Por que os balões de pensamento sumiram das HQs de heróis?
Claudio Yuge
Por que os balões de pensamento sumiram das HQs de heróis?

Se você tem até 30 anos de idade, e, mesmo lendo quadrinhos já há algum tempo, ainda não sabe o que são “bolhas” ou “balões” de pensamento, não se sinta desinformado. Isso porque esses recursos narrativos, que costumavam detalhar os planos ou as intenções e reflexões dos personagens, simplesmente desapareceram no começo dos anos 1990. Atualmente, há apenas vestígios de que existiram um dia.

Mas o que aconteceu com os balões de pensamento? Por que e quando eles sumiram? Ainda são usados? Qual era a verdadeira função deles? Vem comigo que o Canaltech te explica certinho. Como toda história tem um começo, vamos voltar um pouco para a época em que surgiram.

Pensando graficamente

Bem, projetar graficamente o que passa pela mente das pessoas em alguma superfície é algo que a humanidade tenta fazer há tempos, desde os desenhos rupestres em cavernas até sequências em hieróglifos, paredes de pirâmides, tapetes de tecido, vitrais, entre outros. Não há um consenso sobre a real origem dos balões de pensamento, mas algumas pesquisas apontam recursos semelhantes antes do século XX.

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No século XV, um recurso narrativo parecido com balões de pensamento se tornou mais recorrente, na forma da “faixa de fala”, que se parecia com uma tapeçaria de palavras. Já no século XVIII, quando os cartoons editoriais se tornaram mais populares, as publicações descartáveis de baixo custo começaram também a usar algo semelhante, de forma didática. Era como se o autor estivesse resumindo para os leitores o que estava acontecendo e o que viria na sequência.

Curiosamente, depois de grande ascensão em todo o século XVIII, esses “balões de pensamento” desapareceram pela primeira vez porque alguns artistas famosos, como William Hogarth, consideravam um recurso muito pobre e infantil — “além de desenhar e escrever os diálogos para detalhar as cenas, ainda tenho que explicar tudo o que todo mundo já está vendo?”

Esse recurso narrativo só voltou a dar as caras com a arte sequencial de Yellow Kid , de Richard F. Outcault, em 1894, no que é considerado por muitos pesquisadores como a primeira história em quadrinhos com os elementos básicos que definem o gênero. O personagem usava o espaço de sua camiseta para expor seus pensamentos.

Já o artista Rudolph Dirks foi quem manuseou a forma do espaço que abrigava os pensamentos na forma de balões, em quadrinhos publicados de 1897 a 1909. A partir daí, o próprio Outcalt começou a usar estruturas semelhantes, assim Winsor McCay, nas aventuras oníricas de Little Nemo .

E, a partir dos anos 1930, quando Jerry Siegel e Joe Shuster passaram a usar nas aventuras do Superman os balões de fala oficialmente como conhecemos hoje, essas estruturas foram se moldando de diversas maneiras, até chegar ao recurso de “fala” compartilhada somente com o leitor — os balões de pensamento.

Os balões de pensamento passaram a fazer parte constante das histórias, principalmente entre os anos 1960 e 1990, especialmente quando os autores precisavam explicar alguma ação ou conceito complexo — vale lembrar que, depois dos anos 1970 as tramas agregaram muita ficção científica e os personagens começaram a ficar cada vez mais complexos, assim como os eventos.

O sumiço dos balões de pensamento

O declínio dos balões de pensamento aconteceu, principalmente, por conta de mudanças estéticas e estruturais que os artistas mais jovens passaram a aplicar nos anos 1990. Tanto a Marvel quanto a DC começaram a valorizar cada vez mais o visual e a ação, e, em vez de dizer o que iriam fazer, os personagens passaram a executar rapidamente, sem “avisar”.

Os artistas passaram a usar técnicas mais parecidas com as do cinema, em narrativas mais imersivas — os balões de pensamento seriam uma quebra no fluxo e na ambientação. A partir daí, em vez de colocar as reflexões em um balão, os autores passaram a usar perspectiva em primeira pessoa, mais diálogos e recursos visuais.

Além disso, os balões de pensamento passaram a ser vistos como algo datado que polui visualmente a arte, que passou a ficar cada vez mais detalhada e rebuscada. Eles ainda existiam, mas eram pouco usados; e foram transformados em uma diferente estrutura gráfica.

Os balões de pensamento agora estão contidos em caixas, frequentemente usadas como uma forma de um personagem recontar a história ou definir a premissa. Vez ou outra ainda vemos sua estrutura clássica, principalmente em trabalhos independentes e em quadrinhos como Savage Dragon , de Erik Larsen; Usagi Yojimbo , de Stan Sakai; e até mesmo em algumas publicações mais populares que os utilizam para valorizar o humor, a exemplo de The Amazing Spider-Man .

Mas, no geral, os balões de pensamento, daquela forma como estávamos acostumados a ver entre os anos 1960 e 1990, são raramente encontrados nos quadrinhos de super-heróis.

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