Crítica Back To Black | Biografia é a antítese da força do jazz de Amy
Diandra Guedes
Crítica Back To Black | Biografia é a antítese da força do jazz de Amy

Louca, depravada, puta e bêbada! Esses são alguns dos vários adjetivos que a imprensa e o público usou para descrever Amy Winehouse, uma das vozes mais potentes do jazz e do R&B britânico. A moça, nascida em Londres, teve sua vida recontada na cinebiografia Back To Black , dirigida por Sam Taylor-Johnson, a mesma de Cinquenta Tons de Cinza . Só que Johnson pintou uma fábula da vida de Amy mostrando seus problemas com álcool e falta de amor próprio, mas deixando muita coisa para trás.

A principal delas é a relação com a família. Assumidamente filhinha do papai — como sua tatuagem daddy’s girl prova —, Amy tinha uma admiração imensa por Mitchell Winehouse (Eddie Marsan), mas cresceu vendo-o trair a mãe inúmeras vezes, o que a perturbou emocionalmente. A relação com a mãe, Janis, por sua vez, quase não aparece no filme, como se esta não tivesse relevância nenhuma na vida da filha.

Aliás, essa parte da infância e da adolescência, incluindo o transtorno de bulimia desenvolvido aos 15 anos, é deixada de lado para que a obra foque na relação da estrela com o problemático Blake (Jack O'Connell), seu marido.

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No núcleo familiar só quem realmente ganha relevância é Cynthia, sua “nan”, mãe do seu pai e sua grande inspiração de vida e de estilo. Ela serve para dar um pouco mais de contexto ao público e mostrar a relação de Amy com sua fé judaica. Mas quando Blake, o bad boy, aparece, tudo passa a ser sobre a relação dos dois.

De todos os vícios que a cantora britânica teve, nenhum foi pior do que se tornar adicta a um homem sem caráter e cafajeste. Se, na vida pessoal, Amy se destruía e se curvava para um amor vadio, isso também fez com que compusesse as melhores músicas de fossa já ouvidas e que, somadas à sua voz grave de quem fuma dois maços de cigarro por dia, embalaram o Reino Unido e a América.

Acertando no tom

O tom melancólico da obra combina com o clima chuvoso que Londres proporciona, e os cenários não poderiam ter sido mais bem escolhidos: pubs escuros e esfumaçados. A caracterização também é fundamental para transformar a jovem sonhadora em uma deprimida compulsiva. E, por fim, outra boa escolha é a forma como a trama conta como as tatuagens de Amy foram surgindo em seu corpo, sem precisar explicar o óbvio.

Mas os acertos param por aí, e se não fosse a boa atuação de Marisa Abela como a protagonista, o resultado seria ainda pior. Figurante em Barbie , ela supera a falta de semelhança física interpretando com maestria as caras e bocas da cantora, e entrega o que pode mesmo sofrendo com um roteiro mixuruca.

Há diálogos vergonhosos, e um deles acontece quando o pai lhe pergunta “você usa drogas?”, ao que Amy responde “sim!”, e pronto, um corte seco leva o público para outra cena qualquer.

A montagem também sofre com a linha temporal que não consegue lidar com o passar dos anos. Em um momento, Amy está cantando em um pub regional, em outro é assediada por paparazzis. Fica difícil entender como ela se tornou tão famosa. Aliás toda sua força enquanto mulher e todo seu “girl power” é esvaziado na tela. Ela diz que não é nenhuma Spice Girl, mas em Back To Black não passa de uma mulher mal amada por si mesma.

Um filme para dizer "no, no, no"!

Como se já não bastasse todas essas frustrações, o longa pinta Mitchell como o grande herói da vida da filha e ainda exime Blake da culpa de ser um canalha, dando a ele a oportunidade para dizer que Amy é um fardo em seu caminho. Nessa altura, parece que não há como errar mais, mas o final reserva um desfecho genérico e vazio, não retratando a recaída da cantora ao alcoolismo, nem mostrando sua morte.

Não fossem as músicas compondo a excelente trilha sonora, Back To Black seria vazio de tudo, e até para quem é apaixonado por biografias fica difícil defender uma história que não diz nada do biografado. Longe de se parecer com o excelente documentário Amy , de Asif Kapadia, a obra é uma tentativa falha de Mitchell em criar um filme legado da filha, no qual ele seja o mocinho, mas nessa tentativa ele cria a antítese da força que ela tinha.

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