Crânio mostra como egípcios tratavam câncer há 4 mil anos
Nathan Vieira
Crânio mostra como egípcios tratavam câncer há 4 mil anos

Em uma descoberta verdadeiramente curiosa, um novo relatório da Frontiers In Medicine revela como os antigos egípcios tratavam o câncer há mais de 4 mil anos. A descoberta acontece porque os arqueólogos identificaram câncer em dois cadáveres e perceberam marcas de cortes feitos como uma tentativa de remover os tumores.

Um dos crânios analisados (identificado no estudo como 236) data de 2.687 e 2.345 a.C., e conforme conseguiram decifrar os autores do estudo, pertenceram a um indivíduo do sexo masculino com idade entre 30 e 35 anos.

No crânio, a observação microscópica mostrou lesão com destruição excessiva de tecido, condição conhecida como neoplasia. Os pesquisadores também descrevem 30 lesões pequenas e redondas com metástase espalhadas por todo o crânio.

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Mas o que surpreendeu foi a descoberta de marcas de corte ao redor dessas lesões. A teoria dos arqueólogos é que provavelmente esses cortes foram feitos com um objeto pontiagudo, como um instrumento de metal.

"Parece que os antigos egípcios realizaram algum tipo de intervenção cirúrgica relacionada à presença de células cancerígenas, provando que a medicina egípcia antiga também conduzia tratamentos experimentais ou explorações médicas em relação ao câncer”, explica o co-autor Prof Albert Isidro, oncologista cirúrgico do o Hospital Universitário Sagrat Cor, especializado em Egiptologia.

A pesquisa também de desdobra através da observação de outro crânio, identificado como E270. Esse também mostra um tumor cancerígeno que levou à destruição óssea.

No crânio E270, há também duas cicatrizes de lesões traumáticas. Um deles parece ter se originado de um evento violento de curta distância com uso de arma afiada.

Como as lesões estão cicatrizadas, uma teoria é que o indivíduo recebeu potencialmente algum tipo de tratamento e, como resultado, sobreviveu.

Crânio feminino de 4 mil anos

Mas diferente do outro crânio, esse pertencia a uma mulher que tinha mais de 50 anos quando morreu entre 663 e 343 a.C.

Isso surpreende ainda mais os cientistas, porque ver um ferimento desses em uma mulher é incomum para aquela época. Os autores comentam que a maioria dos ferimentos relacionados à violência são encontrados em homens.

“Essa mulher estava envolvida em algum tipo de atividade de guerra? Se assim for, devemos repensar o papel das mulheres no passado e como elas participaram ativamente nos conflitos durante a antiguidade”, reflete Tatiana Tondini, da Universidade de Tübingen, também autora do estudo.

Câncer na antiguidade

Os pesquisadores reconhecem que a descoberta pode ajudar a mudar a perspectiva que se tem do câncer e de como as antigas civilizações lidavam com a doença , e abre portas para futuros estudos em um campo pouco estudado: a paleo-oncologia.

"O estudo dos cuidados médicos e da intervenção cirúrgica é um assunto complexo e desafiador em paleopatologia, especialmente nos períodos pré-históricos e históricos iniciais. A evidência de comportamento atencioso e práticas cirúrgicas ainda é uma fronteira científica desafiadora dentro da paleopatologia, e os casos aqui discutidos exemplificam esta fronteira na nossa compreensão das práticas médicas e de cuidados de saúde no antigo Egito", conclui o estudo.

Pelo que se tem conhecimento até então, o caso mais antigo de câncer em humanos aconteceu na África do Sul, há mais de 1,7 milhão de anos.

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