Comprimido ou injeção? A forma de tomar remédio muda como o cérebro reage
Fidel Forato
Comprimido ou injeção? A forma de tomar remédio muda como o cérebro reage

A forma como um medicamento é entregue ao nosso corpo, por via oral ou intravenosa, muda como o cérebro reage e gera até efeitos diferentes. Neste ponto, receber uma injeção ou fumar uma substância é uma forma muito mais rápida para sentir os primeiros efeitos que engolir um comprimido ou inalar uma medicação.

Os médicos e cientistas sabem disso há anos, mas o porquê desse mecanismo ainda é um mistério. Para começar a desvendar essa história, pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde (NIH), nos Estados Unidos, realizaram um estudo clínico, analisando como a via de entrega de um medicamento modifica a resposta do cérebro. Os resultados foram compartilhados na revista Nature Communications .

Impacto do remédio no cérebro

Dentro desse contexto com diferentes respostas cerebrais possíveis, os remédios (ou drogas) que chegam, em primeiro lugar no cérebro, são consideradas mais viciantes. É o caso da heroína injetável em comparação a uma droga embalada na forma de um comprimido. Inclusive, as drogas injetáveis mais comumente provocam overdoses.

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“Quanto mais rapidamente uma droga entra no cérebro, mais viciante ela é”, reforça Nora Volkow, autora sênior do estudo, em nota. “Agora, usando uma das mais novas e sofisticadas tecnologias de imagem, temos alguns insights ” para explicar esse processo, afirma.

Testando pílulas e injeções

No estudo clínico, os pesquisadores recrutaram 20 adultos saudáveis para receber uma dose do medicamento estimulante metilfenidato — normalmente conhecido como Ritalina e prescrito para o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) — ou de um placebo.

Os voluntários foram divididos em quatro grupos:

  • Primeiro grupo: metilfenidato por injeção;
  • Segundo grupo: placebo por injeção;
  • Terceiro grupo: metilfenidato por via oral (comprimido);
  • Quarto grupo: placebo por via oral.

Em seguida, os pesquisadores analisaram as diferenças nos níveis de dopamina, através de imagens de uma tomografia por emissão de positrões (PET). Também foi medida a atividade cerebral por meio de uma ressonância magnética funcional (fMRI) . Os pacientes relataram o que sentiam, como euforia, durante o processo.

Analisando os resultados

Como esperado, receber o medicamento por via intravenosa foi muito mais eficaz. O pico de dopamina foi alcançado em um intervalo de 5 a 10 minutos após a injeção. Enquanto isso, os comprimidos levaram cerca de uma hora para fazer efeito.

O que chamou a atenção da equipe, no entanto, foi que duas regiões cerebrais só foram ativadas com o uso das injeções: o córtex cingulado anterior dorsal e a ínsula, que integram a rede de saliência ou de importância do cérebro. É a rede responsável por tornar as medicações aplicadas por via intravenosa mais viciantes, segundo os autores.

De acordo com os pesquisadores, os voluntários só descreveram a sensação de euforia quando a rede de saliência estava ativada. Conforme o seu nível de atividade nessa parte do cérebro reduzia, era comum a passagem do estado de excitação, demonstrando a forte relação.

Agora, o próximo passo da pesquisa é entender se a rede de saliência pode ser bloqueada. Se isso for possível, os cientistas querem entender se a aplicação de injeções pode ser feita, sem provocar a sensação de euforia. Eventualmente, isso abrirá novos caminhos para o tratamento da dependência química .

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