Brasil já ganhou um Oscar, mas ele foi para outro país
Felipe Demartini
Brasil já ganhou um Oscar, mas ele foi para outro país

Quando se fala do Brasil no Oscar, a gente imediatamente lembra da indicação de Central do Brasil em 1999 — com direito a Fernanda Montenegro ( O Auto da Compadecida ) como Melhor Atriz — ou de Bacurau ficando de fora da seleção nacional em 2021. A história que não é muito contada por aí, entretanto, é sobre Orfeu Negro e uma estatueta que efetivamente foi vencida por nosso país, mas nunca chegou às nossas mãos.

O longa de 1960, também conhecido como Orfeu do Carnaval , foi gravado no Rio de Janeiro (RJ) e tem Breno Mello ( Os Vencidos ) e Marpessa Dawn ( Sweet Movie ) nos papéis principais. A base da obra, aliás, é a peça Orfeu da Conceição , de Vinícius de Moraes, enquanto todo o restante do elenco e equipe de produção são brasileiros, com direito a participações do sambista Cartola e de Tião Macalé, em seu primeiro papel no cinema.

Orfeu Negro concorreu como Melhor Filme Internacional na 32ª cerimônia do Oscar, em 1960 — na época, a categoria era chamada “Melhor Filme Estrangeiro”. Apesar de completamente brasileiro e de ser o primeiro longa de língua portuguesa a levar o prêmio da Academia para casa, ele concorreu pela França, por conta da nacionalidade de seu diretor, Marcel Camus ( Othalia de Bahia ).

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Filme francês gravado no Brasil?

Orfeu Negro é uma história tradicionalmente brasileira, ainda que tenha sido inspirada na saga de Orfeu e Eurídice, da mitologia grega. Esse enredo é adaptado em uma favela do Rio de Janeiro em pleno Carnaval, quando Eurídice (Dawn) foge do sertão nordestino e encontra Orfeu (Mello). A paixão entre os dois entra no caminho da noiva dele, Mira (Lourdes de Oliveira) e, também, de um homem misterioso e fantasiado que persegue a protagonista desde que ela deixou sua terra-natal.

Orfeu é sambista e condutor de bonde, enquanto Eurídice representa a história de muitos imigrantes do nordeste do país, que vão à região sudeste em busca de melhores oportunidades. Com trilha sonora repleta de samba e bossa nova, mas críticas sobre a representação estereotipada do Brasil da época , Orfeu Negro se tornaria um clássico do cinema nacional e, como o Oscar demonstrou, também faria história no cenário internacional.

Na época, de acordo com as regras da Academia, os concorrentes a Melhor Filme Estrangeiro eram inscritos na competição de acordo com a nacionalidade de seus realizadores — Camus era francês, assim como a produtora Dispat Films. Por isso, o longa foi inscrito como uma produção franco-brasileira não somente no Oscar, mas também no Festival de Cannes e Globo de Ouro, onde também foi vitorioso entre 1959 e 1960.

Assim, todas as estatuetas acabaram sendo creditadas na conta da França e o Brasil segue, até hoje, sem jamais ter vencido um Oscar — ou seja, mais uma vez os europeus levaram nosso ouro embora. Além de Central do Brasil , outros três filmes já concorreram como Melhor Filme Internacional: O Pagador de Promessas , de 1963, O Quatrilho , de 1996, e O Que é Isso, Companheiro? , lançado em 1998.

Tais normas, aliás, seguem até hoje, assim como as controversas relacionadas a que país pertence cada filme. O exemplo mais recente é A Sociedade da Neve , de 2024, com elenco predominantemente argentino e uruguaio para contar a história do Milagre dos Andes , mas dirigido pelo espanhol J.A. Bayona. Na cerimônia, ele concorre pela Espanha.

Filmes brasileiros (ou não) que concorreram ao Oscar

Cidade de Deus é o filme nacional com maior número de nominações ao Oscar, tendo concorrido em 2004 aos prêmios de Melhor Diretor, Roteiro Adaptado, Edição e Fotografia. Ainda, vale lembrar as indicações de O Menino e o Mundo a filme de animação, Uma História de Futebol , na categoria de curta-metragem, e Democracia em Vertigem , a mais recente participação brasileira no Oscar, na categoria de documentário.

Situações similares à de Orfeu Negro também já ocorreram ao longo da história. O Beijo da Mulher-Aranha , por exemplo, recebeu quatro indicações, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, mas não foi considerado um longa nacional já que seu diretor, Héctor Babenco, é argentino, naturalizado em nosso país. Em 1993, a brasileira Luciana Arrighi subiu ao palco do Oscar para receber o prêmio de Melhor Direção de Arte pelo filme Retorno a Howard’s End , uma produção inglesa.

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