TikTok é acusado de espionar jornalistas
Paula Alves
TikTok é acusado de espionar jornalistas

Muito conhecido pelas dancinhas, o TikTok se tornou uma das estrelas dos últimos anos devido ao seu crescimento espetacular. Mas a história da rede social não é feita apenas de méritos: a ByteDance reconheceu que funcionários utilizaram dados da plataforma para espionar jornalistas, segundo uma reportagem exclusiva da  Forbes.

Toda esta situação incômoda foi revelada pela jornalista Emily Baker-White, que também foi vítima do monitoramento.

Em junho, quando era do BuzzFeed News, a repórter relatou que dados de usuários dos Estados Unidos foram acessados repetidamente por funcionários da China, país de origem da companhia. As informações partiram de áudios de reuniões realizadas dentro da ByteDance, que acabaram nas mãos da jornalista.

A situação, no entanto, não finalizou por aí. Nesta quinta-feira (22), Baker-White informou que a empresa por trás do TikTok espionou “vários jornalistas da Forbes” e de outros veículos para descobrir de onde vinham os vazamentos de informações internas.

Afinal, nos últimos tempos, a ByteDance foi alvo de várias reportagens que expôs a sua relação com o governo da China.

ByteDance monitorou a localização de usuários

A vigilância partiu de dados pessoais dos jornalistas, como o endereço IP. Através dessas informações, os funcionários da ByteDance tentaram verificar se os jornalistas estiveram nos mesmos lugares que os colaboradores da empresa responsável pelo TikTok.

Tudo isso foi descoberto por uma investigação interna. Mas a situação não é de agora.

Baker-White lembrou que, em outubro, a revista de negócios chegou a revelar as táticas de vigilância da companhia. Na época, a empresa foi acusada de acessar os dados de localização de alguns usuários dos Estados Unidos. E tudo isso era feito sem o conhecimento dos alvos.

A ação, segundo a Forbes, era movida por funcionários alocados em Pequim, na China. Mais especificamente pelo departamento de auditoria interna e controle de risco, liderado por Song Ye.

Song Ye, vale ressaltar, responde diretamente ao CEO da ByteDance, Rubo Liang.

A grande questão é que, na época, a companhia não chegou a negar a espionagem quando foi questionada pela revista. Contudo, a ByteDance se pronunciou no Twitter, alegando que o TikTok nunca foi usado para espionar ativistas, figuras públicas, jornalistas ou membros do governo dos Estados Unidos, questionando a reportagem de então.

No entanto, toda esta situação foi esclarecida tempos depois.

Dona do TikTok reconheceu a espionagem

De acordo com a reportagem desta quinta-feira (22), o monitoramento indevido foi confirmado pela própria ByteDance após uma análise interna.

Em um e-mail interno acessado pela Forbes e pelo The Verge, o CEO da empresa disse que estava “profundamente desapontado” depois que ficou sabendo da situação.

“A confiança do público que investimos com enormes esforços para construir será significativamente prejudicada pela má conduta de alguns indivíduos”, afirmou. “Acredito que esta situação servirá de lição para todos nós.”

No comunicado, o executivo afirmou que a empresa estava tomando “ações imediatas” para “amenizar e resolver” o caso.

Outros emails internos dão o tom de desaprovação ao falar sobre a força-tarefa.

Erich Andersen, conselheiro geral do TikTok, lembrou que é uma prática padrão existir um grupo de auditoria interna para investigar violações no código de conduta. “No entanto, neste caso, os indivíduos abusaram de sua autoridade para obter acesso aos dados do usuário do TikTok”, disse.

“Esses indivíduos pretendiam identificar possíveis conexões entre dois jornalistas, que noticiaram o conteúdo de documentos e gravações vazados – um ex-repórter do BuzzFeed e um repórter do Financial Times – e funcionários da empresa”, explicou. “Por sua vez, eles esperavam que as informações sobre essas conexões ajudassem a identificar os funcionários responsáveis pelos vazamentos.”

Ainda segundo Andersen, os “esforços imprudentes não resultaram na identificação das fontes dos vazamentos”.

“Quero acrescentar que essa má conduta não representa de forma alguma o que eu sei que são os princípios de nossa empresa”, disse o CEO do TikTok, Shou Chew. “Fico desapontado ao saber que qualquer pessoa, mesmo um subconjunto muito pequeno de pessoas, teria considerado isso aceitável.”

Uma porta-voz do TikTok também se manifestou. Em nota à Forbes, Hilary McQuaide disse que a má conduta de “certos indivíduos” foi um “uso indevido” da autoridade conferida pelo cargo “para obter acesso aos dados do usuário”.

Ainda segundo a representante, esse “mau comportamento é inaceitável” e não está de acordo” com os esforços do TikTok para ganhar a confiança dos usuários.

Funcionários foram demitidos após o escândalo

Toda essa pedra no sapato resultou, como era de se esperar, em demissões.

Depois que o caso veio à tona, o chefe de auditoria interna, Chris Lepitak, foi desligado. Na sequência, Song Ye, que comandava o departamento de auditoria interna e controle de risco, pediu para sair.

Os demais funcionários que participaram da ação também não fazem mais parte dos quadros da empresa.

De toda forma, esta polêmica pode azedar ainda mais a relação entre a empresa e o governo dos Estados Unidos.

Durante a presidência de Donald Trump, o TikTok viveu momentos de tensão nas terras americanas. A situação resultou até em um bloqueio por parte da Marinha dos EUA depois que a plataforma foi considerada como uma “ameaça de segurança”, em 2019.

A situação, por outro lado, parece que se acalmou desde que Joe Biden virou o novo residente da Casa Branca. Não à toa, em setembro, o TikTok avançou em um acordo com os Estados Unidos sobre segurança de dados.

Uber já foi acusado de espionagem

A ByteDance não é a única empresa de tecnologia a se envolver em uma polêmica desse porte.

Em 2017, a Uber foi acusada de espionagem pelo próprio ex-gerente de inteligência global. Na época, Richard Jacobs informou que a empresa acessou remotamente dados confidenciais e de comunicação corporativa de um concorrente não divulgado.

Além disso, o ex-funcionário disse que a companhia roubou dados para identificar motoristas que pudessem aumentar a fatia de mercado da empresa e comprou código-fonte para entender como um aplicativo rival funcionava.

Tudo isso resultou em um ano muito complicado para a empresa. No fim das contas, o CEO Travis Kalanick renunciou ao cargo em junho de 2017.

Em 2014, o BuzzFeed News falou sobre a existência de uma ferramenta interna conhecida como “God View”. Através dela, funcionários da empresa poderiam facilmente vigiar os usuários, incluindo jornalistas.

E não vamos nos esquecer do PRISM, utilizado pelo governo dos EUA para acessar servidores de grandes empresas de tecnologia.

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