A África vai se dividir em dois continentes?
Augusto Dala Costa
A África vai se dividir em dois continentes?

Quando terremotos e eventos sísmicos acontecem, somos lembrados de que o chão aos nossos pés não é estático, mas sim se move com a dinâmica das placas tectônicas , levando continentes para lá e para cá enquanto flutuam e se acotovelam no topo de uma esfera de magma e rocha escaldante. Embora nossa percepção não consiga ver esses processos, que levam milhões de anos, as placas tectônicas se chocam e raspam , gerando montanhas e alargando oceanos em câmera-lenta.

O movimento tectônico acontece em uma taxa de alguns centímetros por ano, mais ou menos no tempo em que nossas unhas crescem. Em alguns eventos geológicos, no entanto, os efeitos dessa movimentação ficam mais claros, e um ótimo exemplo é o alargamento da fenda no Vale da Fenda do Quênia, que pode, eventualmente, dividir a África em duas placas tectônicas , separando o continente em massas de Terra diferentes.

A parte mais dramática do fenômeno foi em 2018, quando uma enorme fenda se alargou no solo do sudoeste queniano. Surgindo após uma série de chuvas fortes, a falha tinha vários quilômetros de comprimento e engoliu partes da rodovia Nairóbi-Narok. O local, que fica no Vale da Fenda do Quênia, faz parte da região chamada Rifte do Leste Africano, uma das regiões com maior atividade tectônica no mundo.

-
Feedly: assine nosso feed RSS e não perca nenhum conteúdo do Canaltech em seu agregador de notícias favorito.
-

A África vai se dividir em duas?

A fenda (ou rifte, no termo geológico) do Quênia começou a se formar há cerca de 25 milhões de anos, chegando a 3.500 km desde o Mar Vermelho até Moçambique, no sudeste do continente africano. Atividades sísmicas e vulcânicas ocorrem por toda a sua extensão, sendo responsáveis pela criação de montes como o Kilimanjaro e o Quênia.

Isso fez com que os cientistas, que acreditavam que a África ficava sobre uma única placa tectônica , juntasse evidências da ruptura do continente em duas placas novas, chamadas Placa Núbia e Placa Somali, ao longo do Rifte do Leste Africano. A descoberta ocorreu nos anos 1970.

A causa para o fenômeno, no entanto, ainda é debatida. A teoria mais aceita é que plumas de calor do manto da Terra estão fazendo com que a litosfera, parte sólida da crosta superior, se alargue e cresça em forma de domo abaixo da Etiópia e do Quênia. Como está se afinando, a litosfera acaba gerando erupções vulcânicas chamadas de dilúvio basáltico ou trapp, que expelem lava de fissuras como em inundações aquáticas, fraturando a parte quebradiça da crosta continental e criando “degraus” de rocha.

Com dados de GPS, os cientistas estimam que as placas tectônicas Núbia e Somali estão divergindo a uma taxa de 7 mm por ano, separando o continente aos poucos. No momento, a fenda segue acima do nível do mar, mas, à medida que se alarga, a terra do vale entre as placas acabará afundando.

Com águas oceânicas chegando, todo o Chifre da África poderá ser separado do continente, o que deve acontecer apenas em algumas dezenas de milhões de anos. O Mar Vermelho e o Golfo de Aden são exemplos de fendas como essa, mas em estados mais avançados de separação.

A fenda que surgiu em 2018, segundo geólogos, seria uma falha já existente que passou batida por medições por estar preenchida com cinzas vulcânicas de erupções de um passado distante. Sua exposição foi graças às chuvas torrenciais, que fizeram as camadas mais profundas colapsarem com o peso da água, e, embora assustador, o evento não é sinal de que os continentes estão se dividindo mais rápido.

Leia a matéria no Canaltech .

Trending no Canaltech:

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!