Anderson Spider Silva | Diretor conta como escolheu as lutas para a série
Diandra Guedes
Anderson Spider Silva | Diretor conta como escolheu as lutas para a série

A história de Anderson Silva ganhou uma adaptação para o audiovisual pelas mãos da Paramount+. Com cinco episódios no total, a minissérie chamada Anderson Spider Silva foi dirigida por Caito Ortiz ( O Roubo da Taça ) e chegou ao streaming no dia 16 de novembro, contando como o jovem menino preto nascido em São Paulo se tornou um dos principais campeões mundiais peso-médio do UFC.

Em entrevista ao Canaltech , Ortiz contou detalhes do seu processo de criação e de como escolheu as lutas que entrariam na série. De acordo com ele, foram selecionados cinco confrontos principais que representam bem a carreira de Anderson, sendo que uma delas acontece no Japão em um momento crucial que definiria a sua vida.

"A gente nunca aborda as lutas pelas lutas, elas estão lá em espaços condensados bem importantes para dizer o que está acontecendo na vida desse homem nesse momento. Por exemplo, o capítulo 3, que é o do Japão, é o momento de vai ou racha, que muda a história dele.”

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Caito também comentou sobre o seu olhar para as lutas e sobre como ele não queria apenas retratar o confronto de forma simples, já que praticamente todos estão disponíveis na íntegra no YouTube.

“Trabalhamos muito sério para reproduzi-las (as lutas) da forma mais verossímil possível, e na dramaturgia o interessante pra mim era filmar as sensações por trás delas, a emoção do Anderson. Por exemplo, ele contou para gente como foi levar aquele primeiro soco do Chael Sonnen (no primeiro episódio), e descreveu 'quando eu abri o olho eu vi 4 Sonnen em cima de mim' e foi isso que colocamos na série.

É esse tipo de coisa que é legal de filmar, porque uma câmera que filma apenas a luta não pega isso. Não pega os sentimentos. Outro desafio foi reproduzir a luta em que ele tem a fatídica fratura na perna. Então, como filmar algo que é horroroso e todo mundo viu? Tinha um desafio de passar a sensação de quebrar uma perna, e aí filmamos de maneira diferente, tinha o jogo de cor, movimento de câmera.”

Quem assistir à série, verá que realmente as emoções do Spider estão todas em cena, mérito do diretor e do próprio Anderson, que participou como produtor executivo, e ajudou na escolha dos três atores que o interpretam, sendo um na infância, outro na adolescência e outro na fase adulta.

“O mais difícil foi achar o Willian Nascimento (que dá vida ao protagonista na fase adulta). O ator tinha que imprimir o Anderson Silva. Ele tinha que parecer atleta, você tem que olhar e ver que ele é lutador de MMA. Eu só mostrei ele para a Paramount. Não teve escolha, era ele.”

Vale lembrar que a série não é totalmente linear e mescla a vida presente de Anderson Silva com suas lembranças do passado. Para dar vida às outras duas versões do lutador, foram escalados Bruno Vinicius e Caetano Vieira. Além deles, completam o elenco Tatiana Tiburcio, Larissa Nunes, Jeniffer Dias, Dudu Azevedo, Douglas Silva, Seu Jorge e Milhem Cortaz como um de seus treinadores.

E por falar em neles, Caito também contou como tomou a decisão de condensar os vários treinadores que Anderson teve em apenas dois.

“O desafio da dramaturgia é condensar uma quantidade enorme de eventos em um ou dois específicos. Um grande exemplo é que ele teve muitos treinadores e não dava para contar todos, mas a gente conta dois que são uma amálgama dos vários que ele teve.”

Família preta em cena

Outra escolha da série do Paramount+ foi dar destaque para a família do protagonista, que é formada basicamente por pessoas negras. De acordo com o diretor, o foco era mostrar uma família feliz e unida, que serviu de base para a construção da personalidade do atleta.

É claro que algumas situações de racismo também são retratadas, e mostram como o preconceito racial sempre esteve presente na vida daquelas pessoas. Para isso, a série contou com a diretora de diversidade e inclusão Deborah Medeiros e sua assistente, Delza Santos.

Já quando questionado sobre o assunto, Caito Ortiz reforçou que vê com bons olhos a preocupação do audiovisual em trazer pessoas pretas para o centro das produções. Em 2023, várias obras contaram a história de pretos ou pardos. Um exemplo disso é a também biografia Mussum: O Filmis , estrelada por Ailton Graça, e o especial da Rede Globo, Falas Negras, Histórias Impossíveis , que comemorou o Dia da Consciência Negra.

Mas Caito reforçou que essa mudança tem que acontecer também nos bastidores.

“Eu acho que para a gente ter uma mudança concreta, ela tem que acontecer não só na frente das câmeras, como atrás também. E os chefes de equipe? Homens e mulheres pretos, cadê eles?”

Já na frente das câmeras, o diretor optou por criar uma casa grande e uma mesa farta para os Silva, a fim de reforçar essa imagem de família negra feliz.

“Fizemos uma casa grande, potente, com força visual. Mesa cheia, farta... Por que não? Uma parte foi filmada na locação e o restante em estúdio e nós, eu e o diretor de arte, tínhamos conversas constantes sobre isso. 'Será que não tá muito grande?' E eu sempre pensava assim: 'e se tiver, qual problema?'

E acho que isso traz uma imagem forte, logo que você vê aquela mesa [...], é uma imagem gostosa de se ver. Ela tem uma força e, infelizmente, isso acontece porque ela é pouco vista. Você já viu aquela imagem mil vezes com uma família italiana, mas não com pessoas negras.”

Um Anderson Silva para quem não gosta de MMA

Mesmo quem não gosta de MMA não deve se decepcionar com a série do Spider. É o que garante o próprio diretor que afirma que a trama vai muito além das lutas.

De fato, ao longo dos capítulos o público irá conhecer outras facetas de Anderson, como o lado "pai" que luta para salvar a vida do filho e o lado "marido" que tenta equilibrar as contas para não deixar faltar comida em casa.

Vale comentar que até o momento dessa reportagem, a série tinha cravado nota 6,7 no IMDb, sendo que o segundo e o terceiro episódios tiveram a maior média (8,5). Lembrando que quem quiser dar uma chance à série já encontra os cinco episódios disponíveis no Paramount+.

Leia a matéria no Canaltech .

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