Os cientistas sempre viram o cérebro como um órgão muito frágil e vulnerável, mas esse é um conceito que está prestes a ser reavaliado, graças a um artigo publicado na revista Proceedings of the Royal Society na última quarta-feira (20). O manuscrito mostra que embora os registros sejam raros, existem cérebros preservados por milhares de anos.
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O cérebro é tão mole que pode desmoronar , e justamente por causa disso ficou estabelecida a ideia de que é um dos primeiros órgãos humanos a se decompor após a morte. Então a descoberta de cérebros preservados no registo arqueológico é bem rara.
O arquivo produzido por paleontólogos de Oxford resgatou o registro de mais de 4,4 mil cérebros humanos preservados ao longo de aproximadamente 12 mil anos. Desses, mais de 1,3 mil representam o único tecido mole preservado entre restos esqueletizados.
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"Descobrimos que cérebros deste tipo persistem em escalas de tempo superiores às preservadas por outros meios, o que sugere que um mecanismo desconhecido pode ser responsável pela preservação específica do sistema nervoso central. O arquivo inexplorado de cérebros antigos preservados representa uma oportunidade para estudos bioarqueológicos da evolução humana, saúde e doenças", apresenta o artigo.
Preservação do cérebro
Os paleontólogos identificaram cinco tipos de preservação do cérebro:
- Saponificação — reação química na qual um ácido graxo (como óleo ou gordura) reage com uma base forte (como hidróxido de sódio ou potássio) para produzir sabão e glicerol;
- Curtimento — tratamento com substâncias químicas conhecidas como taninos, que transformam os tecidos em uma forma mais estável, tornando-os menos suscetíveis à decomposição;
- Congelamento — redução da temperatura do órgão para um nível em que os processos de decomposição são interrompidos;
- Desidratação — remoção da água do tecido;
- Mecanismo desconhecido — o último método é descrito pelo estudo como "desconhecido", em que o único tecido mole é preservado entre restos esqueletizados, o que sugere um mecanismo de preservação específico do sistema nervoso central.
Mas os autores relembram que "pode haver sobreposição entre os mecanismos de preservação, dada a complexidade da decomposição como um sistema de processos bioquímicos inter-relacionados”.
Preservação ao longo das eras
De acordo com o novo relatório, embora haja uma tendência geral de diminuição da frequência de cérebros preservados com o aumento da idade arqueológica , diferenças na taxa de perda sugerem diferenças na persistência dos tipos de preservação.
O grupo de Oxford reflete que todos os mecanismos de preservação cerebral identificados envolvem perda de água do tecido, exceto a saponificação, que envolve o seu consumo, e que o declínio acentuado no número de cérebros congelados em comparação com a diminuição constante no número de cérebros desidratados pode sugerir que a remoção de água é mais estável do que sua imobilização.
A conclusão do artigo se volta para a necessidade de considerar a composição bioquímica distinta de órgãos individuais e tipos de tecidos, que podem ditar seu potencial. Pensamos que o cérebro se desfaz com muita facilidade, mas os registros direcionam os olhares para outras possibilidades.
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