Crítica The 8 Show | Série coloca lente de aumento na podridão humana
Paulinha Alves
Crítica The 8 Show | Série coloca lente de aumento na podridão humana

Lançada na última sexta-feira (17) pela Netflix , The 8 Show é uma série sul-coreana de drama e humor ácido escrita e dirigida por Han Jae-rim. Atualmente parte do top 10 da plataforma no Brasil, ela causou burburinho desde o lançamento de suas primeiras imagens, quando tanto sua história quanto seu visual chamaram atenção do público por lembrarem bastante Round 6 .

Baseada nas webtoons Money Game e Pie Game de Bae Jin-soo, a nova produção do streaming , no entanto, apenas se assemelha nessa primeira impressão com o fenômeno de 2021 , já que além de uma trama original e independente, ela consegue tecer críticas ao capitalismo e à sociedade moderna a sua própria maneira.

Para isso, ela se utiliza de um tipo de humor sádico que consegue ser incômodo em muitos momentos e aposta na violência para mostrar como a humanidade reage em situação extremas em que sua sordidez e podridão são colocadas em uma lente de aumento.

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Oito pessoas desesperadas por dinheiro

Feita com um orçamento de aproximadamente US$ 21 milhões e dividida em oito episódios, The 8 Show conta a história de oito pessoas endividadas que recebem um inusitado convite para participar de um jogo. Cientes apenas de que esse game “não requer nenhuma habilidade específica, apenas o tempo que iriam jogar fora”, elas aceitam a proposta, que inclui uma bolada em dinheiro que aumenta proporcionalmente ao seu tempo na disputa.

A dinâmica funciona da seguinte maneira: confinados em um prédio de oito andares com câmeras espalhadas por todos os ambientes, os participantes precisam gerar entretenimento para as pessoas que os estão assistindo. Quanto mais interessante for seu “show”, mais tempo de estadia eles acumulam no relógio central, o que significa que mais dinheiro irão ganhar.

Logo, no entanto, eles percebem que há diferenças entre os quartos em que foram alocados, já que os cômodos mais altos têm horas mais valiosas, enquanto os debaixo rendem menos dinheiro. Além disso, eles podem fazer pedidos especiais para seus observadores — como travesseiros, roupas, armas ou comidas —, mas se fizerem isso no quarto, eles têm o valor descontado do seu prêmio, enquanto se fizerem isso na área comum descontam das horas totais de sobrevivência conquistadas no jogo.

Assim, conforme avançam no desafio, os personagens percebem que fica cada vez mais difícil agradar a audiência e, consequentemente, conquistar mais tempo, apelando para todo tipo de abuso, violência, exploração, sofrimento e tortura como formas de "entretenimento".

Mistura entre humor, suspense e violência

Com um tom de comédia muito peculiar, que consegue ir do humor galhofa até o sádico, a série vai crescendo em tensão, chegando até a adotar visuais diferentes para as cenas de dentro e fora do prédio. Enquanto todas as tomadas que mostram os participantes antes do jogo são gravadas como se fossem um filme antigo, em formato 4:3, aquelas que mostram ele na competição são muito mais claras, visíveis e ocupam toda a tela.

A ideia é que fique clara essa distinção entre quem eles são fora dali e quem são quando estão no jogo, instigados pela ganância e pelo pior do que há em cada um de nós. Ou, como diria a jogadora nº 4, “neste lugar, eu não me considero humana. Sou apenas uma jogadora. Um ser humano deve se comportar humanamente, mas um jogador só precisa ter um bom desempenho”.

A violência da série também vai crescendo pouco a pouco, chegando a um nível de agressividade desmedida, que passa por espancamentos, unhas arrancadas, choques com taser e até tortura de privação de sono à la Laranja Mecânica . Os episódios 5 e 7 são especialmente incômodos e é preciso um preparo mental para aguentar seus quase 50 minutos de terror e brutalidade.

Apesar disso, vale ressaltar que The 8 Show também tem seus momentos delicados, como a cena em que os personagens se imaginam tomando uma sopa quente ou o jogador nº1 “sai voando” de palhaço pelo céu. Como forma de escapar daquele game assustador — que, logo eles percebem, não quer os deixar ir embora — é preciso algum tipo de escapismo, que às vezes acontece em forma de ilusão e às vezes em forma de desejo.

Uma crítica dura e contundente

Estranha, incômoda, mas inegavelmente interessante, The 8 Show é uma série que escancara e critica a sociedade doente que construímos, na qual a violência se tornou entretenimento e a pobreza é tratada como espetacularização.

Ao mesmo tempo em que nos faz questionar que tipo de pessoas construíram o game show mostrado na história e passaram a se divertir com o sofrimento alheio, a série também nos mostra até onde alguns indivíduos estão dispostos a ir por dinheiro e poder.

Não à toa, embora já nos primeiros dias de competição os participantes tivessem ganhado uma enorme quantia em dinheiro, eles sempre desejavam ficar mais, tentados pela possibilidade de conseguirem uma fortuna ainda maior caso se sujeitassem a algum outro tipo de humilhação.

A hierarquização dos quartos, inclusive, ajuda a tornar toda essa experiência ainda mais cruel, já que reproduz as próprias diferenças de classes que vemos aqui fora, onde quem está no topo comanda e dita as regras para os que estão embaixo.

Estrelada por Ryu Jun Yeol ( Believer ), Chun Woo-hee ( O Drama da Minha Vida ), Park Jeong-min ( Livrai-nos do Mal ), Lee Yul-eum ( Meu Primeiro Amor ), Park Hae-joon ( O Mundo dos Casados ), Lee Zoo-young ( Green Night ), Lua Jeong-hee ( Deranged ) e Bae Seong Woo ( Justiça Tardia ), a primeira temporada de The 8 Show está disponível na Netflix.

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