Os eventos recentes na OpenAI, que acompanham a demissão do CEO Sam Altman , expuseram problemas de governança e de estrutura da empresa, em especial o controle administrativo exercido por um pequeno conselho de diretores independentes. A decisão de demitir Altman, na última sexta-feira (17), foi tomada por apenas quatro pessoas e pegou de surpresa o mercado, os investidores, as empresas parceiras e os próprios funcionários da companhia.
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As regras que permitiram a remoção de Altman do cargo de chefe-executivo estão definidas no próprio estatuto da companhia. Criada no final de 2015 como uma organização sem fins lucrativos, a OpenAI deixou seu controle nas mãos de diretores independentes que deveriam perseguir a missão de “construir inteligência artificial geral segura e benéfica para a humanidade” e não poderiam ter participação acionária na empresa.
Estrutura com diretores independentes
O estatuto consolidado em janeiro de 2016 define que os membros do conselho têm o poder de eleger e destituir outros diretores, além de determinar o tamanho do conselho em si.
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O documento estabelece ainda que uma maioria simples pode tomar qualquer medida sem aviso prévio ou reunião formal, desde que haja o consentimento por escrito dos membros envolvidos.
O conselho foi inaugurado com Sam Altman e o bilionário Elon Musk . Segundo a página institucional da OpenAI, nem mesmo Altman tinha participação direta na empresa. “Seu patrimônio é indireto por meio de um fundo de investimento da Y Combinator que fez um pequeno investimento na OpenAI antes de ele trabalhar em tempo integral”, diz a companhia.
Desde 2016, no entanto, as operações da OpenAI cresceram exponencialmente: uma subsidiária com fins lucrativos foi criada e mantida sob o controle do mesmo conselho independente, a Microsoft injetou dinheiro na companhia, mas sem direito a uma cadeira no conselho, e a empresa viu seu valor de mercado saltar com o lançamento do ChatGPT.
Enquanto isso, novos diretores entraram e saíram do conselho. Musk saiu em 2018, após discordar sobre a direção da empresa, enquanto outros nomes do Vale do Silício ingressam o conselho, incluindo Shivon Zilis, Will Hurd, Chris Clark e Reid Hoffman.
Ao longo de 2023, no entanto, o conselho de diretores encolheu e deu condições para um pequeno grupo de pessoas — e sem participação acionária — demitir Altman.
Quem são os diretores que demitiram Altman
No momento da demissão de Sam Altman na última sexta-feira, o conselho da OpenAI era formado por seis pessoas. Além do então CEO faziam parte do grupo: Greg Brockman, Ilya Sutskever, Adam D’Angelo, Tasha McCauley e Helen Toner.
Segundo Brockman, então presidente da mesa diretora, ele e Altman foram informados por Sutskever que seriam removidos do conselho pouco antes do comunicado público, que incluía também a demissão do CEO e cofundador.
No anúncio, o conselho informou que Altman “não era consistentemente sincero nas suas comunicações com o conselho, prejudicando a sua capacidade de exercer as suas responsabilidades” e que “não confia mais em sua capacidade de continuar liderando”. Ao receber a notícia, Brockman pediu também o seu desligamento.
After learning today’s news, this is the message I sent to the OpenAI team: https://t.co/NMnG16yFmm pic.twitter.com/8x39P0ejOM
— Greg Brockman (@gdb) November 18, 2023
Sutskever e os outros três diretores independentes formaram a maioria necessária para realizar as mudanças que surpreenderam o mercado de tecnologia. Veja quem são esses membros:
Ilya Sutskever
Ilya Sutskever é um dos funcionários mais antigos da OpenAI e entrou para o conselho em 2017. O executivo mantém o cargo como líder de pesquisa e supostamente estava preocupado com seu papel reduzido dentro da companhia e com a comercialização acelerada de suas tecnologias por Altman. Apesar de fazer parte do conselho, ele assinou uma carta aberta que pedia a renúncia do grupo .
Adam D’Angelo
D’Angelo foi um dos primeiros funcionários do Facebook e é CEO da Quora, plataforma de perguntas e respostas que licencia tecnologia da OpenAI e de outras rivais no segmento de IA. O executivo está no conselho desde 2018.
Tasha McCauley
A empresária Tasha McCauley entrou como diretora independente da OpenAI em 2018. Ela também faz parte do conselho britânico da Effective Ventures, outro grupo focado em soluções positivas para o mundo.
Helen Toner
Pesquisadora de segurança em IA da Universidade de Georgetown, EUA, Helen Toner ingressou no conselho em 2021. Ela trabalhou anteriormente no grupo de Open Philanthropy que também busca projetos com impactos positivos para a humanidade.
Repercussões da decisão do conselho
Após o anúncio sobre a demissão de Sam Altman e o subsequente pedido de desligamento de Brockman, a comunidade da área de tecnologia repercutiu a notícia.
O CEO da Microsoft, Satya Nadella , comentou na segunda-feira (20) que deveria ter sido consultado sobre a decisão devido ao alto investimento da Big Tech na companhia. À BBC, o executivo falou que “está claro que alguma coisa precisa mudar na governança” da OpenAI e indicou que terá uma "grande conversa com o conselho".
Ex-CEO do Yahoo , Marissa Mayer também comentou a saída abrupta de Altman em uma série de postagens na rede social X (antigo Twitter ). A executiva se disse entristecida de ver como um “modelo de governança maluco” permitiu a demissão do CEO e falou que os investidores na OpenAI, como a Microsoft, precisam se impor e exigir a correção da estrutura da empresa.
I’m sad too - the crazy governance model allowed this to happen. The fact that Ilya now regrets just shows how broken and underadvised they are/were.
— marissamayer (@marissamayer) November 20, 2023
They call them board deliberations because you are supposed to be deliberate. https://t.co/eOaTG4uixE
Após as últimas repercussões sobre o caso, funcionários da OpenAI ameaçaram deixar a empresa se os diretores não renunciarem , o que pode abrir novos capítulos para essa história nos próximos dias.
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