Crítica Ponto Final | Para tudo porque eu quero descer
André Mello
Crítica Ponto Final | Para tudo porque eu quero descer

Existe um tipo de humor nacional que divide muito opiniões por fazer piadas que só funcionam para o seus fãs, apostando em personagens do subúrbio carioca, com muita gritaria. Essas produções pintam uma figura desse corte da população que talvez não seja o mais lisonjeiro por ser muito sem graça e mostrar todo mundo como escandaloso.

Essas comédias continuam sendo bastante populares, pegando boa parte da grade da programação de canais como Multishow. Agora, uma série que é basicamente a mesma coisa respinga na Netflix. Ponto Final é estrelada por Rodrigo Sant'Anna ( Tô de Graça ) e produzida pela produtora Os Suburbanos. Essas informações já devem ser suficientes para saber se você vai gostar ou não da nova aposta do humor nacional na Netflix.

Tá certa a indignação!

Ponto Final é uma série de com sete episódios que gira em torno de Ivan, um motorista de van clandestina. A piada ruim já começa com o nome do personagem, mas ela piora. O seriado se passa basicamente no ponto final de uma linha de ônibus em que a ex-mulher de Ivan trabalha como motorista.

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Tudo é gravado em um grande cenário, que provavelmente é a melhor coisa da série, na frente de uma plateia. Isso poderia indicar uma boa participação do público, mas todas as piadas são pontuadas por faixas de risadas gravadas. É tudo extremamente artifícial, mas a ideia de ser uma comédia em torno de um motorista de van poderia render boas piadas, vide o que a TV Quase consegue fazer com o Choque de Cultura .

O problema de Ponto Final é que essa ideia da van clandestina poderia ser mudada para qualquer tipo de trambique que o resultado seria o mesmo. Eu tinha várias tiradinhas comparando as duas produções para usar aqui, mas salvo algumas que usarei por pura teimosia, não fazem sentido porque a van parece ter sido usada só pelo trocadilho com o nome do personagem.

As piadas são fraquíssimas, as atuações são de um estilo de interpretação que há muito tempo já parece forçado, as histórias em si não funcionam. É realmente impressionante o quão ruim essa série consegue ser, chegando ao ponto de parecer que foi de propósito.

Até mesmo momentos que poderiam parecer mais engraçados, que são os erros de gravação, são ruins. Usando o mesmo estilo de humor, é possível encontrar cenas de seriados como Vai que Cola , com Paulo Gustavo, que os atores se perdiam no meio de uma piada e usavam isso para tornar a situação mais engraçada.

Não é o meu tipo de humor favorito, mas é possível ver que era um momento divertido. Se você pensar mais para trás, Sai de Baixo tinha o mesmo esquema de incorporar esse improviso no desespero tendo ótimos resultados. Ponto Final tem erros incorporados nas cenas, mas tudo parece amador.

Mais de uma vez um ator esquece uma fala e, em vez de parecer algo engraçado, tudo deixa uma sensação de "erro ensaiado".

Romance para unir tudo

Certo dia, um grande pensador moderno chamado Renan, motorista de uma Towner azul bebê, disse que a verdade é que acaba com todos os relacionamentos, e a mentira que mantém o casal junto.

Ponto Final aborda isso com o relacionamento de Ivan e sua ex-mulher Sandra, interpretada por Roberta Rodrigues ( Cidade de Deus ). Toda vez que Ivan fala a verdade sobre algum trambique que fez, é rechaçado pela sua esposa. Quando mente, ela cai na sua lábia, até descobrir tudo e romper novamente o relacionamento.

Isso é base da temporada. Apesar de ter sete episódios de 23 minutos, a série parece bastante longa pois fica repetindo a mesma fórmula em todos os capítulos. Ivan começa dirigindo sua van, faz uma piada sem graça. Ivan chega com a van no ponto final, encontra o resto do elenco. Algum drama relacionado ao dinheiro ou problemas suburbanos vira piada (sem graça). Sandra fica brava com o ex-marido e briga com ele. O episódio acaba com algo que tenta ser engraçadinho, mas que é cortado antes de conseguir.

Em todos os sete episódios, as únicas coisas que parecem evoluir um pouco são esse vai e vem do casamento de Ivan e Sandra e um relacionamento do filho do casal com uma menina que nunca aparece. Em ambos, as palavras do pai de Renanzinho ecoam bastante pois é sempre "mentiu, deu certo. Falou a verdade, tudo pode se perder".

É um esforço narrativo que fica cansativo demais, por mais que a série seja relativamente curta. As piadas que já eram fracas, parecem que vão piorando conforme os episódios se desenvolvem por querer ficar nesse vai e vem entre os personagens. É algo realmente impressionante, até mesmo porque não é como se todos os envolvidos não conseguissem ser engraçados.

Como disse anteriormente, esse tipo de humor não é o meu favorito, mas se algo é realmente engraçado, é possível admitir isso. Em toda a temporada, Ponto Final conseguiu me fazer esboçar um sorriso apenas duas vezes. Por incrível que pareça essas duas vezes foram em momentos em que Rodrigo Sant'Anna falava como uma pessoa normal, e não como um personagem.

Apesar de ambas claramente não serem improvisos do comediante, que também escreveu a série, é possível ver que ele consegue fazer rir. O problema é que isso só apareceu duas vezes no seriado.

Vou resumir numa palavra só: BOBO!

Usando a minha última tiradinha de Choque de Cultura , mas que resume bem o meu sentimento ao terminar Ponto Final , é que o seriado é bobo. Eu consigo ver as pessoas que adoram essas séries que passam na TV, que dão gostosas risadas com essas piadas, achando que toda essa reclamação é loucura.

A série foi feita para um público bem específico, e que não é pequeno. Só que analisando friamente, é uma produção fraca, com piadas que não funcionam, atuações ruins e histórias sem pé nem cabeça. E no final, eu só ri mesmo de uma piada sobre FGTS.

Ponto Final está disponível na Netflix.

Leia a matéria no Canaltech .

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