Crítica Griselda | Sofía Vergara arrasa, mas série tropeça no enredo
Diandra Guedes
Crítica Griselda | Sofía Vergara arrasa, mas série tropeça no enredo

Depois de aproveitar o sucesso de Narcos , a Netflix resolveu investir na trama de outro narcotraficante colombiano. Só que dessa vez, trata-se de Griselda Blanco, uma mulher poderosa que ganhou uma série homônima para chamar de sua. Escrita pelos mesmos roteiristas da produção de Pablo Escobar, Griselda tinha tudo para ganhar o público, mas para desgosto dos assinantes tropeçou no próprio enredo.

Com apenas seis episódios, a trama é muito mais resumida do que deveria ser e não dedica tempo suficiente para explorar a infância e juventude da protagonista, o que faz com que o público não consiga se conectar com a personagem ou criar qualquer tipo de empatia sequer.

Quem conhece a verdadeira história da colombiana, sabe que ela teve uma infância desestruturada e começou no mundo crime quando tinha apenas 11 anos, depois de matar um garotinho rico que os pais não quiseram pagar o resgate. Esse lado sofrido, pobre e constrangedor de sua vida, no entanto, fica de fora e a produção já arranca mostrando ela adulta e mãe de três filhos.

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Enquanto tenta vender o tablete de cocaína que trouxe da Colômbia, ela luta para criar alianças com os principais traficantes de Miami, mas vira motivo de piada por ser mulher. Apesar disso, ela não perde sua força e, ao contrário, fica mais determinada para conseguir controlar os cartéis da cidade.

Sem medo de abusar da violência física e psicológica, Griselda vai impondo sua marca e logo se transforma em La Madrina (A Madrinha, em português), uma das mulheres mais poderosas e ricas da região. Mas nem sua fama de implacável, faz com que ela tenha paz. Além de rebolar para proteger os filhos, ela ainda tem que lidar com a misoginia do mundo do crime — que é até mais perversa do que a do mundo real.

Esse arco é o grande acerto do enredo e o que o diferencia a série das demais. Retratar a misoginia e o machismo à exaustão, foi a chave que os roteiristas encontraram para humanizar uma das criminosas mais violentas da década 1980.

Além dela, quem também sofre com a desconfiança masculina é June, a analista de inteligência da polícia local que apesar de praticamente desenhar para os colegas homens quem era Griselda Blanco e quais as suas táticas, foi descredibilizada desde o início.

Acontece que só isso não é suficiente para prender o espectador em frente a tela, e embora a produção tenha bons diálogos ela é pobre em enredo. A impressão que fica é que Griselda já começou na metade e perdeu fôlego rápido demais. O jogo de gato e rato com a polícia é simples e a relação de La Madrina com os demais traficantes também poderia ter sido mais bem trabalhada.

Por outro lado, há cenas excelentes, como quando Griselda, após fumar um cachimbo de crack, perde a noção e começa a desconfiar de todos à sua volta, tomando atitudes estúpidas como ordenar que dois convidados tirem a roupa e transem enquanto outro, nu, late como um cachorro.

Sofia Vergara mostra que também sabe fazer drama

Tudo se torna ainda melhor com a atuação primorosa de Sofía Vergara. A atriz já tinha demonstrado seu talento na comédia, em séries como Modern Family e provou que também sabe fazer um bom drama.

Sem exagerar e trazendo a dose de latinidade necessária, ela — que também é colombiana — consegue imprimir a força e a vulnerabilidade de Griselda ao mesmo tempo. É certamente a grande estrela da obra.

O restante do elenco também não faz feio, embora nenhuma atuação se destaque a ponto de ser inesquecível. No fundo, a série é produzida por Vergara, estrelada por ela e feita sob medida para que ela brilhe.

Tem de tudo, mas falta emoção

De tiro a explosões de bombas, gente cheirando cocaína ou usando crack, agressão física e morte de inocentes, Griselda tem de tudo para os fãs do true crime aproveitarem, mas escorrega na maneira de contar a história. Por não se aprofundar em aspectos emocionais, a série fica rasa e dificulta a conexão com o público.

Veja bem, nem a infância da colombiana é retratada e nem a relação íntima dela com os filhos. O discurso vende que ela é uma imigrante que fez das tripas coração para que os quatro filhos vivessem bem, mas esse carinho e amor é pouco aproveitado na trama. Tudo isso, permite que a série se torne esquecível e seja mais uma na prateleira das várias obras de crime da Netflix.

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