Review Senua’s Saga: Hellblade 2 | Uma sequência desnecessária e maravilhosa
Durval Ramos
Review Senua’s Saga: Hellblade 2 | Uma sequência desnecessária e maravilhosa

Desde o anúncio de Senua’s Saga: Hellblade 2 , eu era contra o jogo. Como alguém que é apaixonado pelo primeiro game, não via a necessidade de continuar uma história que se fechou tão bem. A jornada da guerreira celta tomada pelo luto e sua viagem ao inferno como uma alegoria para a condição da personagem é algo magistral e, por isso, eu temia tanto a continuação.

E eu estava certo, pois o novo título da Ninja Theory que chega ao Xbox Series X/S e PC realmente é desnecessário. Só que, ao mesmo tempo, entrega uma história interessante e envolvente que mantém o nível elevado e me faz querer ver mais e mais feitos dessa personagem tão complexa e multifacetada.

Pode parecer algo contraditório, mas Senua’s Saga dá tanta força para sua protagonista que enriquece uma história que não tinha razão de existir. E, ainda que o novo jogo perca um pouco da potência de seu antecessor e caminhe por algumas decisões questionáveis, é impossível não se impressionar com o que foi feito aqui e não se afeiçoar a esse novo momento da heroína.

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Uma jornada bastante familiar

Senua’s Saga: Hellblade 2 é um game muito parecido com o primeiro jogo da série, principalmente em termos de mecânicas e estrutura. Assim como em Senua’s Sacrifice , de 2017, ele é bastante linear e com um foco enorme na narrativa e na experiência cinematográfica.

Isso funciona bem com a nova ambientação. Depois de entender e até aceitar sua condição e o luto, Senua parte para a Islândia em busca de vingança contra os invasores que exterminaram sua vila. É uma mudança que abre espaço para essa grandiosidade, mas sem abrir mão dessa característica mais introspectiva do original.

O novo game é tão parecido com o primeiro Hellblade que até mesmo o sistema de combate meio mambembe retorna praticamente igual, com batalhas mais contidas e baseadas em defender na hora certa e aproveitar os contra-ataques, com pouco espaço para criatividade. Ainda cansativo, mas longe de atrapalhar.

E isso não é uma reclamação. Na verdade, eu fiquei aliviado que Hellblade 2 é tão duro e pesado quanto o game anterior. Doo anúncio aos poucos trailers lançados ao longo dos anos, o meu maior medo era que a Ninja Theory quisesse tornar o jogo uma resposta da Microsoft a God of War , criando um grande épico de proporções colossais que não condiz com o que conhecemos da série.

Ainda bem, ele não chega nem perto disso. Senua’s Saga é um game muito fiel às suas origens e focado naquilo que quer contar. Tanto que não tem medo de ser um jogo curto, com cerca de 7 horas de duração.

O problema aí está no modo como ele foi vendido pela Microsoft. Lembro de um dos primeiros trailers que trazia Senua com o rosto pintado, como se estivesse se preparando para ir à guerra, o que ajudou a criar a imagem do grande épico que eu temia que Hellblade 2 fosse. Pois essa cena dura pouco mais de 10 segundos no jogo e não condiz em nada com o que o game realmente é.

Para mim, o fato de Senua’s Saga ter sido vendido de forma equivocada foi um alívio, mas muita gente vai reclamar e com razão do marketing enganoso.

Uma nova Senua

É em termos de história que mais digo que Senua’s Saga: Hellblade 2 é uma expansão desnecessária, ainda que muito bem feita e interessante. Embora ninguém em sã consciência tenha pedido para ver a vingança da personagem, que bom que alguém se opôs ao bom senso e fez mesmo assim.

A ida de Senua para a Islândia para caçar os invasores que dizimaram seu povo é bem interessante, sobretudo ao dar um novo papel para a protagonista. Enquanto, no primeiro jogo, ela era uma vítima dos seus próprios demônios e toda sua jornada era a luta contra sua psicose, agora temos uma heroína que se destaca para além da sua condição.

É aqui que Hellblade 2 mais se difere de Senua’s Sacrifice . Ainda que, em linhas gerais, o roteiro seja inferior, é interessante ver essa evolução da personagem e como a trama sabe trabalhar sua figura como alguém rica e complexa apesar da sua psicose. Há um cuidado enorme para não fazer com que sua neurodivergência a defina e isso é muito legal de ver ao longo de todo o game.

Assim, enquanto o primeiro game seja essa jornada opressora pelo inferno de seu psicose, Senua’s Saga traz uma história bem mais esperançosa e até solar. Ao discutir o quanto nossas dores podem nos transformar em monstros, a protagonista se torna uma libertadora, alguém capaz de enxergar e tocar os outros para além da escuridão.

Da sua relação com outros personagens aos próprios gigantes que ela tem que encarar em sua passagem pela Islândia, tudo isso é muito bem trabalhado e que enriquece bem o discurso apresentado no primeiro jogo. Embora a gente não precisasse dessa história, que bom que ela existe.

O único porém é que Hellblade 2 perde muito da potência do original quando abre mão da ambiguidade para tornar as coisas mais literais.

Um dos elementos mais interessantes de Senua’s Sacrifice é a possibilidade de ver toda a jornada da personagem rumo ao Hel como uma alegoria para sua psicose e seu luto. Há espaço na trama tanto para que você entenda que ela encarou aqueles desafios de fato como alucinou ou mesmo que tudo é apenas uma metáfora para seu amadurecimento e sua aceitação.

Com Senua’s Saga , essa dubiedade não existe. A partir do momento que há outras pessoas lidando com gigantes e lutando com demônios mitológicos, aquela sutileza deliciosa se desfaz e só nos resta uma obviedade que não impacta e nem encanta.

Vale a pena jogar Senua’s Saga: Hellblade 2?

Eu era contra Senua’s Saga: Hellblade 2 por uma razão bastante clara: achava (e ainda acho) o primeiro jogo tão excepcional que considerava impossível a Ninja Theory repetir o mesmo feito uma segunda vez. E estava certo, pois Senua’s Sacrifice segue sendo incomparável, mas sua sequência faz um bom trabalho e consegue chegar perto sem decepcionar.

Meu maior receio era que a empolgação e delírios de grandeza fizessem com que o estúdio e a Microsoft levassem a série para outro lado, focando em elementos que não fazem sentido para a personagem, sua história e as questões que ela suscita. Felizmente, eu estava errado neste ponto e todos os pontos que me fizeram amar Hellblade estão presentes aqui.

Por isso mesmo, não acho ruim a linearidade exagerada, a falta de exploração ou mesmo o combate fuleiro. São preços que fico muito feliz em pagar para manter uma história de alto nível e com camadas que enriquecem a trama e diferem a franquia de outros tantos títulos de ação. Ainda que sem a potência de seu antecessor, Hellblade 2 é um game muito acima da média.

Com um visual incrível e usando mais uma vez um design de som excepcional que faz muito bom uso da tecnologia binaural para criar volume no áudio, o game é o espetáculo técnico que os fãs queriam ver. Só é uma pena que ele tenha sido tão mal vendido, o que pode decepcionar quem esperava algo mais épico e menos introspectivo.

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