Crítica O Astronauta | Adam Sandler faz viagem chata pelos próprios sentimentos
Diandra Guedes
Crítica O Astronauta | Adam Sandler faz viagem chata pelos próprios sentimentos

Depois de protagonizar várias comédias pastelão, Adam Sandler tem diversificado sua carreira e investido nos dramas. Além do elogiado Joias Brutas (2019), ele estrelou o agradável Arremessando Alto (2022), um drama no qual dá vida a um instrutor de basquete falido que não mede esforços para transformar um jogador sem prestígio em uma verdadeira estrela do esporte. Agora, em 2024, ele encara o papel de Jakub em O Astronauta , filme adaptado do livro Spaceman of Bohemia e que chega à Netflix no dia 1º de março.

Mas o que deveria ser uma boa notícia logo se transforma em um verdadeiro balde de água fria assim que damos o play no longa. Monótono, triste e apático, ele não convence e tem um roteiro morno e sem carisma. Na trama, Jakub é um cosmonauta tcheco que está isolado em uma nave espacial há 189 dias. Sua missão é explorar uma poeira cósmica roxa que intriga os cientistas, só que, atormentado pela solidão, ele só consegue pensar nas coisas que deixou para trás.

É a partir dessa angústia que surge Hanus, uma aranha extraterrestre dublada por Paul Dano que tem mais olhos do que deveria e é muito mais estranha do qualquer aracnídeo do nosso planeta. Ela aparece como uma espécie de consciência extracorpórea do protagonista e tem a função de fazê-lo refletir sobre como o seu egocentrismo afetou a todos que estiveram à sua volta. Uma espécie de Grilo Falante um pouco mais grotesco. O problema é que toda essa viagem para o interior do personagem carece de mais elementos atrativos do que o filme entrega.

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Veja bem, séries como Sessão de Terapia , do GNT, já provaram que mesmo com ritmo lento, obras que se debruçam sobre os incômodos do ser humano podem ser muito bem trabalhadas e conquistar o público. Porém, para que isso dê certo, é necessário criar empatia com o personagem para se envolver minimamente com a história. E é justamente aqui que o filme tropeça. Sem promover a conexão do espectador com o Jakub, o protagonista é só mais um chato refletindo sobre seus erros de ser humano medíocre.

Quem brilha mais em cena é Lenka (Carey Mulligan), a esposa grávida abandonada que, farta de se anular para apoiar o marido, decide dar um fim na relação. Mesmo aparecendo pouco e tendo quase nenhuma interação com Jakub, ela consegue intensificar a carga dramática e recuperar a atenção do espectador durante alguns momentos. Já os outros coadjuvantes não têm relevância suficiente nem para serem mencionados.

O velho e o mar, o homem e a aranha

Ainda falando em elenco, Sandler — que já se mostrou um ótimo ator de comédia, ainda que receba críticas mistas — não faz feio no drama, e já provou por A+B que consegue interpretar diferentes tipos de emoções em cena, mas dessa vez o roteiro não lhe ajudou e pôs tudo a perder. Com Paul Dano, a situação foi diferente, já que o texto até teve algumas piadas sarcásticas, mas seu tom de voz metódico e inalterável foi a coisa mais chata já vista. É claro que mesmo sendo uma aranha alienígena, Hanus poderia demonstrar mais emoções por meio da voz.

A sensação que o filme traz é a mesma de ler O Velho e O Mar , livro de Ernest Hemingway, no qual um pescador passa dias ilhado conversando com um peixe. E embora ambas as histórias tenham potencial para serem incríveis e usarem a solidão de seus protagonistas para mergulhar no âmgo do indivíduo, o filme da Netflix trabalha mal essa questão a ponto de se tornar insuportável.

Outro ponto negativo é que os buracos da relação entre Jakub e Lenka não são preenchidos, e cabe ao público intuir desde quando o roamnce dos dois começou a ruim. O argumento desse dilema é até bom: ela é mais uma mulher que abre mão dos seus sonhos para o homem conseguir viver os deles. Dando indícios de que terá uma pegada feminista, a trama parece melhorar, mas logo volta a ficar morna novamente e sem levar a lugar algum. O final é seco, mas combina com o enredo.

O capricho da Netflix nos efeitos especiais

Como nem tudo é 100% bom ou 100% ruim, O Astronauta também acerta em alguns pontos, o principal deles são os efeitos especiais. Muito bem trabalhados, eles fazem o público esquecer que toda aquela história seria impossível de acontecer no espaço sideral. O que mais impressiona são os tons de roxo e rosa usados para fazer a poeira cósmica. Outro excelente momento é quando Jakub abraça Hanus.

A construção do foguete espacial também joga a favor do filme. Ele é claustrofóbico o suficiente para fazer o público entender porque o astronauta se sente tão mal e sozinho naquele cubículo. Pintado com tons pastéis tristes e equipado com tecnologia antiga, o espaço remete a foguete europeu dos anos 1970.

Um Chernobyl das galáxias

Infelizmente, mesmo com alguns acertos, O Astronauta do diretor Johan Renck (o mesmo da série Chernobyl ) não consegue voar alto. O filme até tem a intenção de ser inovador e focar mais nas mazelas humanas do que na exploração espacial, mas é mal executado e sai de órbita rapidamente. Não vale o tempo gasto, mas se você quiser dar uma chance, já pode dar o play na Netflix.

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