O GPS está entre os recursos triviais de um smartphone. Mas a Índia quer ir além. O Governo do país tenta convencer gigantes do setor a também incluírem o NavIC em seus celulares. Esse é um sistema similar ao GPS, mas desenvolvido na Índia. O problema é que companhias como Apple, Samsung e Xiaomi não estão gostando da ideia.
O que é NavIC?
Em um esforço para tornar a Índia tão autossuficiente quanto possível, o governo local vem tentando diminuir a dependência de sistemas estrangeiros, o que inclui o GPS. Sigla para Navigation with Indian Constellation, o NavIC surge como uma alternativa que promete ser mais precisa.
Não é um movimento inédito. Com origem nos Estados Unidos, o GPS é o sistema de localização por satélite mais popular que existe. Mas há outras opções. A União Europeia tem o Galileo, a Rússia tem o Glonass, a China tem o Beidou.
A Índia também quer um sistema de localização para chamar de seu. E quer há muito tempo. O governo indiano aprovou o projeto do NavIC em 2006. A estimativa era a de que o sistema entraria em funcionamento no final de 2011.
Mas o NavIC só entrou em operação em 2018, com oito satélites que cobrem todo o território da Índia e algumas regiões ao redor do país. Está nos planos do governo indiano tornar o sistema global, porém.
Apple, Samsung e Xiaomi resistem ao NavIC
Hoje, o NavIC é usado dentro da Índia para rastreamento de veículos públicos e monitoramento de desastres naturais, por exemplo. Mas o governo indiano quer ampliar as formas de uso da tecnologia.
O suporte ao sistema nos celulares faz parte desses planos. Para tanto, grandes nomes do segmento estão sendo pressionados a implementar o NavIC em celulares vendidos a partir de 2023.
Mas, de acordo com a Reuters, companhias como Apple, Samsung e Xiaomi resistiram à ideia em reuniões realizadas em agosto e setembro deste ano.
De modo geral, existe a preocupação de que a incorporação da tecnologia aumente os custos de desenvolvimento e produção dos smartphones. Nesse sentido, Binu George, representante da Samsung na Índia, fez a a seguinte declaração em uma reunião realizada em 2 de setembro: "Isso [o suporte ao NavIC] aumentaria os custos, pois requer mudanças no design de hardware e investimentos adicionais para o suporte a dispositivos específicos para a Índia. Além disso, as companhias já se preparam para modelos que serão lançados em 2024".
Pode haver outros motivos? Pode. Mas o argumento da preocupação com os custos tem lógica.
Só para dar um exemplo, na mencionada reunião de 2 de setembro, a MediaTek chegou a deixar claro que todos os seus chips para celulares 5G podem suportar o NavIC, mas com hardware adicional e algum aumento de custos.
O governo indiano insiste
A resistência ao sistema inviabiliza os planos do governo indiano. Basta levarmos em conta que, somente a Samsung e a Xiaomi, juntas, respondem por quase 40% das vendas de smartphones na Índia.
Mas o governo indiano não desistiu da ideia. Em uma reunião futura, a agência espacial indiana deve até se comprometer formalmente a dar suporte técnico aos fabricantes de celulares para a adoção do NavIC.
Cientes de que a pressão deve continuar, as empresas até já tentam negociar. Uma proposta feita por algumas delas é a de que o governo indiano torne o sistema compatível com a frequência de satélite L1, que já é usada pelo GPS.
Teoricamente, essa mudança tornaria a integração do NavIC mais fácil e menos custosa. Por ora, o governo indiano usa somente a frequência L5 para o sistema.
É importante deixar claro que, a despeito da questão dos custos, o NavIC já foi implementado em celulares — em cerca de 300 modelos, de acordo com um levantamento da Counterpoint Research.
Entre eles está o Asus ROG Phone 3, lançado em 2020. No mesmo ano, o sistema apareceu em chips como Qualcomm Snapdragon 720G e Snapdragon 662.