carros elétricos do excêntrico Elon Musk. A empresa tomou os noticiários em fevereiro, quando anunciou a compra de US$ 1,5 bilhão em bitcoin. Na época, o mercado ficou extremamente eufórico com uma compra tão grande feita por uma empresa tão conhecida.
A partir daí, a trajetória da Tesla com o bitcoin foi cheia de altas e baixos. A empresa vendeu 10% de seus ativos digitais e lucrou US$ 100 milhões com a transação. Por um tempo, a companhia passou a aceitar pagamentos na criptomoeda, mas isso durou muito pouco. Após diversas críticas sobre o impacto ambiental da mineração do bitcoin, a Tesla desistiu de aceitar a moeda.
Somos obrigados a falar também de Elon Musk . O bilionário foi a personalidade mais influente no mercado cripto em 2021. Por muitos meses, ele teve a capacidade de valorizar criptomoedas com um simples tweet, tanto que sofreu muitas acusações de manipulação de preços. O CEO da Tesla e da SpaceX se tornou um grande apoiador do bitcoin no início do ano, mas passou a criticar o ativo assim que a Tesla deixou de aceitar a moeda.
Mas o verdadeiro amor do bilionário é o dogecoin, a criptomoeda que ele mesmo chamou de sua favorita. Em abril, pouco antes de sua participação no Saturday Night Live , Musk se autointitulou “Dogefather”, assumindo o posto que ele mesmo criou de embaixador da criptomoeda baseada em um meme. Claro, toda essa atenção fez o DOGE se valorizar muito.
Sua paixão pelo ativo se estendeu até mesmo aos negócios da SpaceX . Em maio, o bilionário anunciou que sua empresa espacial realizará uma missão à Lua em 2022 batizada de DOGE-1, pois foi totalmente paga em dogecoin. Nela, um foguete Falcon 9 levará um satélite da Geometric Energy Corporation (GEC) ao espaço.
Por fim, temos que falar do primeiro país a tornar o bitcoin uma moeda oficial. O presidente de El Salvador , Nayib Bukele, conseguiu aprovar no Congresso salvadorenho a "Lei do Bitcoin" que torna a criptomoeda oficial no país, junto ao dólar americano. Essa notícia foi recebida com muito entusiasmo pelo mercado, demonstrando que a moeda digital pode ser utilizada no dia a dia.
China: a inimiga das criptomoedas
Por mais que 2021 tenha sido um ano muito bom para o mercado cripto, nem tudo é perfeito. Neste ano a China apertou ainda mais o controle e as proibições sobre as operações com criptomoedas no país. Pequim já havia declarado guerra contra o bitcoin e outras moedas digitais ainda em 2017, mas neste ano a coisa ficou muito mais feia.
O centro dos problemas foi a mineração de bitcoin no país . Com uma oferta de energia elétrica extremamente barata, proveniente da queima de carvão e de hidroelétricas, a China sempre foi o maior polo de mineradores de criptomoedas no planeta. Segundo dados da universidade de Cambridge, a China era responsável por 65% da taxa de hash global do bitcoin no início deste ano.
No entanto, com a gigantesca valorização do ativo, os mineradores expandiram muito suas operações no país. A mineração de bitcoin é um processo que consome muita energia elétrica. Para conseguir cumprir com suas metas de redução nas emissões de carbono, Pequim passou a perseguir os mineradores que operavam na China e apertou as proibições sobre toda e qualquer atividade envolvendo criptomoedas dentro de suas fronteiras.
Essa história tomou proporções ainda maiores quando os mineradores decidiram fazer algo sobre isso. Antes que o governo chinês os expulsasse, eles decidiram deixar o país voluntariamente. Entre julho e agosto, a rede do bitcoin perdeu 50% de seu poder de processamento enquanto metade dos mineradores do mundo ficavam offline. O mundo viu então o grande êxodo de mineradores que deixaram a China que, nos meses seguintes, migraram principalmente para os Estados Unidos e Cazaquistão.
Durante muitos meses, o bitcoin e o mercado cripto de maneira geral viu grandes desvalorizações ocorrendo toda vez que Pequim anunciava uma nova proibição ou emitia algum comunicado oficial contra as criptomoedas.
A ascensão dos ETFs de criptomoedas
As criptomoedas passaram por vários processos de legitimação ao longo deste ano, mas a chegada dos ETFs (Exchange Traded Funds) de bitcoin e ether no Brasil, Canadá e Estados Unidos foram acontecimentos particularmente importantes. Isso porque esse tipo de produto financeiro aumentou a exposição do mercado tradicional de investimentos aos ativos digitais.
Somente no Brasil, tivemos múltiplos ETFs de criptomoedas chegando à Bolsa de Valores B3. O primeiro foi o QBTC11, fundo de bitcoin da gestora de recursos QR Asset Management lançado ainda em março. A mesma empresa foi responsável também pelo primeiro ETF de ether da América Latina, lançado na B3 em agosto sob o ticker QETH11.
Ainda mais importante do que os ETFs brasileiros foi a aprovação do primeiro ETF de bitcoin nos Estados Unidos. Em outubro, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) finalmente aprovou o primeiro fundo do tipo no país. Esse marco chamou muita atenção, especialmente porque os órgãos reguladores americanos tomaram posições mais críticas e rigorosas antes de aprovar o produto financeiro.
A notícia foi extremamente bem recebida pelo mercado, que a tratou como um importante fator de validação dos investimentos em bitcoin pelo mercado financeiro tradicional. Na época, o preço do BTC disparou, abrindo caminho para seu atual recorde de preço de quase US$ 69 mil. Desde então, diversos outros ETFs de criptomoedas foram aprovados nos EUA.
A febre dos NFTs e o famigerado metaverso
As criptomoedas nunca foram tão usadas para transações quanto neste ano. Agora, o bitcoin fica um pouco de lado, pois sua rede blockchain é pouco otimizada para enviar e receber dinheiro e suas taxas são gigantescas. Desta vez, foi o ether que tomou os holofotes com a ascensão de um novíssimo mercado de ativos digitais: os NFTs .
Tokens não fungíveis, ou NFTs, são aqueles polêmicos criptoativos que permitem que qualquer coisa seja registrada em rede blockchain e se torne “única”. Daí também surgiu o conceito de escassez digital , como quando artistas digitais criam uma obra de arte digital e as autenticam através dessa tecnologia. Assim, na teoria, esse token teria o mesmo valor de uma obra de arte física, existindo apenas um único arquivo original, com autenticidade garantida pelo blockchain.
Mesmo em dezembro, muita gente ainda não entende toda essa história de NFTs (como o Keanu Reeves), mas esse mercado certamente se tornou uma grande potência. Ainda no início do ano, o artista digital Beeple vendeu o NFT mais caro até hoje. Sua obra Everydays — The First 5000 Days foi leiloada por US$ 69 milhões em março. Desde então, esse mercado movimentou centenas de milhões de dólares todo mês.
Segundo dados da plataforma de monitoramento de transações em blockchain NonFungible , desde agosto os NFTs já movimentam mais de US$ 1 bilhão mensalmente, chegando em seu pico em meados de novembro, quando as vendas de tokens não fungíveis somaram quase US$ 4 bilhões.
A vasta maioria dessas transações foram realizadas com criptomoedas . A maior parte dos NFTs é registrado no blockchain da Ethereum e é transacionado com ether. No entanto, outras criptomoedas também foram muito usadas, como Solana (SOL) e Tezos (XTZ), por exemplo.
Com a ascensão do metaverso nos últimos meses, especialmente depois que o Facebook mudou de nome para Meta e anunciou planos para desenvolver novos projetos de universos digitais, os NFTs e as criptomoedas vêm despenhando papeis ainda mais importantes.
De maneira geral, o metaverso promete digitalizar o mundo real, criando inúmeras oportunidades comerciais, todas mediadas pelas criptomoedas, pelo blockchain e NFTs. Assim, a economia digital do futuro deve depender de moedas como o ether, expandindo ainda mais a relevância do setor cripto.
O que acontecerá em 2022? Não sei, mas acredito que o blockchain e as criptomoedas terão uma importância ainda maior no que está por vir.