Árvores indicam que 2023 foi o ano mais quente em 2000 anos
Augusto Dala Costa
Árvores indicam que 2023 foi o ano mais quente em 2000 anos

O verão de 2023 foi anormalmente quente — em ambos os hemisférios, mas particularmente recordista no hemisfério norte —, fruto de uma combinação entre aquecimento global e El Niño . Tamanha foi a média de temperatura e as ondas de calor que cientistas especularam termos visto o mais quente dos verões dos últimos 100.000 anos.

Previsões à parte, não há como sabermos exatamente o quão quente foram anos tão antigos, mas é possível, sim, avaliar os milênios mais recentes. Ulf Büntgen, cientista ambiental da Universidade de Cambridge, juntou uma equipe para estudar justamente esse período, iniciando-se no início da era comum — a primeira década depois de Cristo.

Foram investigados anéis de crescimento de árvores, isótopos presos em bolhas de ar dentro do gelo e calcário de cavernas para descobrir que o verão de 2023 foi o mais quente desde a época de Jesus, indicando que o aquecimento global 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais — que signatários do Acordo de Paris prometeram evitar com a diminuição da emissão de gases — pode já ter ficado para trás.

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Crescimento de árvores e verões quentes

Como o crescimento de árvores pode ajudar a entender o calor do passado? Bem, a condição de crescimento das árvores é refletida no diâmetro de seus anéis de crescimento, como visto quando são derrubadas. Em regiões temperadas e sub-polares, a água não é um fator que limita o crescimento, então os anéis nos dizem quão quente foram o verão e a primavera .

O crescimento de árvores isoladas pode, sim, ser afetado por fatores locais, mas amostras grandes o suficiente ajudam a estimar a temperatura com uma precisão suficiente, comparando com dados que já temos sobre o clima. No hemisfério sul, dados desse tipo são escassos, e, nos trópicos, há muitos fatores além da temperatura, dificultando a avaliação.

A equipe, então, limitou a pesquisa à região entre 30º ao norte e o pólo norte do planeta. O verão de 2023 foi comparada com os últimos 2.000 anos, bem como com o verão mais frio que conhecemos — o do ano 536 d.C., quando houve um “inverno vulcânico” —, descobrindo que a época de crescimento das árvores foi 3,93 ºC mais fria em 536 em relação ao ano passado.

No hemisfério norte, o verão mais quente de todos os tempos havia sido em 246 d.C., antes de ser desbancado por 2023, que foi 1,19 ºC mais quente, em média. Mesmo levando em conta margens de erro para anos extremos como esse, 2023 ainda vence.

Além de verificar os extremos, os pesquisadores dizem ter descoberto, através da comparação de dados com o crescimento das árvores, que superestimamos temperaturas do final do séc. XIX por algumas dezenas de graus. Isso torna 2023 mais quente que a média entre 1850 e 1900.

Estaríamos, então, a 2,2 ºC acima da média pós-1850, ultrapassando as temperaturas do Acordo de Paris. A conclusão dos cientistas? Urge diminuir as emissões de gases do efeito estufa, antes que seja tarde demais.

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