Os efeitos do aquecimento global , provocado pela ação humana, já não são mais alvo de questionamento, ainda mais quando se juntam com fenômenos naturais, como o El Niño . É inquestionável que o mundo está ficando mais quente e, invariavelmente, as mudanças climáticas facilitam a disseminação de doenças já conhecidas, mas também aumentam o risco de surgimento de novas enfermidades no Brasil.
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De forma direta, as mudanças climáticas são associadas com morte por calor, muito por causa da desidratação. Nessas circunstâncias, crianças, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade correm mais risco. No entanto, a maior causa de mortes estará relacionada com um efeito indireta, o aumento na incidência de infecções virais e bacterianas. Aqui, é possível incluir a dengue, a febre maculosa, a cólera e outras inúmeras doenças.
“As doenças que eram tipicamente tropicais são observadas em países que não são tropicais”, pontua o infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury e professor da Escola Paulista de Medicina (EPM), durante o 8º Encontro Fleury de Jornalismo em Saúde , no qual o Canaltech esteve presente.
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Em paralelo, os países tropicais, como o Brasil, também estão em risco com a intensificação de doenças já conhecidas e com a introdução de novas. “Estamos aprendendo sobre doenças que eram comuns em outros lugares, mas que estão começando a aparecer aqui”.
Explosão de casos de dengue
A expectativa é que, como o aquecimento global, aumente as doenças que têm mosquitos como vetores, como a dengue e o Aedes aegypti . É importante lembrar que esse mesmo vetor pode transmitir também os vírus zika e chikungunya .
“Os mosquitos têm uma parte muito grande do seu ciclo biológico dentro da água. Quando você altera o regime de chuvas, há um impacto direto na intensidade deles”, explica o infectologista. Essas alterações são um dos efeitos das mudanças climáticas.
Por exemplo, no sul do Brasil, incluindo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, não eram comuns tantos casos de dengue. Só que com as fortes chuvas observadas neste ano , há aumento significativo no número de casos. Diante da nova tendência, a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) já aponta para a situação crítica prevista para 2024 .
Olhando para outras nações, na Argentina, onde a doença também era relativamente incomum, os casos estão aumentando. Ainda mais raro, alguns países da Europa têm apresentado casos autóctones (locais) da doença, como a França e a Espanha.
Carrapatos se proliferam mais no calor
As doenças transmitidas por carrapatos, incluindo a febre maculosa do carrapato-estrela, também devem se tornar mais frequentes. Neste ponto, é preciso lembrar que algumas regiões do Brasil, já são endêmicas para a doença, como o interior de São Paulo — com 11 mortes somente este ano — e Minas Gerais .
“Com as chuvas e o aumento das temperaturas, os carrapatos se multiplicam muito mais. A tendência é que aumente o número de [outras] doenças que eles transmitem, como tifo murino, febre Q, encefalite ‘ tick-borne ’ [sem tradução para o português ainda], febre powassan, doença de lyme e babesiose”, pontua Granato.
Novas doenças no Brasil
Olhando para a realidade brasileira e fazendo um exercício de futurologia, Granato aponta para o risco das seguintes sete doenças, relacionadas com as mudanças climáticas, chegarem ou se intensificarem no Brasil:
- Febre do Nilo Ocidental: esta é uma doença viral transmitida por um flavivírus, da família Flaviviridae, assim como a dengue, a zika e a febre amarela. A doença já foi identificada no Brasil ;
- Vírus Nipah: transmitido por morcegos, a infecção pode causar síndromes respiratórias agudas e até encefalites (inflamações no cérebro) mortais ;
- Doença de Lyme : provocada por uma bactéria que é transmitida por carrapatos, a infecção pode atingir o cérebro e o coração, quando não é corretamente tratada;
- Encefalite “ tick-born ”: é um vírus transmitido por carrapatos infectados, sendo mais comuns nas estações mais quentes do ano. É associado com quadros de encefalite e meningite;
- Encefalite japonesa: transmitido por mosquitos, o flavivírus afeta o sistema nervoso central do indivíduo. O agente infeccioso também é da mesma família que a dengue e a febre amarela;
- Cólera: doença bacteriana que é transmitida pela ingestão de água e de alimentos contaminados. As pessoas infectadas tendem a apresentar diarreia, e já existem dados que associam o aumento de casos com o El Niño (que provoca o aquecimento das águas do oceano);
- Vírus Powassan: este é também um flavivírus, só que é transmitida por carrapatos. Mesmo nos locais em que já foi registrado, como o Canadá, ainda é considerado raro.
Como encarar o aquecimento global?
Como as mudanças climáticas já são uma realidade, os governos, os profissionais de saúde e as populações vão precisar encarar as novas dinâmicas envolvendo doenças, conhecidas ou não, mesmo que medidas sejam adotadas hoje para conter o aquecimento global — como reduzir a emissão dos gases do efeito estufa.
Diante desse cenário, o especialista indica ações que ajudam a minimizar e conter os novos desafios na área da epidemiologia, como:
- É fundamental informar e orientar a população sobre as doenças mais comuns em suas regiões, compartilhando meios de prevenção;
- Onde não há, é preciso investir em saneamento básico;
- As atuais soluções da indústria farmacêutica não serão suficientes para encarar essa nova realidade. Por isso, é preciso investir em pesquisas e no desenvolvimento de novas vacinas e medicamentos;
- Na área de pesquisa, as parcerias público-privadas tendem a ser fundamentais para desenvolver novos produtos e estratégias cada vez mais eficazes;
- É preciso melhorar a infraestrutura na área de saúde para todos, em uma comunidade;
- O monitoramento ativo e a vigilância epidemiológica são fundamentais para identificar possíveis perigos à saúde pública.
Leia a matéria no Canaltech .
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