Crítica Não Tem Volta | Texto inovador é palco para Rafael Infante brilhar
Diandra Guedes
Crítica Não Tem Volta | Texto inovador é palco para Rafael Infante brilhar

Não é incomum ver o cinema nacional produzir comédias tão ruins que chegam a dar vergonha, mas felizmente há também bons títulos que divertem e fazem o público rir. Um exemplo disso é Não Tem Volta , um filme estrelado por Rafael Infante e Manu Gavassi que traz não apenas um roteiro inédito, mas também um texto que serve de palco para toda a genialidade do comediante do Porta dos Fundos .

Com uma hora e meia de duração, a trama começa mostrando Henrique (Infante) imerso em um surto psicótico e tentando encontrar alguma maneira de lidar com a tristeza que sente por ter sido abandonado por sua namorada Gabi (Gavassi) há um ano. Sem conseguir imaginar sua vida sem a mocinha, ele decide tomar uma atitude radical: se matar. Só que, para isso, é preciso coragem e o pobre rapaz é covarde demais.

Para resolver a sua situação, então, o homem contrata a Não Tem Volta, uma empresa de assassinos de aluguel que irá fazer o serviço. O problema é que, assim que firma o contrato, ele dá de cara com sua amada que está de volta da Europa.

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Com um ótimo ritmo, piadas que fogem do clichê e um Rafael Infante mais elétrico do que nunca, o longa do diretor César Rodrigues ( Minha Mãe É Uma Peça 2 ) facilmente leva o espectador para dentro da história. E, sabendo que agora realmente não tem volta, tanto o público quanto Henrique tentam encontrar uma saída para essa situação.

Nesse ponto, o roteiro poderia cair na armadilha de criar uma trama que despertasse ansiedade e forçasse as risadas, mas acertando novamente, o roteirista Fernando Ceylão cria algo leve e convida o espectador para um passeio na mente alucinada do personagem.

E tendo o Rio de Janeiro e a Bahia como cenário, o longa não tenta inventar a roda, mas inverte a lógica da comédia romântica com muito brilhantismo. Aqui, não é a mocinha que está sofrendo de amor por um homem independente e determinado e, sim, o contrário. Também não é ela a protagonista dos ataques de ciúmes e atitudes desesperadas, e, sim, ele. Tais situações só provam como é possível fazer rir sem cair no preconceito de retratar a mulher como histérica e frágil.

Personagens coadjuvantes também ajudam o filme a ganhar força

Já que falamos em personagens, vale dizer que a dinâmica entre Infante e Gavassi também é uma das responsáveis pelo sucesso da obra. Afinal, se o casal de protagonistas não se entende em cena, fica muito difícil fazer o público acreditar naquele amor.

Manu, que ainda tem pouca experiência nas telonas, não faz feio, mas parece que está interpretando uma versão de si mesma. Já o veterano Diogo Vilela aparece como o tio de Henrique e entrega consistência em cena. Com muitas obras de comédia em seu currículo, ele tem o timing certo que o gênero exige.

É Infante, no entanto, quem rouba a cena. Seu ritmo naturalmente acelerado foi usado com muita sabedoria pelo diretor para compor o personagem. Ele é desesperado, afoito, cômico e emocionado, tudo isso ao mesmo tempo. A grande sacada foi não acelerar o ator demais a ponto de fazer com que suas falas ficassem incompreensíveis, e, assim, felizmente o texto sai da sua boca sem maiores problemas.

Mas como nem só de acertos vive o cinema, o plot twist de Não Tem Volta, apesar de bom, é totalmente mal desenvolvido. Sem esmiuçar o assunto, para não entregar spoiler ao leitor, vale dizer que quem assiste à trama fica querendo saber como aquilo aconteceu com a personagem da Gabi. É nítido que, apesar de ser uma das protagonista, seu arco deixa a desejar.

Já o final é surpreendente e foge, mais uma vez, do clichê romântico esperado. Também vale comentar que Não Tem Volta vai além das gargalhadas e entrega cenas de ação exageradas, mas engraçadas e ainda aborda, mesmo que superficialmente, temas como ciúmes, possessão e dependência emocional.

Por fim, é importante falar que o filme aborda o tema do suicídio de uma maneira respeitosa e não se aprofunda nessa questão. Desse modo, mesmo quem tem gatilhos com a temática, conseguirá ver a obra sem maiores problemas.

Lembrando que o longa estreia nos cinemas nacionais no dia 23 de novembro, e é uma oportunidade sem volta de assistir a uma boa comédia nacional. A dica é ficar até as luzes se acenderem, pois a cena pós-crédito também arranca boas risadas.

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